quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

“UM MENINO NASCEU PARA NÓS, UM FILHO NOS FOI DADO”


O Deus – Menino, o Deus que aprende a falar e andar
Ficaríamos certamente menos surpreendidos, se, no seu Natal, Deus tivesse tomado o corpo de algum homem adulto, poderoso, dum senhor de prestígio…Mas não foi assim. Ele tomou a forma de Menino. Ele é o Deus que aprende a falar, apesar de ser o Verbo, Palavra do Pai. É Aquele que deve aprender a andar, mesmo que o Salmo 19, 1-7 diga que “Ele vai dum extremo ao outro do mundo”.
No Natal, se celebrássemos o Pai – Natal, que não é o nosso caso, estaríamos longe daquilo que é o essencial, aquilo que conta, a celebração do Deus - Menino, o Deus – Criança - figura da humanidade dependente, que é necessário alimentar, vestir, assistir em tudo…O Filho de Deus vem até nós como toda a gente. E até mesmo como o último dos últimos, pois não há lugar para Ele entre os humanos e também entra a humanidade recenseada pelo Imperador Augusto. Jesus nasce entre animais num estábulo, fora da cidade. “ Veio junto dos seus e os seus não receberam”. Junto dos seus! Junto dos judeus, junto de nós, junto de mim… Mas o Menino acolhe sempre com o seu sorriso de graça. Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor!

O Deus - Menino, o Deus que nos desconcerta
Em Deus - Menino, em Deus – Criança, em Deus – Bebé, ousamos dizer, aprendemos que Deus perde, por nós, todo o seu poder. N’Ele, recebemos a possibilidade de nos tornarmos “como Deus”, porque Deus se torna “como homem”. Vontade de semelhança e de unidade! Ele se desarma totalmente e se submete às escolhas da nossa liberdade. Ele faz-nos existir, dando-nos todo o poder sobre o mundo, sobre nós mesmos, sobre Ele mesmo: “Maria envolveu o seu Menino em paninhos e o colocou na manjedoura”. É por isso que, nos evangelhos, Jesus multiplica estas palavras: “ se tu queres”…; “aquele que quiser”… Ninguém é forçado a entrar na vontade de Deus. Sabemos apenas que uma criança obedece. Jesus obedeceu até à morte e morte de cruz. No berço, somos convidadas a ser criança, a esta entrega, obediente à vontade de Deus, por amor. Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor!
O Deus – Menino, o Presente Principal
O nascimento de Jesus foi um nascimento como os demais nascimentos. Não aconteceram milagres. Para não olharmos, de perto, o prodígio desconcertante do Verbo de Deus feito criança, nós enchemos o Natal de costumes que podem desviar a nossa atenção do essencial. Pela nossa casa dentro, pelas ruas da nossa cidade entra em cena o Pai - Natal, a árvore de Natal, o bom bacalhau, os presentes, os confeitos, o réveillon, as luzinhas…. Tudo isto é muito bom, porque nos recorda o Natal do Menino Jesus. Mas tudo isto só tem valor se nos ajudar a celebrar o essencial e se os nossos presentes não abafam ou colocam em último lugar o Presente Principal. E qual é o Presente Principal? “um Menino nasceu para nós, um filho nos foi dado” (Isaías); “nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador que ó Cristo Senhor” (Lucas). Ele é a vinda entre nós da “imagem de Deus - Invisível, primogénito de toda a criação”; Ele é a “ graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens” (Carta a Tito); Ele realiza as núpcias definitivas de Deus com a humanidade: “o Teu autor te desposará”, diz a Escritura. Com Cristo e em Cristo, somos, com Deus, uma só carne. Em Cristo, somos um só corpo. Com efeito, o corpo da criança do presépio carrega já a humanidade inteira (Santo Agostinho). Por isso, Lucas descreve o nascimento desta criança no contexto dum recenseamento de toda a humanidade; Cristo cidadão do mundo. Mateus faz vir ao presépio os habitantes de longe representados pelos Magos Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus!

LOUVAMOS O DEUS MENINO
Quando, não considerarmos qualquer pessoa como excluída ou marginalizada: “não havia, para Eles, lugar na hospedaria”;
Quando, formos capazes de O adorar com um coração de pobre como os pastores;
Quando, formos capazes de escapar ao ruído e bulício em que se converteu Natal para voltar a encontrar, no Presépio, o cumprimento das Promessas de Deus.
Oxalá que Maria, a Mãe do silêncio que guardava todas as coisas no coração, nos comova e nos desperte neste Natal. E que José, o homem justo, nos ensine também a virtude da fé de que ele foi exímio.
Oxalá que as nossas famílias saibam acolher, no seu seio, a Jesus que nunca falta com a sua Paz e alegria.
Apesar de estarmos num mundo meio adormecido, sintamos em nossos corações, uma ternura diáfana e profunda que nos leve a exultar de alegria. Que esta alegria não se confunda com as estridências deste dia de festa, mas que saibamos cantar com todo o coração, o cântico dos anjos: “glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade…”, esse hino que, cada vez mais, se torna menos perceptível no coração do nosso mundo, um mundo anestesiado, mas sedento de amor.
BOAS FESTAS!
P. José Augusto Alves de Sousa, SJ


sábado, 13 de dezembro de 2014

Ceia de Natal


3ºDOMINGO DO ADVENTO


REFLEXÃO SOBRE AS LEITURAS DO 3º DOMINGO DO ADVENTO ISAÍAS 61,1-2.10-11; LUC.1,46-54;1 TESSALONICENSES 5,16-24; JOÃO 1,6-8.19-28

