Leituras:
1Rs
17,10-16; Sl 145 /146); Hb 9,24-28; Mc 12,38-44
1.
Um braçado de gravetos, um copo de água, um punhado de farinha, um
tudo-nada de azeite. Juntando as pontas destes fios, a viúva de Sarepta prepara-se para fazer uma última refeição de
despedida da vida juntamente com o seu filho único. É nesta terra quase a
terminar, onde já mal se tem pé, nesta vida quase a expirar, que surge Elias, o
homem de Deus, conduzido por Deus, que atira à pobre mulher mais um pouco, mais
um fio de voz e de esperança: Deus. Não
é a quantidade que conta; o que conta é a totalidade. Pelo fio de voz e de
esperança de Elias, Deus não reclama
alguma coisa; reclama tudo: o coração todo, a alma toda, a confiança toda,
as forças todas! E nem a farinha se esgota na amassadeira, nem o fio de azeite
deixa de cair da almotolia!
Extraordinária lição para a pobre viúva de Sarepta (Primeiro Livro dos Reis
17,10-16) e para nós.
2.
Bem, neste contexto, o fio ou a linha poética e melódica do Salmo 146 (145), que põe Deus tão perto
de nós, a fazer justiça aos oprimidos, a dar pão aos que têm fome, a tomar a
seu cuidado o órfão e a viúva, e a atirar-me todo para Deus, com aquele grito
repetido: «Ó minha alma, louva o Senhor!»
(Ver os verbos do Salmo 146: o senhor 1. Sacia; 2. faz justiça; 4.
liberta; 5. ilumina; 6. fortalece; 7. protege; 8. consola; 9. ama; 10. está
perto… )
3.
Na verdade, «Deus habita nos louvores de Israel» (Salmo 22(21),4). Habita nos
nossos louvores, na nossa dedicação e devotação total a Ele, na nossa vida
posta em melodia….
Foi
assim, sacerdotalmente, que Jesus Cristo se ofereceu totalmente ao Pai e a nós
e por nós, deixando-nos à espera e a viver dessa espera na esperança da sua
Vinda. Um fio tenso de luz e de sentido,
a que se chama esperança, nos ata para sempre a esse Senhor-que-Vem. Fio ou
linha musical, vital, de cada Domingo, em que cantamos: «Senhor, vem!» (marana
tha’), porque sabemos que «o Senhor vem!» (maran ’atta’). O Domingo deve imprimir em nós o «tique» da
esperança, deixando-nos com o pescoço esticado para Deus, na situação de
quem O espera e vive da sua Vinda a todo o momento. É a Lição de Hebreus 9,24-28.
4. O Evangelho de Marcos 12,38-44
põe em cena e em claro destaque uma
viúva pobre que dá a Deus a sua vida toda, em contraponto com os escribas e
muitos outros, que fazem bom teatro religioso! Excelente inclusão literária no
Evangelho de Marcos: da primeira vez que Jesus aparece a ensinar em público,
neste Evangelho, o povo exclama: «Este ensina com autoridade, e não como os
escribas!» (Marcos 1,22); a terminar a sua actividade pública neste Evangelho, é Jesus que mostra bem que não é
como os escribas (Marcos 12,38-40). A cena central passa-se no átrio das
mulheres do Templo de Jerusalém, num lugar chamado «Casa do Tesouro» (bêt
ha-gazît) (Marcos 12,41-44). Muita gente deitava aí muito do que lhe
sobrava, mas a viúva pobre deu «tudo
quanto tinha, a sua vida toda!». Fio de sentido que liga este episódio ao
que já encontrámos no Primeiro Livro dos Reis 17,10-16.
5.
Dar a vida toda, toda a vida ou fazer
teatro religioso, eis a questão deste Domingo, e que nos pode ficar como mote para esta semana.
De
António Couto – Nov. 2009, (adaptado)
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