domingo, 23 de fevereiro de 2014

VII Domingo Comum - A

Um coração que aprende a amar os inimigos

Arco-íris (det.)

William Turne
Ouviste o que foi dito: olho por olho... Mas eu digo-te, se alguém te bate na face direita, dá-lhe a outra; desarma-te, não inspires o medo, mostra que não tens nada a defender, e o outro compreenderá o absurdo de ser teu inimigo.
Dá-lhe a outra face; não a passividade doentia de quem tem medo, mas uma iniciativa decidida: reata tu a relação, dá tu o primeiro passo, perdoa, recomeça, volta a coser corajosamente o tecido da vida, continuamente rasgado.
O cristianismo não é uma religião de servos que se mortificam, humilham e não reagem; não é «a moral dos fracos que nega a alegria de viver» (Nietzsche).
O cristianismo é a religião dos reis, dos homens totalmente livres, senhores das próprias escolhas diante do mal, capazes de neutralizar a espiral da vingança e inventar reações novas através da criatividade do amor, que não paga com a mesma moeda, que desconstrói as regras e traz felicidade.
Amarás o próximo e odiarás o teu inimigo. Mas eu digo-te: ama o teu inimigo. Jesus pretende eliminar o próprio conceito de inimigo. Violência produz violência, como uma cadeia infinita. Ele escolhe interrompê-la. Pede-me para não replicar nos outros aquilo que sofri. É assim que me liberto. Todo o Evangelho passa por aqui: amai-vos, porque de outra forma sereis destruídos.
Sê perfeito como o Pai, sê santo porque Eu, o Senhor, sou santo. Santidade, perfeição, palavras que parecem distantes, destinadas a pessoas que fazem outra vida, dedicada à oração e à contemplação. E no entanto são palavras muito concretas: «não odiarás do íntimo do coração os teus irmão», não «guardarás rancor», «amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Levítico 19, 17-18, primeira leitura de Domingo).
A concretude da santidade: nada de abstrato, distante, separado, mas o quotidiano, santidade terrestre como perfume da casa, do pão, dos gestos. E do coração. Sê perfeito como o Pai. Mas ninguém poderá alguma vez sê-lo, é como se Jesus nos pedisse o impossível.  Mas não diz «quanto Deus», mas «como Deus», que faz nascer o sol sobre bons e maus.
Assim o farei, farei nascer um pouco de sol, um pouco de esperança, um pouco de luz a quem só tem a escuridão diante de si; transmitirei o calor da ternura, a energia da solidariedade. Testemunho de que a justiça é possível, que se pode crer no sol mesmo quando não brilha, no amor mesmo quando não se sente.
E tudo isto porque és filho do teu Pai celeste, que faz nascer o sol sobre bons e maus. Do Pai aos filhos: é como uma transmissão da herança, uma herança de comportamentos, de afetos, de valores, de força.
É um desejo que dirijo a cada criança que batizo, quando o pai acende a vela no círio pascal: que possas encontrar sempre, nos teus dias, quem saiba despertar em ti a aurora. Quantas vezes vi nascer o sol nos olhos de uma pessoa: uma escuta feita com o coração, uma ajuda concreta, um abraço verdadeiro.
Ama os teus inimigos. Faz nascer o sol no seu céu; que não nasça frieza, condenação, recusa, medo. Podes fazê-lo, mesmo que pareça impossível. "Podes", e não "deves".
Podes amar até os inimigos, podes fazer o impossível, Eu dar-te-ei essa capacidade se o desejares, se mo pedires, e então continuarás no caminho da mudança interior, de te conformares ao Pai.
Agora compreendo: posso (poderei) amar como Deus! Ser-me-á dado um dia o próprio coração de Deus. De cada vez que peço «Dá-me um coração novo», estou a invocar poder ter um dia o coração de Deus, de me conformar aos mesmos sentimentos do coração de Deus.
Ao amar, sinto que me realizo, sinto que dar aos outros nada tira do que é meu, que no dom há grande ganho, torna a minha vida plena, rica, bela, feliz. Dar aos outros não se opõe ao meu desejo de felicidade, porque amor ao próximo e amor a si mesmo não são atitudes inconciliáveis, mas cruzam-se entre si. Deus dá alegria a quem gera amor.
É extraordinário: virá o dia em que o nosso coração, que tanto se cansou a aprender o amor, será o coração de Deus, e então seremos capazes de um amor eterno, que será a nossa alma, para sempre, e a alma do mundo.

Evangelho do VII Domingo do Tempo Comum
Recolha de textos do P. Ermes Ronchi
In Lachiesa.it



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