A ALEGRIA FRUTO DUMA PROMESSA: FÉ SEM “VER”. Hoje, todas as leituras deste Domingo, e o Cântico de Maria (Magnificat) nos convidam à alegria, ao júbilo e à esperança. Paulo diz: “vivei sempre contentes. Orai sem cessar. Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é, a vosso respeito, a vontade de Deus em Jesus Cristo (1 Tes.5,16-18). O profeta Isaías também nos anuncia um tempo novo, de vida plena e de felicidade sem fim. João Baptista no Evangelho leva os interlocutores a conhecerem Jesus a quem o Pai enviou e nisto consiste a alegria de João e a nossa alegria pela vinda do esposo que vem realizar as núpcias com a sua esposa, a humanidade. É, por isso que este 3ºDomingo do Advento se chama, na Liturgia, o Domingo Gaudete, um Domingo de júbilo, de alegria. Alegria, evidentemente, porque se aproxima o Natal, o dia do Nascimento do Verbo de Deus. Este nascimento de Jesus traz-nos à memória, o dia do nosso nascimento para a graça, o dia do nosso Baptismo. Nasce Jesus Cristo, segundo a carne, como nos relata a Escritura e renascemos nós, segundo o Espírito Santo, para sermos filhos de Deus, filhos no Filho, isto é, filhos por graça de Deus, no Filho de Deus por natureza. E que motivo maior do que este para darmos acção de graças e para termos alegria e grande júbilo?! A alegria não vem mencionada no Evangelho que hoje proclamamos, mas ela não está longe do mesmo Evangelho de João, porque, em 3, 29, o Baptista declara que a sua alegria é perfeita pela vinda de Cristo ao mundo, o esposo a quem pertence a esposa, a humanidade. Uma alegria que é a certeza da vinda de Deus ao nosso mundo, alguém que ainda não chegou. Isaías não vê a libertação de seu povo senão de longe. Maria não é ainda Mãe, mas alegra-se, juntamente com a sua prima Isabel. A esperança faz habitar, desde já, em nós, a alegria que esperamos: a gravidez é gozosa por causa dum nascimento futuro e Maria, grávida de Jesus, sente o Menino estremecer de alegria no seu seio. Tudo o que ela vive está ainda em gestão, mas com o selo da promessa de Deus que é fiel. “Darás á luz um Filho”.Jesus vem visitar-nos e a perspectiva da sua vinda nos torna já felizes: já e ainda não, dirá S. Paulo, no seu fervor de amor a Cristo, a Jesus Cristo, meu Senhor como o Apóstolo gosta de expressar-se! Isaías, a própria Maria, Isabel, Paulo e nós, alegramo-nos com a sua vinda. Mas nada pode justificar esta alegria senão a fé ouvida e entendida pelo coração, uma palavra que é uma promessa. Fé sem”ver”. Nós viveremos desta fé sem ver até ao último dia da nossa vida. E é necessário que assimilemos isto, neste Natal. A proximidade de Deus feito Menino, num bercito de criança, a sua passagem pela Palestina, a Morte, Ressurreição e Ascensão aos Céus, as experiências místicas do nosso encontro com Ele na oração, são o alimento dessa nossa fé sem ver. Caminhamos, como se víssemos o invisível à imagem e semelhança dos crentes que no refere a Carta aos Hebreus no Capítulo 11: Pele fé, Abraão foi em demanda duma Terra, a Terra Prometida…Pela fé, Moisés tirou o Povo do Egipto e confiou que havia de passar com ele o Mar Vermelho, a pé enxuto, pelo poder de Deus…

TRÊS VEZES “NÃO”   , A HISTÓRIA DUMA VOZ E O “SIM” DE JOÃO: Um Profeta foi enviado por Deus chamado João. Ele veio para dar testemunho da luz para que, por meio dele, todos vissem a luz, ma a seguir, João faz uma precisão importante: ele não é a Luz, mas veio para dar testemunha da Luz. É impressionante a humildade e verdade de João pela resposta taxativa dada aos enviados dos sacerdotes e levitas que vêm de Jerusalém para lhe perguntarem se ele é Elias, o Profeta de fogo esperado como defensor da Majestade de Deus, se Ele é o Messias esperado. A isto, responde João, com toda a humildade e verdade: NÃO. Eu não sou a Luz, eu não sou Elias, Eu não sou o Messias esperado. Mas como ninguém pode viver apenas por negações, João também se define por um SIM. Eu sou uma VOZ que clama no deserto. Jesus, desde toda a eternidade, é uma presença escondida, interior a toda a humanidade, mas todas as palavras do passado (Elias, Isaías…) anunciavam e preparavam João e João anunciava e preparava Jesus: o próprio Jesus, no discurso da Ceia anunciava e preparava a vinda do Espírito Santo e a sua própria vinda como Cristo na glória. A Palavra circula, desde os começos da criação e não encontra descanso. Passa, mas em cada passagem, ela se enriquece com o que nós lhe retribuímos. Esta Palavra vem das origens. No princípio era o Verbo. E o Verbo era Deus e o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Quando João diz que é uma voz esta voz de João não é a sua voz, mas uma voz que vem desde o começos, a voz criadora e salvadora e a alegria de João é, através da sua voz, ouvir a voz do esposo (Jo.3,29) que vem celebrar as núpcias com a humanidade. Todo o nosso ministério na Igreja, todas as nossas palavras, toda a nossa catequese, todas as nossas homilias, são para que todos crêem na Palavra que nos pode salvar, Jesus Cristo. Não é em vão que na missa do dia de Natal se medita no Prólogo do Evangelho de S. João que nos narra a aventura dessa Palavra, do Verbo de Deus, até chegar a nós em Jesus Cristo.

ENTRE VÓS ESTÁ ALGUÉM QUE VÓS NÃO CONHECEIS: Sim. Não o reconhecemos à primeira vista, mas está João e os nossos irmãos na fé para no-lo darem a conhecer. Se temos fé, este intercâmbio é mútuo. Eu recebo Cristo na minha vida e dou a conhecer isto aos demais. É a corrente interminável de fé-testemunho. Cristo é sem cessar a encontrar, a reconhecer e a dar a conhecer e deste conhecimento nasce o amor. Ele veio, Ele vira e voltará sempre. Certamente que as nossas tristezas e alegrais não passam, mas, com Cristo na nossa vida, passamos a vivê-las doutra maneira. Também as nossas alegrias permanecerão as mesmas, mas vividas doutra maneira. PORQUE DEUS ESTÁ CONNOSCO. BOAS FESTAS DESTE NATAL.

P. José Augusto Alves de Sousa S.J

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A IMACULADA CONCEIÇÃO - PADROEIRA DE PORTUGAL


O DOGMA. O dogma da Imaculada Conceição data de 1854 no tempo do Pontificado de Pio IX. Este dogma não deve ser confundido com a concepção virginal de Jesus, conceito que remonta às Escrituras. Quando invocamos a Virgem Maria, como se diz no Concílio Vaticano II, é necessário que nos acautelemos de todo o exagero e também duma demasiada timidez para podermos dizer verdadeiramente qual a vocação  e missão de Maria. Este dogma é datado de 1854, mas a sua afirmação remonta ao século V. A Imaculada Conceição é a afirmação, segundo a qual, Maria nasceu preservada do pecado original por obra e graça de Deus. Quanto à sua conceição, nada tem de extraordinário : Maria nasceu da união normal dum homem e duma mulher. Pela tradição cristã, conhecemos os nomes de seus pais: S. Joaquim e Santa Ana.

 Esta afirmação, tornada Dogma, em 1854, impôs-se muito cedo, na Igreja e ela é praticamente afirmada muitos séculos antes. Entre nós portugueses, desde os primórdios da nossa nacionalidade, se venera a Imaculada Conceição. Lembremos, por exemplo, a sua devoção no Concelho de Vila Viçosa e a vinculação à realeza. O Concílio de Éfeso realizado em 431 punha a seguinte pergunta : pode dizer-se que Jesus é verdadeiramente Filho de Deus? É este homem ou este Deus que morreu na Cruz? O Concílio, afirmando que Jesus é Homem e Deus põe de maneira nova a questão de Maria. Esta recebe o título de Mãe de Deus, a « Theotokos » (portadora de Deus) que é também uma afirmação cristológica.  Por causa da afirmação de Maria como Mãe de Deus (Theotokos), o Povo de Éfeso,  numa das Praças desta cidade, manifestou, na altura, publicamnte, o seu contentamento. A partir desta data, o culto de Maria até então bastante restrito, espalhou-se por toda a cristandade. Maria começa a ser festejada no dia 15 de Agosto, tanto na Igreja do Oriente como na do Ocidente.

