QUARTA FEIRA DE CINZAS
ENTRADA NA QUARESMA, PARA
ENTRAR NA PÁSCOA
E VIVER A PÁSCOA COM CRISTO
Com a liturgia da Quarta Feira de Cinzas começa o tempo litúrgico da Quaresma. Quarenta dias, é o tempo que a Igreja nos propõe que consagremos para que se opere em nós uma verdadeira conversão e mudança de vida. Este ano, o Ano Santo da Misericórdia, é mais um incentivo para que cada um e cada uma de nós consagre algum tempo do dia à oração, à reflexão individual ou colectiva. Sabemos, por experiência própria que, mergulhados nas preocupações profissionais do dia, falta-nos, por vezes, força de vontade para consagrar um pouquinho que seja de tempo, para estarmos a sós com o Senhor, pois esta pausa nos ajuda a concentrar a nossa atenção no essencial. Sabemos como as nossas convicções amolecem ao longo da vida e o Papa Francisco, neste Ano Santo da Misericórdia, nos convida a fixar o olhar na Misericórdia, a fim de se tornar mais forte e eficaz o nosso testemunho de crentes, diante do mundo que nos cerca, um mundo que teima em atirar para o vazio ou reduzir a um intimismo malsão, a nossa fé, esvaziando-a da sua riqueza que é ser, antes de mais, testemunho da caridade.
Reunimo-nos,
hoje, na Quarta Feira de Cinzas para entrarmos dentro de nós mesmos e nos
reconhecermos pecadores: “Perdão, Senhor, porque pecamos…” Só reconhecendo-nos
pecadores, frágeis e instáveis, sem fazermos “diagnósticos desalentadores”,
poderemos “experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança”
(Papa Francisco). E não façamos coisas espectaculares, neste caminho. Há dias,
no 14ºDomingo Comum, Paulo nos dizia no capítulo 13 da Carta aos Coríntios:
“vou indicar-vos o caminho da perfeição” e acrescenta: “esse caminho da
perfeição, é a prática da Caridade.
A Quaresma é também um tempo privilegiado para olharmos para os outros,
sobretudo para aqueles que mais precisam, os homens e mulheres das periferias.
Nada
de espectacular, portanto, neste tempo da Quaresma. É um caminho pessoal que
será mais autêntico quanto mais for discreto. “Voltai para mim com todo o
coração” (Profeta Joel). E Mateus nos diz que “o Pai vê no segredo”. Mas sabemos
também que por mais pessoal que seja, a caridade se concretiza em actos
corajosos e discretos. Por isso, o Evangelho que proclamamos, no dia de Cinzas,
pede-nos que saiamos de nós próprios. E isto se faz pela ESMOLA que representa a nossa relação com os outros, sobretudo com
aqueles que mais necessitam. O JEJUM representa
a nossa ralação com a natureza. Na actualidade o Jejum reveste um certo
carácter ecológico, saber utilizar os bens de consumo para os colocar à
disposição da casa comum (o mundo) e não somente da minha própria casa. O Jejum
não é, portanto, para nos felicitar da nossa capacidade a renunciar
provisoriamente a alguns prazeres (guloseimas, tabaco, álcool, noitadas,
televisão…), mas porque despojados do acessório, discernimos e acedemos mais
facilmente ao essencial. Não jejuamos para sermos vistos, mas para dominarmos a
nossa relação à natureza e, através da natureza, a nossa relação com o próprio
Deus. Pela ORAÇÃO, abro-me ao Outro,
a Deus, e, através da Outro, a Origem, me abro aos outros. Encerrados em nós
próprios, caímos no círculo da morta. Abertos a Deus, vivemos o Êxodo de Jesus
Cristo que é a Páscoa para a qual nos prepara a Quaresma.
Tempo
de Quaresma, tempo da minha revisão de vida, para sair de mim mesmo e entrar na
PÁSCOA!..
P. José Augusto Alves de Sousa, sj
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