sábado, 10 de março de 2018

Oração



«Eu tinha um relacionamento bastante bom com o Senhor.
Conversava com Ele, pedia-Lhe coisas, louvava-O, agradecia-Lhe. Mas tinha sempre um sentimento ou sensação inesquecível de que Ele queria que eu olhasse bem no fundo dos Seus olhos. E isso eu não queria. 
Conversava muito, mas desviava os olhos, cada vez que percebia que Ele estava a olhar para mim. Sim, olhava sempre para outro lado. E eu sabia porquê! Tinha medo. 
Receava encontrar uma acusação nos olhos d´Ele: algum pecado não arrependido. Mas pensava também poder encontrar, naquele olhar algum pedido, algo que Ele quisesse de mim.
Um dia, finalmente, juntei toda a minha coragem e olhei! Não havia acusação alguma. Nem exigência ou pedido. Aqueles olhos diziam-me, simplesmente: «Eu amo-te!». Nessa altura eu olhei-os ainda mais no fundo com a persistência de quem procura algo. Nada encontrei, apenas a mensagem de sempre: «Eu amo-te!». Como Pedro, saí e chorei.» 

P. Antony de Mello, SJ

Imagem: Rui Aleixo (Capela do Rato)

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