MARIA CONCEBIDA SEM PECADO? É, também, a parir de 431 que se põe a questão da virgindade e da santidade de Maria. Até esta data, os Padres da Igreja tinham diversas opiniões sobre o assunto. De um modo geral, diziam que Maria, como todo o ser humano contraiu o pecado original. Santo Agostinho, por exemplo, defensor intrépido da doutrina do pecado original contra os chamados Pelagianos, sustenta que Maria não pode escapar ao pecado original, mas ela tem sido santificada, muito cedo. Esta interpretação não satisfez ao Oriente cristão. Mas a partir de Éfeso, põe-se verdadeiramente o problema: Jesus poderia ser formado por alguém em contacto com o pecado? Em resposta, os católicos afirmaram, de acordo com os ortodoxos, que Maria desde os começos, não conheceu o pecado.
No Ocidente, aceitou-se a doutrina de S. Tomás de Aquino e S. Bernardo que consideram a santidade de Maria como inicial, mas não original. S. Boaventura propõe a concepção seguinte : Maria não escapou ao pecado original, mas ela foi preservada pela graça de Deus.
Este tese é a que foi comumente aceite e que se tornou dogma na definição dogmatica de 1854. O Concílio de Trento voltará à doutrina do pecado original, mas não se prenuncia sobre Maria. Os tempos modernos vão ver florescer o culto a Maria e a festa da Imaculada Conceiçao se veio a impôr no dia 8 de Dezembro. O dogma foi definido em 1854 e, em 1858, é Maria que, nas Aparições de Lourdes, diz a Santa Bernardette : Eu sou a Imaculada Conceição. Assim se confirmva pela mesma boca de Maria, a doutrina sobre a Imaculada Conceição.

A MENSAGEM : Onde se encontra a raiz profunda para podermos proclamar Maria como Imaculada Conceição? Encontramo-la certamente em cada um de nós. Quem não deseja, por mais fracos e pecadores que sejamos, uma humanidade perfeita? Pois, certamente que, em Maria, encontramos o melhor do nosso ser. Que nostalgia sentimos da beleza que a todos nos seduz. Pois em Maria encontramos a beleza, a aurora da manhã, sem sombra e sem nuvem. Por isso, revestimos a Imaculada Conceição de manto azul que, neste Advento, nos aponta a morada de Deus, o azul celeste.
Maria é o esplendor da beleza, porque saiu da Beleza Infinita e Incriada. E, da cor branca do seu manto, nascem todas as cores que irradiam ao Norte, ao Sul, ao Oriente e Ocidente, iluminando todos os povos. Essa luz irradia doçura, bondade, obediência, sabedoria, acolhimento! Maria é forte em todos os momentos da sua vida. Ela é a vitoriosa do mal simbolizado na serpente, descrita na leitura que ouvimos do livro do Génesis. Esta vitória de Maria, criatura como nós,  diz-nos que, também nós, podemos vencer o mal e trabalhar por um mundo reconciliado, sem desequilíbrios e discordâncias, sem imperfeição nem corrupção : « Tu és formosa,  ó Maria! Em ti defeito não há ; criatura assim perfeita; Deus não fez; Deus não fará!..

« Senhora, de brancura imaculada,
Formosa estrela, rútilo Oriente ;
Em teu rosto, fulgor do Sol Nascente
Pois de Deus és divina madrugada!
            O teu olhar, fulgor da madrugada,
            De Paz e amor enche meu coração,
 E com fervor, Maria Imaculada,
 eis-me a cantar a tua Conceição. »


                                                           Padre José Augusto Alves de Sousa, S.J.

domingo, 7 de dezembro de 2014

2º DOMINGO DO ADVENTO


REFLEXÃO SOBRE OS TEXTOS: IS.40,1-5.9-11, 2PED.3,8-14, MC.1,1-8

O Advento é, para nós, cristãos, um tempo forte, durante o qual, não somente em particular, mas em comunidade, se espera o Senhor na fé e não na visão, como diz S. Paulo na Segunda Carta aos Coríntios 4,18. Esperamos o Reino, convictos de que, caminhando na Fé, ele está ao nosso alcance. Não experimentamos ainda a salvação como uma vida que não é mais ameaçada pela morte, pela doença, pelas lágrimas, pelo pecado... Há a salvação trazida por Cristo que nós conhecemos na remissão dos nossos pecados, mas a salvação plena, a salvação de todos os homens e de todo o universo ainda não chegou à plenitude, e por isso, o Advento será sempre a espera do “dia do Senhor” como pensavam os Judeus, o “dia da libertação”, o “dia do Messias”. O Advento leva-nos a esperar o Senhor no fim dos tempos. Nestes dias do Advento, não nos comportemos como se Deus fosse alguém que está para trás de nós, como se nós não encontrássemos Deus senão no Menino de Belém. Mas perguntemos, mais uma vez, neste Advento: Sabemos buscar a Deus no nosso presente e futuro, como sentinelas impacientes que vislumbram, na aurora, o Sol nascente, sentindo na coração a urgência da sua vinda? Deixamo-nos interpelar pelo grito do Padre Theilhard de Chardin: Cristãos, continuamos empenhados em alimentar sempre viva na terra, a chama, sempre vivo o desejo da vinda de Deus às nossas vidas?
OS DOIS ARAUTOS DO ADVENTO:    ISAÍAS E JOÃO BAPTISTA: A primeira leitura e o Evangelho utilizam a imagem duma estrada que evoca a longa marcha de Israel em direcção à Terra Prometida, ao repouso de Deus. Para o Senhor que nos ama nada é impossível. E Deus quer assim incutir esta confiança aos exilados da Babilónia destroçados por se verem privados da sua terra e, sobretudo, do seu Templo, onde ofereciam os sacrifícios e os holocaustos e onde dirigiam as suas orações a Deus. O Profeta que traz esta Boa Notícia, o PRIMEIRO ARAUTO do Advento é o PROFETA ISAÍAS que grita aos exilados de Babilónia: “abri na estepe um caminho para o nosso Deus” e o oráculo deste arauto começa com as palavras de Deus.”Consolai, consolai o meu povo”. Em todos os que sofreram, durante anos, o jugo da escravidão, a humilhação e o exílio, desponta um raio de esperança, neste anúncio do regresso à Terra de Israel. Esta voz é a voz de Deus que se identifica com o seu povo, porque, com ele, viveu também o exílio e, agora, se propõe Ele mesmo ir á frente da caravana a cominho da Terra Prometida. É esta, também, a imagem de confiança que se nos oferece a nós, na caminhada para a terra da salvação na confiança de que venceremos todos os obstáculos porque Deus está connosco, Temos que abrir uma clareira no deserto e rasgar uma estrada nas nossas vidas, uma estrada para Deus. Regressa a esperança e o povo se recordará sempre qual é a sua vocação, a fé como resposta à fidelidade de Deus que nunca o abandona. No Evangelho de S. Marcos, encontramos o SEGUNDO ARAUTO do Advento, João Baptista que, como o antigo arauto, também ele diz: “preparai os caminhos do Senhor e endireitai as suas veredas”. Mas o segundo arauto chama á conversão, isto é, à mudança de mentalidade e de costumes. Não basta nesta conversão dar um salto quantitativo, fazer esta ou aquele penitência, muito válida se feita com alegria interior, pois torna a vida uma verdadeira e nova criação da pessoa. Este segundo arauto chega a dizer que devemos fazer uma declaração pública dos nossos erros para nos reformarmos a nós mesmos e concorrermos, deste modo, para uma sociedade mais justa e fraterna. Não podemos ficar em palavras ou em boas intenções, mas operar uma reviravolta na nossa vida para podermos também operar uma reviravolta na sociedade. Este segundo arauto lembra-nos a nossa vocação e desperta-nos para estarmos vigilantes como dizíamos no primeiro domingo do Advento. E, em terceiro lugar, este arauto aviva a renovação da memória, lembrando o nosso baptismo na água e no Espírito. Foi assim que um dia o povo com Josué, atravessando o Jordão chegou à terra prometida. É para aí que caminhamos neste Natal e o segundo arauto não deixa de apontar esse personagem. Depois de João, há-de vir Outro. João é uma voz que clama no deserto, mas não a Palavra. Ele nem sequer é digno de lhe desatar as sandálias. E o seu baptismo será um baptismo no Espírito, o baptismo definitivo e purificador, porque sobre o baptizado descerá o vento Santo, sopro de Vida, o Espírito Santo.
A MONTANHA A NIVELAR, CONDIÇÃO PARA ACOLHERMOS A MENSAGEM DE ISAÍAS E JOÃO BAPTISTA: Quantas dificuldades temos para nivelar um pedaço de terra e nela plantar os nossos haveres. Hoje, tudo é mais fácil com os tractores e outros instrumentos agrícolas. A montanha de que fala Isaías é símbolo das nossas dificuldades que julgamos, às vezes, intransponíveis. A Bíblia fala muitas vezes do orgulho, símbolo dos montes elevados que desafiam as empresas dos homens e dos lugares altos onde os homens celebram os seus cultos e se entregam a devaneios idolátricos. As ravinas a preencher têm algo a ver com os nossos túmulos, com o vazio dos nossos túmulos, isto é, das dificuldades em que nos atolamos sem esperança de saída. São os naufrágios que cavamos! Com a vinda de Cristo, o homem renasce e a Escritura anuncia-nos o último inimigo a abater, a morte (1Cor,15,26). A conversão que nos é exigida é a conversão à vida. Mesmo que a terceira leitura, nos fale de reconhecer os nossos pecados, não pensemos numa conversão moral, porque esta não é senão a consequência da nossa volta à vida. E aquilo a que chamamos pecado, não se define, em primeiro lugar, como uma contravenção a uma lei, mas como aliança com a morte. Deus ao vir a nós em Jesus Cristo neste Natal não nos trará outra coisa senão a vida!..
CONCLUINDO. Fixemo-nos nas ravinas cheias e nas montanhas niveladas da primeira leitura. Isto é uma imagem da nossa conversão. Não deixemos neste Natal que se aproxima de encher os vales profundos nas nossas vidas caracterizados pelas separações tão dolorosas que apagam todos os nossos sorrisos e nos impossibilitam de apertos de mão pela distância que cavamos.

