Sieger
Koder
«Este é o meu Filho muito amado.
Escutai-o» (Mt 17, 5)
Jesus sobe
ao monte. Leva consigo Pedro, Tiago e João. Já Abraão tinha subido para sacrificar
Isaac, seu único filho. Também Moisés para receber os mandamentos do Senhor. O
próprio Jesus sobe ao monte para proclamar as bem-aventuranças. E falta pouco,
muito pouco, para que suba, agora, à mais alta das montanhas. Digo, à cruz.
Assim, onde
terra e céu se tocam, aqueles discípulos – e nós, com eles – vêem Jesus como “o
mais belo entre os filhos do homem”. E, envolvidos por tão grande luz, ouvem do
céu uma voz, de tom não menos belo: “este é o meu Filho muito amado”. Profundamente
tocados pela transfiguração de Jesus, reconhecem que é bom estar ali. Sim, será
muito bom estar ali. Também para nós.
Mas como
será e onde quereremos estar quando Jesus se revelar desfigurado e quando o seu
rosto, desfeito pelo sofrimento, nos fizer desviar o olhar? Suportaremos o
silêncio do céu e a violência desse grito “meu Deus, meu Deus, porque me
abandonaste?”.
Reconheceremos
que Jesus é o Filho amado do Pai quando o virmos “sem aspecto atraente, desprezado
e evitado” por todos? Prestar-lhe-emos atenção quando o virmos acusado e mudo? Ainda
conseguiremos dizer-lhe, junto à cruz, “é bom estar aqui, onde tu estás”?
O rosto
transfigurado de Jesus revela-nos, hoje, que, entre todos, é o mais belo. O seu
rosto desfigurado revelar-nos-á, amanhã, que é o mais belo porque dá a sua vida
por todos. A beleza está na entrega. Jesus sobe, porque aceita descer; brilha,
porque aceita apagar-se.
P. José Frazão, sj
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