ENTRADA JUBILOSA DE JESUS EM JERUSALÉM: Na entrada jubilosa de Jesus em Jerusalém, eu, como tantos outros, misturado na
multidão dos simples peregrinos que tendo ouvido falar da ressurreição de Lázaro
e da chegada de Jesus, vou ao seu encontro e acompanho-O, contemplando-O,
sentado num jumentinho, filho duma jumenta que os discípulos aparelharam com os
seus mantos. Medito e canto com os peregrinos, a profecia de Zacarias, “Exulta
de alegria, filha de Sião. Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém. Eis que
o teu rei vem a ti, montado num jumentinho, filho duma jumenta” (Zacarias 9,
1-10). O Senhor entra na sua cidade de Jerusalém, montado num animal que nada
tem a ver com uma montada real.
Entra montado num animal de carga e
não em animal de combate e o jumentinho nem sequer lhe pertence, porque o deve
restituir. E não é o jumentinho de carga, a imagem d’Aquele que transporta, que
vai à Paixão, carregando, também ele, os meus pecados, os nossos pecados para
nos salvar? Medito, meditemos para
tirarmos proveito!.. Misturo-me também eu com esta multidão de gentes que
estendem os seus vestidos e ornamentam com palmas o percurso do Rei de Israel,
que eles aclamam, com grande escândalo de todos os fariseus de então e os de
hoje. Aclamo-O, Ele que vem tomar posse dum Reino que não é deste mundo, mas que não é menos concreta e
geograficamente incorporado, neste mundo (Jo.11,14 ss). E se abrimos
Mateus, como é seu hábito, ele diz-nos que Jesus procede assim para cumprir a
Escritura. E Isaías diz que o rei entra em Jerusalém, não para governar, mas para servir. Contudo, neste triunfo, a
multidão que o aclama está ofuscada, longe de compreender a significação plena:
ela aclama um libertador político, mas ela deverá pôr a sua fé em Cristo
crucificado. Não se trata de aclamar um rei que subjuga a vida e a amarra para
servir o poder, mas um rei que dá a vida e não sacrifica vidas como fazem os
reis deste mundo. Doravante, todo o homem viverá dele, da sua carne e do seu
sangue entregue nas mãos dos homens. O Deus Todo-Poderoso utiliza o seu poder
para se fazer fraqueza. E eu aceito o desafio: escolher entre a vida e a morte,
o melhor ou o pior (Deuteronómio 30, 15-19)? Caminho e bato palmas com o entusiasmo
dos discípulos, mas tenho de deixar de pensar que o triunfo do Filho de Deus é um
triunfo, através do poder, do ter e do
aparecer (a tentação do Deserto) mas sim o triunfo do serviço a Deus e aos homens. À frente do cortejo
gritam as crianças, neste dia da juventude, atrás e um pouco à distância,
aqueles que não comungam ainda a minha fé, os piedosos pagãos, os tímidos, mas
que se aproximam de Jesus e Jesus vê neles as primícias da próxima glorificação.
A sua morte, como o grão lançado à terra, produzirá o seu fruto, dirá Jesus aos
Gregos que, no Domingo passado o quiseram ver: “Quando for levantado da terra
atrairei a Mim todos os homens” sem excluir ninguém nem a um desses mais
pequenino. A própria natureza geme, com a aproximação da sua “Hora”, e a
alegria das flores de Páscoa e os ovos de Páscoa, já são sinal da terra
fecunda. A “Hora” de Jesus diz-nos que não estaremos nunca sós. Na Cruz, resplandece
a fé a esperança e a caridade. A fé
porque, Jesus, apesar do seu abandono, aparente, se confia ao Pai: “Pai, nas
tuas mãos, entrego o meu espírito”. A esperança,
porque uma vida nova se espera além da morte. O amor (a caridade), porque não há maior amor do que dar a vida. A HORA de Jesus culmina na Ressurreição.
“Quando for levantado da terra atrairei
a Mim todos os homens”. Porque Deus não pode permanecer na morte, se abrem
para todos nós, as portas da vida. Quantas vezes, a fé cristã foi acusada de
colocar em primeiro plano o culto do sofrimento e até da própria morte. Mas pelo
contrário. Nós, Cristãos, se o somos de verdade, proclamamos ao mundo inteiro,
com a nossa vida e com alegria serena que nos deve inundar, que o sofrimento e
a morte são condenados, no fim de contas, a produzir a vida.” A mulher, quando
está para dar à luz sofre, mas depois alegra-se com a vinda dum filho”. É o
nascimento da alegria que nos visita.