A liturgia de hoje nos convida à esperança, a crer que, no meio das dificuldades da vida, das perseguições que sofrem os cristãos e que no meio das realidades mais duras, é possível um futuro melhor, porque o Senhor é fiel para com aqueles que «assumem” os valores da verdade, da justiça, da fraternidade. Todas estas esperanças a que nos convidam as leituras de hoje, as lemos com Jesus, sobretudo neste tempo de espera alegra do Natal. Espera de um novo mundo, uma utopia certamente, mas a utopia vivida em Deus que gera uma esperança sempre jovem e mais bela. Que esta esperança não se apague no meio da crise, das dificuldades do dia-a-dia para podermos levar uma vida digna e fiel. Isto é Natal, isto é Jesus Cristo no meio de nós. E não é Ele o EMANUEL?

       Padre José Augusto Alves de Sousa S.J.


Presépio de Machado de Castro na Basílica da Estrela - Lisboa


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

São Francisco Xavier



Então Jesus, chamando a Si os discípulos, disse-lhes: «Tenho pena desta multidão, porque há três dias que estão comigo e não têm que comer. Mas não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam no caminho».
Disseram-Lhe os discípulos: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Eles responderam-Lhe: «Sete, e alguns peixes pequenos». Jesus ordenou então às pessoas que se sentassem no chão. Depois tomou os sete pães e os peixes e, dando graças, partiu-os e foi-os entregando aos dis­cípulos e os discípulos distribuíram-nos pela multidão. Todos comeram até ficarem saciados. E com os pedaços que sobraram encheram sete cestos. (Mt 15, 32-37)

REFLEXÃO
Este milagre consiste em partilhar fraternalmente alguns pães que, confiados ao poder de Deus, não só são suficientes para todos, como inclusivamente sobram. O Senhor convida os discípulos para que sejam eles a distribuírem o pão pela multidão. Desta forma, instrui-os e prepara-os para a futura missão apostólica: deverão levar a todos o alimento da Palavra de vida, o do Sacramento. Cristo está atento à necessidade material, mas quer dar algo mais. É a compaixão de Deus por cada um de nós, mas também a im­portância do serviço da caridade para com o próximo.

PROPOSTA DE ORAÇÃO PARTILHADA
Jesus, ensina-me a multiplicar o Teu amor, como o fez São Fran­cisco Xavier. Para que este milagre aconteça, necessito simples­mente de Te oferecer o que eu tenho, o que eu sou, nada mais… nada menos… Tu multiplicarás estes poucos, ou muitos, dons para o bem de todos. Com humildade, ofereço-Te os meus talentos, consciente de que os recebi para os entregar aos demais. Peço--Te que abras o meu coração à compaixão pelo próximo e ao compartir fraternal.

domingo, 30 de novembro de 2014

O Advento e a Alegria


PERMANECER EM VIGILÂNCIA. “Vigiar” é a palavra-chave do Evangelho de hoje, o primeiro Domingo do Advento.
É utilizada com uma insistência quase excessiva: “Acautelai-vos e vigiai”; mandou ao porteiro que “vigiasse”, vigiai”, portanto; digo-vos a todos: “vigiai”. Entre a primeira e a segunda vinda, há um tempo intermediário. Esse tempo é o hoje em que vivemos. Cada dia, o Senhor vem, se nós o acolhemos. E é, por isso, que o primeiro Domingo do Advento é colocado sob o sinal da Vigilância. São Marcos (13, 33-37), diz –nos que o dono da casa partiu, mas em realidade Ele está sempre na nossa vida e no trabalho que nos confiou para pormos os seus talentos a render. É pela fé e não pela visão que descortinamos esta presença contínua e que compreendemos a sua vontade que não é arbitrária, mas confunde-se com a necessidade de que sejamos plenamente humanos para existirmos em verdade e na alegria. Esta construção da nossa existência em verdade é habitada por uma alegria inolvidável: a alegria duma esperança, da certeza da nossa realização plena sempre a construir para que seja uma entrega plena ao Deus das nossas vidas. Por isso, os textos propostos para o Advento, para além de nos exortarem à vigilância, estão também cheios dum apelo à alegria. O Advento é menos um tempo de “penitência”, certamente necessária, mas é, sobretudo, abertura e acolhimento d’Aquele que vem. Não nos encerremos na labuta do quotidiano, mas deixemo-nos invadir por uma esperança gozosa que não podemos captar senão pela fé. Fé na Boa Nova da Vinda de Deus a cada um de nós. Esta alegria não se confunda com uma exultação exuberante. O fruto desta alegria  chama-se “paz”: apaziguamento dos nossos conflitos interiores, superação dos nossos medos, das nossas ansiedades e também das nossas hostilidades. Meditemos na nossa condição de filhos, porque vamos celebrar o nascimento do Filho de Deus e o nosso renascimento. Estamos sempre a caminho, em direcção à plenitude e, de ano a ano, Natal é presença d’Aquele que esperamos e é sempre um convite a um renascimento que nos conduzirá a essa plenitude. Natal é todos os dias, a cada instante e, portanto, sempre novo.

