domingo, 31 de julho de 2016

Festa de Santo Inácio de Loyola

Foi com alegria que tivemos entre nós, durante a semana que passou, o Diácono João de Brito sj, que continuará ainda durante o próximo ano os seus estudos de Teologia em Madrid sobre: Fontes inacianas, história SJ, teologia jesuíta, espiritualidade inaciana. Ou seja, o "Master Ignaciano".
Hoje, na Festa de Santo Inácio de Loiola, o João trouxe à nossa Eucaristia uma bonita reflexão, recordando o carisma e Missão de Santo Inácio e ajudando-nos a interiorizar e a reafirmar  a pertença a esta Paróquia Jesuíta e à espiritualidade inaciana. 
De coração agradecido pelo bem recebido através dos jesuítas, deixamos a reflexão que foi feita, pedindo ao Senhor o guie no caminho que o espera até ao próximo ano em que será ordenado Sacerdote.



Feliz dia de Santo Inácio!

Que bom estar hoje aqui a celebrar este dia convosco. Estive cá há oito anos, como noviço, num tempo que me ficou como uma das memórias mais queridas do noviciado. Agradeço muito à comunidade jesuíta e à paroquial terem-me recebido tão bem nestes dias. Agradeço também ao Pe. Manuel/Rafael por ter-me confiado a homilia de hoje, com a oportunidade que é de vos dirigir a todos algumas palavras neste dia de festa. É curioso que, entre tantos nomes que tem esta igreja e a paróquia (São Pedro, São Tiago, Sag. Coração de Jesus), Santo Inácio não é um deles. No entanto, acredito que está discretamente presente em tudo, em modos de funcionar e critérios de decisão.

As leituras para esta solenidade são escolhidas a dedo. A primeira leitura e o salmo falam-nos de dois caminhos. Um de vida, felicidade e bênção e outro de morte, infelicidade e maldição. Dois caminhos entre os quais há que escolher, tal como as duas bandeiras de que nos fala Santo Inácio nos Exercícios Espirituais que nos propõe. Uma bandeira que é a de Cristo, de pobreza, humilhações e humildade, e outra do inimigo, de riquezas, honras e orgulho. Paradoxalmente, o caminho da vida, da felicidade e da bênção está escondido na cruz. Na segunda leitura, São Paulo faz uma menção autobiográfica relatando uma passagem da sua vida que se assemelha à de Santo Inácio. Um homem convertido a Deus, uma vida que muda ao encontrar-se com Jesus não querendo já mais que a sua maior glória.

Centrando-nos no Evangelho, encontramos duas perguntas. A primeira é só para aquecer. “Quem dizem as multidões que Eu sou?”. E vão respondendo. “Um dos profetas… João Baptista…” Mas a segunda já é mais séria: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Podemos imaginar os discípulos. Têm Jesus diante deles com aquela pergunta… “E agora? O que é que respondemos?” Pedro enche-se de coragem e chega-se à frente: “Tu és o Messias de Deus”. E tem razão, é mesmo. Mas Jesus ajuda-o a ver que o seu messianismo não é feito de riquezas, honras e orgulho, mas de pobreza, humilhação e humildade.

Mas o Evangelho devolve-nos também a mesma pergunta. E nós? Quem dizemos nós que é Jesus? Na verdade, a nossa vida responde sempre a esta pergunta. Umas vezes de forma mais consciente, outras inconscientemente. Olhemos para as nossas outras relações quotidianas. Uma mãe relaciona-se de uma forma particular com o seu filho e vice-versa. Sorrio para a minha mãe da forma que sorrio e tenho para com ela os gestos que tenho porque ela é a minha mãe. Um patrão para com o seu empregado e este para com o seu patrão também actuam segundo essa relação. Da mesma forma para com os nossos amigos ou inimigos. Ou se uma pessoa é interessante ou, pelo contrário, aborrecida. Mesmo sem dizer nada, o nosso modo de olhar e actuar manifesta quem é aquela pessoa para nós.

Da mesma forma, a nossa vida decorre toda diante do Senhor. E em cada circunstância, com o que fazemos ou deixamos de fazer, dizemos ou deixamos de dizer, vamos respondendo a esta pergunta: “Quem digo eu que é Jesus para mim?”. Algumas vezes tocar-nos-á também responder de forma consciente a esta pergunta. Hoje, no entanto, em vez de responder, proponho que façamos duas perguntas.

Primeiro, perguntemos-lhe a Santo Inácio: “Quem dizes tu que é Jesus?”. E Santo Inácio dir-nos-ia:

Ele é o Cristo pobre e humilde. (uma expressão que lhe era tão querida, usada por ele frequentemente nos seus escritos)

É o Cristo que na cruz me diz que a minha miséria própria, feita de faltas e fragilidades, não é o fim do mundo. Se fosse, Ele não se tinha entregado por mim. É o Cristo que responde ao meu pecado com a entrega amorosa na cruz.

É o Cristo que se fez homem por mim, nascido pobre em Belém e anunciando, com palavras e gestos a chegada do Reino de Deus. O Cristo que desejo conhecer internamente, para mais o amar e seguir.

É o Cristo que aceita a dor e o sofrimento da sua Paixão porque me quer salvar. Que sofre a condenação injusta que tantos, antes e depois dele, sofreram e sofrem. Sofre-a, até das minhas próprias mãos, porque me ama.

É o Cristo glorioso da Ressurreição, que tanta alegria me traz e vem com o ofício de consolar a todos em qualquer aflição em que se encontrem, em qualquer sofrimento, como um amigo consola o outro.

É o Cristo a quem devo eterna gratidão por tanto bem recebido.

Este é o Cristo de Santo Inácio, por quem se fez peregrino da maior glória de Deus.
A segunda pergunta, proponho que a façamos ao próprio Senhor. Na eucaristia de hoje, em particular na comunhão, perguntemos-lhe nós: “Senhor, quem dizes Tu que eu sou?”. E, sem respostas feitas, ouçamos o que Ele nos disser. É a partir dessa resposta que poderemos dar a nossa.

Assim seja.

(João de Brito, sj)


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