A
nossa vida cristã é também uma entrada na Nova Jerusalém, uma penetração no
universo chamado a tornar-se uma aprazível Cidade de Deus, um Novo Céu e uma
Nova Terra, uma Noiva adornada para o seu esposo, uma Morada de Deus entre os
homens (Apoc.21,1ss). É na luta do amor sobre o ódio, no triunfo da caridade
reconciliadora difundida nas nossas veias e no nosso mais íntimo, alimentado
pelo sangue de Cristo na Eucaristia, que podemos comunicar vida aos outros, tendo
a certeza de que essa vida superabunda e não morre. Os hossanas da multidão que
aclama sejam também os meus hossanas, nos dias bons e nos menos bons! Na Cruz,
portanto, é pregado o ódio e resplandece o amor. É o que faz Cristo, dando a
vida àqueles que lha queriam tirar. Ordenando a Pedro para meter a espada na
bainha, Jesus ensina-nos que resistir à violência pela violência, não faz mais
que desencadear a violência (Helder Câmera, na “Espiral da Violência).
MEDITAÇÃO DA PAIXÃO: NA INTIMIDADE DA PAIXÃO COM
MATEUS, MARCOS, LUCAS E JOÂO:
Abramos,
durante esta Semana, um dos quatro evangelhos e meditemos, pausadamente, fazendo
chegar as palavras duma das narrações da Paixão à mente e ao coração. Este ano
podemos dar precedência à Paixão segundo S. Marcos, porque estamos no Ano B. Na
Sexta Feira Santa, é o dia da Paixão descrita por S. João. Pessoalmente, cada
um pode escolher a narração que lhe diz mais, no momento actual em que se
encontre na vida. Entremos na intimidade da Paixão:
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Com MATEUS, meditámos a Paixão de
Jesus Cristo como a Paixão do “Servo Sofredor”, do justo perseguido, aprendemos
nessa meditação, que o plano de Deus sobre o homem se realiza por intermédio do
“Servo sofredor” e não pelo Rei da glória. É dando a vida e não reinando que se
constrói a nova humanidade!
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Com MARCOS, meditámos a Paixão de
Jesus Cristo como a revelação da dignidade messiânica. Nesta narração evangélica,
sentimos a solidão de Jesus na Paixão. Todos o abandonaram!.. “Ferirei o Pastor
e as ovelhas dispersaram-se”. “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste”!.. Mas
o Messias crucificado e morto, é verdadeiramente o Filho de Deus! “Este homem é
verdadeiramente o Filho de Deus” confessa o Centurião Romano. Com a morte de
Jesus, voltou a reunir-se o que estava disperso.
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Com LUCAS, meditámos a Paixão de
Jesus Cristo como a revelação do grande amor do Pai por seu Filho e por todos
os homens, mesmo os inimigos. A Paixão, segundo Lucas, é um milagre contínuo de
misericórdia, de perdão e de reconciliação!
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Com JOÃO, meditámos a Paixão de
Jesus Cristo como marcha triunfal de Jesus para o seu Pai. Chegou a “hora” da
entrega aos homens, da manifestação de glória, do dom da vida e do amor, do dom
do Espírito Santo. Aprendemos, nesta meditação, que Jesus é o verdadeiro
cordeiro de Deus imolado para salvação do mundo! A morte do Homem-Deus não é um
fim, mas ao contrário, é a presença do Senhor, através do seu Espírito no mundo
e na Igreja!
Sob
Pôncio Pilatos, Jesus dá exemplo daquilo que recomendou aos discípulos quando
fossem levados, por sua causa, à presença de Reis e de Governadores. Pilatos
admira-se que Ele não se preocupe com a sua defesa e não se justifique das
acusações que lhe fazem (Mt.27,12; Mac.15,4; Luc. 23,4). “Nesta hora” solene em
que, pela primeira vez, enfrenta o mundo pagão, o mundo que não é judeu, mais
que nunca, o Espírito Santo dirá a Jesus o que deve dizer para fazer “obra
evangélica”(Mt.10,18-20; Luc.12,11). Peço a Jesus, na sua hora, na hora da sua
entrega aos homens que me ensine, uma vez por todas, a fazer também eu, do meu
ministério, do meu estado de vida religiosa ou meu estado de casado ou de
solteiro, uma obra evangélica, onde
transpareçam os critérios de Deus.
P.
José Augusto Alves de Sousa
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