segunda-feira, 5 de novembro de 2012

XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B


     
Mestre, qual é o primeiro dos mandamentos?

Podemos assumir também nós, esta pergunta feita por um escriba a Jesus, procurando perceber de facto qual é o fundamento da vivência religiosa, qual é o fundamento da experiência da fé.
O primeiro mandamento é este: Escuta Israel, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a rua alma, com toda a tua inteligência com todas as tuas forças.
É interessante que o mandamento, este primeiro, é antecedido pela interpelação: Escuta! Escuta Israel. E ouvimo-lo na 1ª leitura e depois nesta citação do livro do Deuteronómio feita por Jesus:
Escuta Israel, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração…
O ponto de partida para o acolhimento dos mandamentos de Deus é a ESCUTA - Não se trata apenas de ouvir, trata-se de ouvir e acolher. De ouvir e interiorizar e interiorizando pô-lo em prática.
Temos muita dificuldade de escutar, mas é precisamente este o desafio que Deus nos deixa antes de mais.
Escuta Israel, escuta Igreja, escuta comunidade cristã aqui reunida… ESCUTA! É para cada um de nós este convite.
O primeiro mandamento é de facto este: Amarmos a Deus descobrirmos o amor de Deus por nós, este amor que Ele continuamente nos revela e colocarmos todas as nossas capacidades procurando corresponder a este amor.

As palavras que hoje te prescrevo ficarão gravadas no teu coração nelas meditarás quer estando sentado em casa, quer andares pelo caminho, quando te deitas e quando te levantas.
Que quer isto dizer?
Quer dizer que viver no amor de Deus, viver a profundidade da relação com Deus numa experiência de amor, não é apenas para certos momentos da nossa vida, podíamos dizer: para os momentos religiosos da nossa vida, ou para os momentos de culto, é algo para ser profundamente acolhido, meditado, tornado experiência viva em todas as dimensões da nossa existência, façamos o que fizermos, pensemos o que pensarmos, em tudo somos chamados a viver neste dinamismo da relação de amor de amor com Deus e este é primeiro mandamento!
Qual é a novidade trazida por Jesus? É que o segundo mandamento e este já o era, na antiga Aliança, no Antigo testamento, exprime-se por amar o próximo como a si mesmo.

A novidade é que Jesus associa estes dois mandamentos fazendo deles um só, diz Jesus, o segundo porém é semelhante a este: amarás o próximo como a ti mesmo. E é semelhante e é indissociável  e não é possível viver a experiência do amor de Deus, cumprir este primeiro mandamento de amar a Deus com todas as nossas capacidades, sem o concretizarmos depois na vivência do amor para com o próximo, na vivência do amor para connosco próprios e esta é uma realidade talvez mais difícil de perceber e até de viver.
Deus chama-nos a amarmo-nos a nós próprios, não se trata de um amor egoísta, de nos tornarmos o centro de todas as coisas, trata-se de reconhecermos a nossa dignidade de seres profundamente amados por Deus. Trata-se de aprendermos a amarmo-nos e a reconhecermo-nos a nós próprios como Deus nos reconhece e só a partir daí podemos de facto continuar este dinamismo de Amor.
Quem não é capaz de se reconhecer e amar a si próprio nunca será capaz de viver uma experiência madura para com os irmãos, não será capaz de viver uma experiência madura de correspondência ao amor de Deus.
Quem não vive o amor aos irmãos será incapaz de se amar a si próprio e de amar a Deus. Diz-nos S. João numa das suas Cartas: quem diz que ama a Deus que não vê e não ama o irmão que vê, é mentiroso e a verdade não está nele, porque é impossível amarmos a Deus, sem tornarmos esse amor vivo na nossa relação interpessoal, o amor aos irmãos. Por outro lado viver a experiência do amor a si mesmo e do amor aos irmãos só é possível quando fazemos profundamente a experiência do Amor de Deus. E por isto este é o primeiro mandamento: Não fomos nós que amámos a Deus, foi Ele que nos amou primeiro é Ele que nos dá esta capacidade de amarmos… apenas como correspondência a esta fonte de amor infinito que Ele é …. e que Ele se revela para cada um de nós.

Os Mandamentos, não são regras para cumprirmos exteriormente, não são preceitos para nos tranquilizar a consciência religiosa apenas porque os cumprimos, são uma pedagogia de amor é um caminho que Deus nos apresenta para alcançarmos a felicidade que em plenitude só Nele se encontra… e este é o desafio… é o de escutarmos a Sua palavra de Amor, de a pormos em pratica, de a vivermos como um dinamismo que se exprime precisamente neste movimento de amor a Deus, amor a nós próprios, de amor aos irmãos… mas num único dinamismo de amor porque a FONTE É ÚNICA, é o único Deus.
Jesus perante a resposta do escriba: Amar a Deus com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios».
Como cristãos, somos chamados a unirmo-nos a Jesus, à Sua entrega de Amor… quando renovamos o sacrifício na celebração da eucaristia não estamos a celebrar outro sacrifício, não estamos a oferecer outro culto.
Estamos a unir-nos à entrega de Jesus que ofereceu um sacrifício definitivo e agora vive eternamente para interceder por nós… É com Ele, unidos a ele que podemos fazer esta experiência de quanto Deus nos ama dando em Cristo a Sua vida por nós e de como a partir de Cristo e desta união ao sacrifício de Jesus podemos verdadeiramente amarmo-nos como irmãos e assim viver os mandamentos, não como preceitos externos, mas como caminho da vivência, da correspondência do amor com que Deus se revela a cada um de nós.
Procuremos pois, ao celebrarmos esta Eucaristia alimentarmo-nos deste amor revelado em Cristo no dom da Sua Vida por nós e aprendamos com Ele a entregarmo-nos a Deus e aos Irmãos… essa é a experiência plena do amor cristão. Procuremos assim, que o Senhor nos ajude a viver na vida aquilo que professamos na fé, aquilo que escutamos e somos chamados a pôr em prática para sermos felizes

4 de Novembro de 2012
Igreja Paroquial de Cristo Rei da Portela – Lisboa
 Padre Pedro Lourenço 


Extractos da homilia da Eucaristia transmitida pelo Canal 1


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