NATAL: POR ENTRE A ESCURIDÃO DA NOITE, COM AS LÂMPADAS ACESAS. É significativo o facto que o Senhor avise que chega durante a noite. Ele vem quando o mundo está em escuridão. E por isso devemos ter as nossas lâmpadas sempre acesas. A mensagem é muito clara e não nos resta alternativa. É preciso estarmos atentos, prontos para toda a eventualidade, preparados para recebermos a visita de Deus. Deus não vem de surpresa, mas vem sempre quando menos se espera. E, por isso, devemos ser como pessoas que vigiam, que esperam. Esta espera não pode ser passiva da nossa parte. Somos chamados a equiparmo-nos para o trabalho, para toda a espécie de boa obra (Paulo), para o serviço aos outros, e a construir com as nossas próprias mãos. Aquele que se entrega ao serviço dos irmãos compreende esta bem-aventurança do Evangelho: “feliz o servo que o Senhor, quando vier encontrar vigilante”. E pensemos: colocar-se ao serviço dos irmãos é celebrar Natal. Assim o façamos, nas Conferências de S. Vicente de Paulo, no Banco Alimentar, nas C.V.X., nas Equipas de Nossa Senhora, na Caritas, na Legião de Maria, no Natal dos Hospitais, nas Misericórdias e noutros Movimentos de cariz social, os existentes ou não nas nossas Paróquias…
Entremos com este espírito no Advento para celebrarmos, na alegria e na Paz, o Natal de 2014!.. 
   P. José Augusto Alves de Sousa sj                           


domingo, 23 de novembro de 2014

FESTA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO,


Ao celebrar a festa conclusiva do Ano Litúrgico com a afirmação da Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, partilho convosco um título que sempre gostei para meu uso pessoal, repondo um título que há muitos anos me chamou a atenção e me confortou:


JESUS CRISTO – CENTRO  dos CORAÇÕES.

Através da estátua do Cristo Rei, tanto no Rio de Janeiro, (então cidade+capital dos Estados Unidos do Brasil,) como de Almada…Lisboa, …Covilhã, e … todo o nosso país, - gosto de ‘sentir’ a presença+olhar de Cristo; olhar+abraço.
Dei-me conta interiormente da novidade destas “estátuas” de Cristo Rei – (a de Lisboa poderíamos dizer que além de homónima e “gémea inspirada” na do Rio de Janeiro:  NÃO TÊM COROA  - E a de Lisboa … tem cá fora o Coração.
Os escultores inovaram por deficiência ou propositadamente ?
Talvez quisessem afirmar mais o olhar+abraço de Cristo do que o seu Senhorio, o Domínio, Realeza ou Poder.
Isto foi o que mais me atraíu e ainda hoje me atrai e espero que me atraia sempre.

Não tem coroa de reinado, ou império, acentuando mais fortemente o abraço que nos acolhe ou recolhe cada dia (- quer olhemos quer andemos ocupados e… sem visão.)
Tenhamos, no entanto, esta certeza psíquico-espiritual: o Seu olhar+abraço acompanha-nos, desde o início das nossas vidas, mais com Amor do que em leitura condenatória de Juiz…
Ele tem autoridade, como Fonte de Vida e de Imortalidade; mas tem mais afecto e compreensão, porque nos conhece como irmãos (Mt.12,46-50;
aceitou viver+partilhar tudo connosco – excepto o pecado (Heb 4, 15; )

Ele é Fonte de Inspiração para a toda a actividade humana – mesmo aquela que deveria significar mais serviço do que domínio, senhorio, lucro ou vantagem.
Na manhã de Sexta-feira Santa, Jesus respondeu a Pilatos: ”Não terias poder algum se te não fosse dado do alto”. (Jo 19,10-11)
Assim deixou que cada ser humano se sentisse actor e desfazedor dos ídolos do poder:
Também o povo=a soldadesca, manifestou a sua profunda repulsa pelos poderes ao vesti-Lo com um manto sujo, pôr-lhe uma cana na mão e uma coroa de espinhos na cabeça. Ajoelharam-se… desrespeitando-O mil vezes.
E a resposta foi: não abandonar até final este símbolo (coroa).
Acrescentou uma leitura profunda ao título da sua condenação. Esse título jurídico de condenação e inglória tornou-se num título de Glória Eterna e Verdade para o povo – Jesus Nazareno Rei dos Judeus. (Jo 19,19-22)
Porquê ?
- Como Filho de Deus, sabe com que Amor Deus Pai criou o mundo e nos criou;
- Como Homem, viveu e sentiu até ao extremo o exercício=resultado do poder sobre Si;

Se o Amor, sem pieguices ou limitações, é a Plenitude e o topo máximo do altar humano, então Ele é, e ficou para sempre, como (… o Amigo e Mestre – CENTRO dos CORAÇÕES.
Durante esta semana procuremos+deixemos que Ele seja Rei,
mas sobretudo o CENTRO dos nossos Corações.


NB. - Aos montes ou colinas já de si naturais, acrescentaram os artistas um trono nosso.

Talvez para Cristo Rei ver e nós vermos com Ele, como são lindas as nossas cidades+capitais e os nossos países. E os países de todo o mundo.
Mas além de lindas, são também “pequeninas” na sua função e autoridade de “capital”…
Mas são importantes para o coração de Jesus ver como nela vivem os irmãos e os amigos de Jesus (“ Não vos chamo servos, mas amigos porque tudo quanto ouvi de Meu Pai vo-lo dei a conhecer.”  Jo. 15,15)
O Cristo-Rei (de Almada, de Lisboa, do Pragal, do nosso País…, da Covilhã…) não tem Cruz como no Calvário, não tem Título como na Cruz de Jerusalém, tem roupagem diferente, não igual à da Cruz… Tudo isto porquê ?

Meditemos e encontremos as nossas respostas.

Padre Henrique Rios, sj


sábado, 15 de novembro de 2014

33ºDOMINGO COMUM ANO – A


A PARÁBOLA DOS TALENTOS (Mt. 25, 14-3O) que nos conta a história do Mestre que se ausenta aparece, muitas vezes, nos Evangelhos. Vimos esta ausência na Parábola dos Vinhateiros homicidas que meditámos, uns Domingos atrás, na Parábola das Dez Virgens que era o tema da meditação do Domingo passado e, hoje, na nesta Parábola dos Talentos que acabamos de ouvir. Todas estas Parábolas têm um denominador comum: trata-se dum senhor que se ausenta e que, tempos mais tarde, vem para colher os frutos…A Parábola dos Talentos contem uma lição cheia de modernidade. O “terceiro servo” é condenado sem ter cometido qualquer acção má. O seu único erro consiste “em não fazer nada”: não arrisca o seu talento, não o faz frutificar e o conserva intacto, num lugar segura (J.A.Pagola).

