1 - Quem é e de onde
vem?
Chamo-me José, nome de que gosto muito. Sou jesuíta e padre.
Tenho 41 anos. Nasci numa aldeia do
Concelho de Porto de Mós, chamada Alqueidão da Serra, distrito de Leiria.
Tenho 6 irmãos, dos quais tenho 17 sobrinhos. A minha mãe faleceu há cinco
anos.
2 - Como é que a sua
família reagiu quando decidiu ser padre?
Senti sempre grande encorajamento e liberdade. Quando fui
ordenado padre, aí, senti da parte dos meus pais e restante família uma
especial alegria.
3 - Que fazia antes
de se tornar padre?
Antes de entrar na Companhia de Jesus, fiz um longo percurso
vocacional, numa outra congregação religiosa. Durante o tempo imediatamente
anterior à minha entrada no noviciado, fui professor em duas escolas secundárias
de Leiria.
4 - Porque decidiu seguir
esta vocação, porquê ordenar-se padre?
Desde criança que sinto uma presença muito forte de Deus na
minha vida. Talvez possa parecer estranho, mas essa confiança de infância
sempre foi muito importante na história da minha vocação. O caminho que me
levou a entrar na Companhia de Jesus não foi fácil nem linear. Num determinado
momento da minha vida, tinha 25 anos, fiz os exercícios espirituais de S. Inácio
e, então, tudo começou a brilhar com uma luz nova. O que andava á procura há
tanto tempo tornou-se, aí, muito claro. Há momentos assim: nas trevas da nossa vida brilha uma grande luz.
5 - Quais foram as
primeiras impressões que tirou da nossa cidade?
Tinha uma imagem muito vaga da Covilhã. Só tinha vindo cá
uma vez, há já bastantes anos, para a ordenação do P. Rafael, também jesuíta.
Agora, quando cá cheguei, a primeira imagem foi de uma mancha de casas agarrada
à encosta da serra. Gosto muito das escadinhas, dos becos, das casas em
granito. Também me agrada muito a vista sobre o vale. Entre o que me agrada
menos, estão as muitas casas abandonadas, alguma desordem e a falta de beleza
de alguma construção mais recente. Refiro este ponto, não como crítica, mas
porque acredito que a beleza dos lugares, da arquitectura, dos espaços comuns
pode ajudar-nos muito a sermos mais humanos.
6 - Como está a ser,
para si, esta experiência na nossa paróquia?
Está a ser muito boa. É bom ver o dinamismo da paróquia e,
ainda mais, testemunhar o caminho espiritual de tanta gente. Toca-me muito ver
como Deus, pacientemente, vai tocando cada um e como, no sofrimento de tantos,
reacende a esperança. O mais belo na minha vida, como padre, é testemunhar o
milagre do renascimento para a fé e para a vida. Este é o maior milagre ao qual
podemos assistir.
7 - Que mensagem
gostaria de deixar aos jovens da nossa paróquia?
Como em tantos outros lugares, noto que, também aqui, há, em
muitos, uma forte indiferença e indisposição para a fé. É como se esta lhes
tirasse alguma coisa ou, pelo menos, não lhes acrescentasse nada. Essa não é a
minha experiência. O apelo que sinto no Evangelho é um fortíssimo convite à
vida, à liberdade, à criação. Sempre que me deixo conduzir por Jesus, a minha inteligência
fica mais ágil e a minha sensibilidade mais fina; a minha imaginação fica mais
larga e os meus gestos mais graciosos. A fé, como gesto agradecido de
confiança, é a arte da vida. O Espírito Santo pode levar-nos aonde não
esperaríamos ir. Essa liberdade que vence todos os medos é extraordinária.
8 - Que tipos de sonhos tem para a Igreja, no
presente e no futuro?
Gostaria que a Igreja, com humildade e coragem, pudesse
ajudar outros a reconhecer e a apreciar o Evangelho como uma bênção que nos
confirma na vida e nos faz viver. Sonho uma Igreja tocada pela graça do Senhor,
capaz de tocar a humanidade de outros.
9 - Se tivesse uma
palavra para Jesus qual seria?
Dir-lhe-ia de joelhos, “meu Senhor e meu Deus”. E
pedir-lhe-ia para o conhecer mais intimamente, para mais o amar e o seguir.
10 – Finalmente, uma
mensagem Pascal para o mundo.
Que cada um, na sua experiência concreta de vida, possa
aprender a perder o medo e a deixar-se amar. Antes de mais, por Deus, “fonte da
qual brotam as águas; sol do qual brilham os raios”. É d’Ele que brota a vida
pela qual ansiamos.
Obrigado