Sieger Koder
«Nem só de pão vive o homem, mas de toda
a
palavra que sai da boca de Deus»
(Mt 4,4)
Reparemos em Jesus. Antes de dar
início à sua vida pública, retira-se para o deserto. É o lugar do silêncio e da
compreensão das coisas à luz de Deus. Ali se purificam os desejos e se
fortalece a vontade. Jesus prepara-se assim. Reza. Jejua. A sobriedade ajudará
a ter presente o essencial da sua vida, a vontade do Pai. Mas o silêncio pode
ser duro. Jesus é tentado e posto à prova.
E se usar o
seu poder para benefício próprio. Porque não fazer das pedras pão, já que tem
fome? E se fizesse alguma coisa de espectacular – lançar-se, por exemplo, do
alto do templo, sem que nenhum mal lhe acontecesse – para que reparassem nele e
o admirassem? E porque não ceder – só um bocadinho, que importância teria? –
aos poderes do mundo para realizar, mais rapidamente, o Reino de Deus? Afinal,
não foi para isso que veio ao mundo?
O Evangelho
abre-nos uma janela para o íntimo de Jesus. O fascínio do poder, da glória e do
compromisso com o mal, também o tocaram como uma possibilidade. Porém, Jesus
não cede ao encanto do mais fácil. Para si, escolhe a pobreza, a humildade, o serviço.
Não quererá outro caminho. É assim – só assim – que realizará o Reino de Deus
entre nós. E não haverá cedências. Antes perder a vida.
Será possível viver assim, como Jesus?
Pobreza, humildade, serviço: não é opção para fracos?; não será demasiada ingenuidade,
num mundo tão astuto? Sim, parece difícil. Mas o Senhor mostra-nos que é
possível. E repete-nos, uma e outra vez: “quem quiser seguir-me…”
P. José Frazão, sj
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