EXTREMA CONFIANÇA DE DEUS: A CRIAÇÃO ENTREGUE NAS NOSSAS MÃOS: A ausência de Deus, deixando o homem entregue à sua liberdade faz pensar numa grande interrogação que já vem desde o Antigo Testamento: Que faz Deus? Dorme? Está surdo? Onde está o teu Deus, perguntam os descrentes, os sem Deus, ao homem bíblico e a mim que me encontro desamparado (Salmo 42 e 11)? Onde estava Deus, durante o Tufão que se abateu sobre as Filipinas, há uns tempos atrás, causando milhares de mortos, perguntavam-se os habitantes das ilhas afectadas e nós, juntamente com eles? Onde está Deus nas grandes epidemias que dizimam vidas? Uma pergunta que se coloca a propósito das grandes catástrofes e até genocídios. Jesus não insistiria tanto sobre a ausência do Mestre, se a nossa crença espontânea não tivesse a tendência de ver em Deus o autor de tudo o que passa debaixo sol: Inconscientemente ou conscientemente dizemos: pois é, Deus enviou-lhe esta doença, esta prova. Coitado!..Ora o Mestre da Parábola dos Talentos ausenta-se. O Criador ausenta-se, entra no repouso do Sétimo Dia e entrega a criação nas nossas mãos, confiando-a à nossa liberdade para que a possamos gerir e dominar. Concluímos, Deus não quer o nosso mal. Ele não só está inocente sobre aquilo que nos acontece, mas é inimigo das nossas desgraças como o revelam os actos de Cristo. Deus não quer as catástrofes, mas os acontecimentos que se sucedem convidam-nos à reflexão. Santo Inácio dizia: “entrega-te à acção (livremente, vigorosamente) como se Deus fizesse tudo e tu nada. Agradece a Deus como se tu tivesses feito tudo e Ele nada”. Nós temos por isso de agradecer a Deus, porque nos fez à sua imagem, criadores. Os talentos vêm do Mestre, de Deus, mas a nós pertence encarregar-nos deles e de tomarmos conta de tudo aquilo que a vida nos oferece, nos propõe e nos impõe. E o que sucedeu e sucede com aqueles a quem Deus confia os Talentos para os gerir?

A NÓS A GERÊNCIA E O FAZER FRUTIFICAR OS TALENTOS: A primeira coisa que temos de dizer é que Deus apenas nos confia os talentos, mas não nos diz o modo como os vamos pôr a render. Isso depende da nossa imaginação, do nosso trabalho. O que devem fazer os servos da Parábola é puxar pela cabeça e empregar todo o seu engenho e esforça. O Decálogo (as Dez Palavras) manda-nos que amemos a Deus e ao próximo, mas não nos diz o modo de fazê-lo. Enumeram-se simplesmente as condutas que balizam o caminho: “não mataras, não cometas adultério...” Se saímos delas, escorregamos e faltamos ao amor. O amor não se comanda. Não vem do exterior, mas sai de dentro de nós mesmos. O terceiro servo não é censurado pelo que fez mas pelo que deixou de fazer. Pecado de omissão. Não digamos: eu não mato nem roubo, nem vejo o meu pecado, porque Jesus no Capítulo 25 de S. Mateus diz-nos: “Eu tive fome e não me deste de comer…” O valor das nossas vidas mede-se sobretudo pelo bem que omitimos ou deixamos de fazer. O rico avarento é condenado não porque faz boas refeições, mas porque não olha nem sequer para Lázaro que jaz à sua porta (Lc.16, 19-31) Concluindo: O Senhor não nos diz como amar, mas dá-nos um coração para amar. Deus está ausente enquanto causa de tudo aquilo que acontece mas ele está presente nas nossas decisões e nas nossas acções. Está activo na energia e inteligência que os servos gastam para colocar a render os talentos. Mas não está presente na inércia daquele que enterrou o talento na terra, imagem da sepultura e da morte. Quem não trabuca não manduca e apressa a sua morte cavando a sua sepultura. Ao contrário os dois primeiros servos entraram para a sala do banquete, na alegria do seu Senhor.

UMA AUSÊNCIA-PRESENÇA: De certa maneira, o Mestre ausentou-se, mas, em realidade, Ele está presente e nós é que temos o poder de cortar com Ele e, então, ficamos abandonados à nossa sorte e tornamo-nos ramos secos como nos explica Jesus no Evangelho de S. João15.1-8. Nós fazemos frutificar os talentos na medida em que permanecemos n’Ele e Ele permanece em nós. Tudo o que fazemos de bom, é obra de Aliança, de matrimónio entre a liberdade do homem e a liberdade de Deus. A nossa parábola dos talentos põe o acento do lado da liberdade do homem, mas mesmo assim é o Mestre que nos confia os talentos, esperando a volta de Cristo. Daqui até lá, não fazemos senão um com o Pai e o Filho no Espírito (Marcel Domergue)

DEUS E O TERCEIRO SERVO; QUEM É O NOSSO DEUS? É lastimosa e até perversa a imagem que o terceiro servo, nos faz de Deus. Chega a chamar preguiçoso a Deus, pois diz: “Eu sabia que tu és um homem severo que colhes onde não semeaste, tive medo e enterrei o teu talento”. Para ele, Deus é preguiçoso, pois colhe onde não semeou. Que acusação!.. Nesta mesma tentação, caíram Adão e Eva que se deixaram levar pela voz do tentador: Deus é mentiroso, diz o demónio, porque Ele vos disse: se comeis deste fruto morrereis. Ora isto não é verdade. Pelo contrário: se comeis do fruto, vós vos vereis como Deus e Deus não quer isso, porque Ele é invejoso e avaro da sua natureza, dos seus bens e não os quer comunicar a ninguém Esta tese do tentador é completamente contrária à conduta de Cristo em Filipenses 2 (Ele que era de condição divina não fez valer ciosamente a sua condição de ser como Deus”). Eis aí, o inimigo do Homem que é inimigo da Vida. É a tentação de Prometeu, o deus grego, que quis roubar o fogo a Deus para ser como Deus. Traduzindo isto do Génesis em palavras mais compreensíveis, dizemos: temos também nós a tentação de ver a Deus como um senhor exigente, um vigilante cioso do seu dever, uma espécie de câmara de vigilância que nos surpreende nos mínimos actos, um juiz severo? Por graça do mesmo Deus, não vemos assim o nosso Deus, pois isso seria desconfiar d’Ele e a desconfiança é completamente contrária à fé.

