Mestre, qual é o primeiro dos mandamentos?
Podemos assumir
também nós, esta pergunta feita por um escriba a Jesus, procurando perceber de
facto qual é o fundamento da vivência religiosa, qual é o fundamento da
experiência da fé.
O primeiro mandamento
é este: Escuta Israel, amarás o Senhor
teu Deus com todo o teu coração, com toda a rua alma, com toda a tua
inteligência com todas as tuas forças.
É interessante que o
mandamento, este primeiro, é antecedido pela interpelação: Escuta! Escuta Israel. E
ouvimo-lo na 1ª leitura e depois nesta citação do livro do Deuteronómio feita
por Jesus:
Escuta Israel, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração…
O ponto de partida
para o acolhimento dos mandamentos de Deus é a ESCUTA - Não se trata apenas de ouvir, trata-se de ouvir e acolher. De ouvir e interiorizar e
interiorizando pô-lo em prática.
Temos muita
dificuldade de escutar, mas é precisamente este o desafio que Deus nos deixa
antes de mais.
Escuta Israel, escuta Igreja, escuta comunidade cristã aqui reunida… ESCUTA! É para cada um de nós este convite.
O primeiro mandamento
é de facto este: Amarmos a Deus descobrirmos o amor de Deus por nós, este amor
que Ele continuamente nos revela e colocarmos todas as nossas capacidades procurando
corresponder a este amor.
As palavras que hoje
te prescrevo ficarão gravadas no teu coração nelas meditarás quer estando
sentado em casa, quer andares pelo caminho, quando te deitas e quando te
levantas.
Que quer isto dizer?
Quer dizer que viver
no amor de Deus, viver a profundidade da relação com Deus numa experiência de
amor, não é apenas para certos momentos da nossa vida, podíamos dizer: para os
momentos religiosos da nossa vida, ou para os momentos de culto, é algo para
ser profundamente acolhido, meditado, tornado experiência viva em todas as
dimensões da nossa existência, façamos o que fizermos, pensemos o que
pensarmos, em tudo somos chamados a viver neste dinamismo da relação de amor de
amor com Deus e este é primeiro mandamento!
Qual é a novidade
trazida por Jesus? É que o segundo mandamento e este já o era, na antiga
Aliança, no Antigo testamento, exprime-se por amar o próximo como a si mesmo.
A novidade é que
Jesus associa estes dois mandamentos fazendo deles um só, diz Jesus, o segundo
porém é semelhante a este: amarás o
próximo como a ti mesmo. E é semelhante e é indissociável e não é possível viver a experiência do amor
de Deus, cumprir este primeiro mandamento de amar a Deus com todas as nossas
capacidades, sem o concretizarmos depois na vivência do amor para com o
próximo, na vivência do amor para connosco próprios e esta é uma realidade talvez
mais difícil de perceber e até de viver.
Deus chama-nos a
amarmo-nos a nós próprios, não se trata de um amor egoísta, de nos tornarmos o
centro de todas as coisas, trata-se de reconhecermos a nossa dignidade de seres
profundamente amados por Deus. Trata-se de aprendermos a amarmo-nos e a reconhecermo-nos
a nós próprios como Deus nos reconhece e só a partir daí podemos de facto
continuar este dinamismo de Amor.
Quem não é capaz de
se reconhecer e amar a si próprio nunca será capaz de viver uma experiência
madura para com os irmãos, não será capaz de viver uma experiência madura de
correspondência ao amor de Deus.
Quem não vive o amor
aos irmãos será incapaz de se amar a si próprio e de amar a Deus. Diz-nos S.
João numa das suas Cartas: quem diz que ama a Deus que não vê e não ama o irmão
que vê, é mentiroso e a verdade não está nele, porque é impossível amarmos a
Deus, sem tornarmos esse amor vivo na nossa relação interpessoal, o amor aos
irmãos. Por outro lado viver a experiência do amor a si mesmo e do amor aos
irmãos só é possível quando fazemos profundamente a experiência do Amor de Deus.
E por isto este é o primeiro mandamento: Não
fomos nós que amámos a Deus, foi Ele que nos amou primeiro é Ele que nos dá
esta capacidade de amarmos… apenas como correspondência a esta fonte de
amor infinito que Ele é …. e que Ele se revela para cada um de nós.
Os Mandamentos, não
são regras para cumprirmos exteriormente, não são preceitos para nos
tranquilizar a consciência religiosa apenas porque os cumprimos, são uma
pedagogia de amor é um caminho que Deus nos apresenta para alcançarmos a felicidade que em plenitude só Nele se encontra… e
este é o desafio… é o de escutarmos a Sua palavra de Amor, de a pormos em
pratica, de a vivermos como um dinamismo que se exprime precisamente neste
movimento de amor a Deus, amor a nós próprios, de amor aos irmãos… mas num único dinamismo de amor porque a
FONTE É ÚNICA, é o único Deus.
Jesus
perante a resposta do escriba: Amar a Deus com todo o coração, com toda a inteligência e com
todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo,
vale mais do que todos os holocaustos e
sacrifícios».
Como cristãos, somos chamados a unirmo-nos a Jesus, à Sua entrega de
Amor… quando renovamos o sacrifício na celebração da eucaristia não estamos a
celebrar outro sacrifício, não estamos a oferecer outro culto.
Estamos a
unir-nos à entrega de Jesus que ofereceu um sacrifício definitivo e agora vive
eternamente para interceder por nós… É com Ele, unidos a ele que podemos fazer
esta experiência de quanto Deus nos ama dando em Cristo a Sua vida por nós e de
como a partir de Cristo e desta união ao sacrifício de Jesus podemos
verdadeiramente amarmo-nos como irmãos e assim viver os mandamentos, não como
preceitos externos, mas como caminho da vivência, da correspondência do amor
com que Deus se revela a cada um de nós.
Procuremos
pois, ao celebrarmos esta Eucaristia alimentarmo-nos deste amor revelado em
Cristo no dom da Sua Vida por nós e aprendamos com Ele a entregarmo-nos a Deus
e aos Irmãos… essa é a experiência plena do amor cristão. Procuremos assim, que
o Senhor nos ajude a viver na vida aquilo que professamos na fé, aquilo que
escutamos e somos chamados a pôr em prática para sermos felizes
4 de Novembro
de 2012
Igreja
Paroquial de Cristo Rei da Portela – Lisboa
Padre Pedro Lourenço
Extractos da homilia da Eucaristia transmitida pelo Canal 1
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