PERGUNTAS: Que faço dos tesouros do reino que o senhor me encomendou? Como vivo o meu Baptismo, o meu Matrimónio? Como aprofundo a minha fé e a minha confiança em Deus? Como ponho a render a meu favor, a favor da minha família e dos outros, estes talentos que o Senhor me confiou? Como participo na missão de divulgar o Evangelho da alegria? Será válida a acusação que fazem aos cristãos, quando se diz que passam a vida a olhar o céu, esquecendo-se da terra? Como leio o Evangelho de Mateus Capítulo 25? Contento-me com presumir que conheço o Mestre (também o terceiro servo dizia que o conhecia, embora muito mal) e, depois, nada fazer para pôr a render o capital que me confiou?

CONCLUINDO: Feliz o servo fiel. Temos que prestar contas daquilo que nos foi confiado e é isso que constitui a nossa grandeza. Deus toma-nos de tal modo a sério que Ele nos torna responsáveis pela gerência dos seus bens. A todos pede para lhe darmos contas, mas Ele não pede a cada um a mesma coisa. Pede somente em função daquilo que a pessoa recebeu e que humildemente lhe pode oferecer. Não tenhamos medo de oferecer a Deus os frutos magros dos pequenos arbustos que somos, porque o que Deus nos pede é acreditar no amor que nos dá a nossa fecundidade. Uma atitude de medo como foi a do terceiro servo, não deve ser a nossa, mas sim um sentimento de confiança e abandono. É ISTO A FÉ!..

Bibliografia consultada: José António Pagola: BUENAS NOTICIAS e Marcel Domergue: DECOUVRIR LA PAROLE DE DIEU

P. José Augusto Alves de Sousa


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

SEMANA DOS SEMINÁRIOS - ORAÇÃO


Até ao dia 16 novembro, celebra-se em Portugal a Semana dos Seminários, este ano com o tema “Servidores da Alegria do Evangelho”.

Aqui fica uma oração que todos podemos ainda rezar durante estes dias.


Fonte: padrehugo.com

ACOLHER E COMUNICAR A ALEGRIA DO EVANGELHO


“É a marca de quem permanece no amor de Deus”
Uma catequese vocacional para a infância
«… a alegria do Evangelho não é uma alegria qualquer!
Tem a sua razão de ser no «saber que se é acolhido e amado por Deus»

Papa Francisco, 15 de Dezembro de 2013

Semana dos Seminários



Celebramos de 9 a 16 de novembro, a semana dos seminários.

Nela somos chamados a mergulhar, rezar e partilhar com os seminários.

D. Manuel Felício, traça o perfil de padre que deseja sejam : "testemunhas e anunciadores da alegria do Evangelho".


Partilha da sua nota pastoral em  Semana Seminários_nota_bispo_guarda

domingo, 9 de novembro de 2014

DEDICAÇÃO DA IGREJA DE S.JOÃO DE LATRÃO - 32º DOMINGO COMUM ANO A


A HISTÓRIA E A TRADIÇÃO: Em todos os Domingos do Ano litúrgico, celebramos Cristo vivo no meio de nós que se nos dá na Palavra e no Pão. Ora, eis que hoje a Liturgia nos convida a celebrar a festa duma das quatro grandes Basílicas de Roma, a de S. João de Latrão, cuja festa da Sua dedicação a Igreja celebra. A dedicação duma Igreja é a consagração dum edifício a Deus.  
COMPREENSÃO DOS SÍMBOLOS: Nós, os cristãos, vivemos, fazendo memória dos acontecimentos do passado, mas o passado conta, quando nos projecta para o futuro. Esta celebração da Igreja de S. João de Latrão serve para nos lembrar o tempo em que a Igreja saiu da sombra das catacumbas e veio à luz do dia, sujeita como estava anos e anos perseguida, durante o Império Romano. Foi no tempo do Imperador Constantino que isto aconteceu. Ao celebrar a festa duma Igreja, como hoje a desta Igreja de S. João de Latrão, a Igreja quer recordar-nos que, através dum edifício, celebramos a própria Igreja, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo. Mais concretamente, a Igreja de Deus que a Basílica de Latrão simboliza e representa é, hoje, no meio do mundo, a morada de Deus, um testemunho vivo da presença de Deus na caminhada histórica dos homens.

O TEMPLO DO RESSUSCITADO: Na passagem do Evangelho de hoje, João 2,13-22, vemos que Jesus pegou num chicote de cordas e expulsou os vendilhões do Templo. Muitos de nós desejaríamos que hoje Jesus fizesse o mesmo: limpar todos aqueles e aquelas que dentro e fora da Igreja se entregam a explorar os mais frágeis, a servir unicamente os seus interesses e à prática da corrupção. Mas, fixemo-nos na frase onde passa a mensagem e vejamos o que Jesus nos quer dizer realmente: “Destruí este Templo em três dias e eu o levantarei”. Bem sabemos que ao dizer estas palavras, o povo as entenderia mal, porque significavam um voltar-se contra o Templo e soavam, portanto, a blasfémia diante daqueles que veneravam o Templo de pedra mais do que o Deus do Templo. Mas Jesus falava do Templo do seu corpo. Este Templo corporal não desempenhará a fundo a sua função senão no dia em que será destruído e reconstruído. É o corpo espiritual de Cristo que encherá então o universo, o corpo misterioso da Ressurreição. A segunda leitura amplifica ainda esta noção de Templo-Corpo, quando Paulo diz que o Templo de Deus somos nós. Em cada um de nós habita o Espírito de Deus. Somos morada de deus. E isto não se restringe apenas aos crentes, mas os crentes têm como missão anunciar uma presença activa de Deus que concerne a todos os homens. 


FAZEI DA CASA DE MEU PAI UMA CASA DE ORAÇÃO E NÃO FAÇAIS DELA UM MERCADO: Jesus quer que o nosso corpo, como o corpo da Igreja, sejam reconhecidos como morada de Deus. Numa cultura marcada pela frivolidade, é bom recordar que o nosso corpo é Templo do Espírito Santo. O respeito do nosso corpo brota do facto de sermos baptizados em Cristo e sermos seu corpo… Num mundo marcado por interesses diversos, convém recordar que o mundo é criação de Deus e, daí, a ecologia para fazer que este mundo seja verdadeiramente sinal de Deus Criador, seja cosmos (mundo adornado e embelecido) e não caos. Num mundo marcado pelo individualismo, é necessário descobrir o valor da comunidade.
PRESENÇA ESPIRITUAL: O tema da presença espiritual não está ligado a qualquer parte da terra nem a qualquer construção humana. Uma presença espiritual está ou poderá estar em cada um de nós e exige que a missão da Igreja como a missão de cada um de nós como cristãos seja igualmente espiritual. Que quer dizer espiritual? Quer dizer que a missão nasce de fé. Esta fé é uma fé concretizada em obras: em termos concretos dar auxílio, em primeiro lugar à nossa família, aos mais próximos, mas depois alargando os horizontes e ajudando, onde as pessoas mais precisam: lares de idosos, pessoas abandonadas, pessoas que não contam na sociedade. Mas não é preciso irmos longe para vivermos esta exigência da missão. Podemos vivê-la em nossa casa, quando damos a mão a alguém que necessita da nossa ajuda. Esta missão está também no reconhecimento das falhas de cada um. Por exemplo, é normal que entre os casais haja diversos pontos de vista sobre determinados assuntos. Mas cada um em família deve saber reconhecer as falhas e ter capacidade de pedir perdão. Hoje um padre pode fazer uma homilia que vá ao encontro das pessoas e amanhã poderá não lhe sair tão bem. Sãos os nossos limites. E esta a condição humana. A reconciliação com os nossos limites, pode dispensar-nos de muitos dissabores e desentendimentos. Não será mal meditarmos no texto de Mateus 25,31-45 (José Frazão).
PERGUNTAS: É no Templo onde encontramos Deus? Quem reconhecer o Templo, encontra o verdadeiro Deus? O Templo era tão belo que fazia sonhar com Deus… e Jesus de Nazaré aparece demasiado pequeno para dar conta de Deus que se imagina muito grande e todo - poderoso? Somos capazes de fazer a passagem entre o Deus de nossos sonhos para o homem da Galileia? Estamos persuadidos que é n’Ele que Deus foi inteiramente exprimido, revelado? Adeus aos templos fabricados pelas mãos dos homens por mais belos e sumptuosos que sejam cheios de arte a carregados de ouro? Continuarão eles a sinalizar-nos Deus? Ou são meros lugares turísticos? Uma certeza: é no homem que Deus se diz uma vez e para sempre...
P. José Augusto Alves de Sousa S.J.


domingo, 2 de novembro de 2014

FIÉIS DEFUNTOS


UM JARDIM TODO FLORIDO E CHEIO DE VIDA.
Um jardim florido e todo cheio de vida é o nosso mundo, embora pensemos o contrário. Não é simplesmente mundo, mas cosmos, que quer dizer um mundo ornamentado, criado por Deus. Ele disse e continua a dizer que tudo é muito bom. É, neste mundo assim que os homens dos ambientes rurais, pegam na enxada ou manobram o tractor, para revolver e cultivarem a terra, colhendo dela, saborosos frutos que se transformam em deliciosos manjares, quando passam pelas mãos de nossas mães carinhosas que se esmeram para que tudo seja belo e bom. Colhemos os frutos frescos que a terra nos dá. E toda a gente saboreia as boas frutas, o bom vinho e a leveza do bom azeite!.. Pela Primavera e verão corremos para as romarias, celebramos a festa do padroeiro, com música e bons comes e bebes. É tudo um mundo em festa, um jardim de vida que salta à vista. E, deste mundo rural, damos um salto até às cidades e, então, aí, quantos expressões de vida, nas ruas movimentadas, nos teatros, nos cinemas, nos campos de futebol…

O ESPECTÁCULO DA MORTE
E, no entanto, neste jardim da vida entra também a MORTE que desafia a VIDA e, mais tarde ou mais cedo, acaba por aparentemente vencer. Nas aldeias, toca o sino grande que ecoa por vales e serras e nos traz uma má notícia, muito contrária à dos sinos mais pequenos que tocam os aleluias no dia da festa da Páscoa. E, de boca em boca, passa a notícia. Quem morreu hoje? Ficamos a saber que morreu tal e tal, uma notícia célere que invada toda a aldeia. Nas grandes cidades, deparamo-nos com um carro da funerária e nele vai alguém que nos deixou, embora, para nós, seja um anónimo…A morte passa pelos indivíduos pelas colectividades e pelas mesmas instituições. Tudo está sob o seu domínio. Todo o humano está condenado a morrer. E quanto mais florescente é a vida, mais trágico é, por vezes, o espectáculo, quando a morte passa, como por um campo de batalha. A vida é uma luta sem tréguas contra a morte. Comer beber e cuidar-se são operações que poderíamos chamar tácticas que não afastam para longe a morte. Os pequenos e grandes cemitérios estão bem à vista nas nossas aldeias e cidades e sobre eles se levanta dominadora a morte. Mas será mesmo assim!..

A VIDA VENCE A MORTE
Também sobre os cemitérios se levanta a vida, porque o destino do homem não é nem pode ser a morte. O seu destino é a vida. Nada mais certo para o homem que a necessidade da morte, mas nada mais certo para o cristão que a existência da vida depois da morte: “o que crê em mim ainda que morra viverá”(Jo.11,25). Esta palavra de Jesus pronunciada numa ocasião solene, antes de despojar a morte de sua presença na pessoa de Lázaro, é a premissa e o argumento da ressurreição de todos os crentes.
“Não se perturbe o vosso coração. Na casa de meu Pai há muitas moradas”. A misericórdia do Senhor não termina e não acaba A sua compaixão envolve-nos desde a manhã e pela noite fora, como um manto de luz. Esta profissão de fé que se encontra no livro das Lamentações recolhe os grandes atributos com que Deus se apresenta a si mesmo a Moisés (Ex.34, 6-7).
“Pai nas tuas mãos entrego o meu Espírito”. O texto das Lamentações recolhe o lamento de um homem esgotado, cansado, próximos dos umbrais da morte. Mas este homem, assim abatido, não cai no desespero numa vida sem esperança. Nesta situação difícil não deixa de confiar em Deus (Salmo 102). Como Jó: “eu creio que o meu Redentor vive”. Confiança num Deus misericordioso e fiel que ao longo da Bíblia nos confirma que não abandona os seus Filhos.

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS. DE QUE FAZEMOS MEMÓRIA? Certamente que fazemos memória dos nossos mortos, familiares e amigos mas a nossa oração estende-se também a todos os homens e mulheres que nos precederam. Devemos ainda fazer memória sobretudo do nosso baptismo que anda associado à morte. Este dia dos fies defuntos é uma recordação especialmente difícil, mas neste dia. em que recordamos os nossos irmãos defuntos, não esqueçamos a recordação do nosso baptismo como recomenda o Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos 5,3-9. Aqui, Paulo lembra a vinculação entre a morte e o baptismo. Ao baixarmos às águas baptismais nos unimos à morte de Cristo e à esperança da sua Ressurreição. Não é em vão que nos funerais, há muitas coisas que recordam o nosso baptismo, o manto que cobre a urna, o Círio Pascal que se acende durante a cerimónia litúrgica, a aspersão com a água benta. É bom que estas cerimónias evidenciam aquilo em que acreditamos e que não se transformem num acto de magia. E acreditamos que a morte ao pecado como acontece no dia em que recebemos o baptismo nos une à vitória de Cristo sobre o mal. Se morremos com Cristo, acreditamos que também viveremos com Ele; pois sabemos que Cristo uma vez ressuscitado de entre os mortos já não morre. A morte já não tem sobre Ele qualquer domínio.

PALAVRAS RECONFORTANTES
Consolemo-nos uns aos outros com as palavras da Liturgia deste Dia. Saber consolar é dom do Espírito Santo que é Espírito consolador. Morreu…Não sabemos bem onde o puseram…Não sabemos bem o que é feito dele ou dela, mas confiamos no Senhor que tem palavras de vida eterna. A ti que choras, se me amas, não chores. Se pudesses ver e ouvir o que eu agora vejo, a luz que tudo invade e penetra, certamente que apagarias tuas lágrimas com esse lenço de luz…Estamos nas mãos de Deus. Seguimos-te porque te queremos mas não sabemos como encontrarmo-nos contigo. Eu marcarei um encontro com Cristo e tu estarás certamente presente e convida, da minha parte, a tua e minha Mãe, a Virgem Maria!...

P. José Augusto Alves de Sousa S.J.