segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Domingo XXIII do Tempo Comum

“SENTAR-SE, PENSAR, AMAR, DECIDIR"

(Lucas 14,25-33)

1. Desde Lucas 9,51 que Jesus está decididamente A CAMINHO de Jerusalém. E assim continuará até 19,28. Com este belo recurso à tipologia do CAMINHO e do verbo CAMINHAR, Lucas exemplifica e clarifica o modo cristão de viver. Porque todo o CAMINHO abre o mundo ao meio, ao mesmo tempo que vai desenhando e actualizando a nossa vida Num mundo plano como o nosso, o Evangelho de Lucas rasga CAMINHOS e procede a verdadeiras operações de CORAÇÃO aberto. CAMINHO que abre CAMINHOS novos, novas maneiras de viver, com Jesus, que é o CAMINHO, sabe o CAMINHO, mostra o CAMINHO e faz o CAMINHO.

2. E aí está o Evangelho deste Domingo a abrir com a indicação de que «CAMINHAVAM com Ele multidões numerosas». E Jesus, sempre com tempo, a voltar-se para nos dizer palavras cortantes como: «Se alguém vem ter comigo e não odeia o próprio pai e a mãe e a mulher e os filhos e os irmãos e as irmãs, e até a própria vida, não pode ser meu discípulo» (Lucas 14,26-27). O que se diz aqui da família mais directa e da própria vida, dir-se-á um pouco mais à frente dos «próprios bens»

Não é necessário «odiar» ninguém. Mas é preciso, é decisivo, «amar mais», para sermos e termos «mais» irmãos.

A palavra «odiar», é usada aqui porque a tradução do modo de dizer aramaico, hebraico e semítico em geral, são línguas que não têm outro verbo para dizer «preferir». O sentido do texto acima não passa por «odiar» a família ou a própria vida, mas por alguém «preferir» ou «pôr antes» do seguimento de Jesus a família, a própria vida ou os bens. Em conclusão esta palavra tinha um sentido bastante diferente daquele que lhe damos hoje.
“Posto isto, entenda-se bem que o CAMINHO de Jesus é um CAMINHO de decisões fortes, radicais. Sendo que «decisão» deriva de «decidere», cuja etimologia remete para «cortar». Aí estamos no domínio da operação de CORAÇÃO aberto que tem de fazer todo o discípulo de Jesus.
Sendo um CAMINHO de decisões fortes, de cortes, é também um CAMINHO de ponderação e deliberação atenta e serena. Por isso, por duas vezes, o dizer de Jesus convida a «sentar-se primeiro» (Lucas 14,28 e 31).

A Assembleia Dominical é um tempo extraordinariamente denso e intenso, em que os discípulos de Jesus e as multidões se sentam para ouvir a Palavra de Deus, e para tomar as decisões consentâneas com a força da Palavra que escutamos. Todos os discípulos de Jesus se devem sujeitar urgentemente a esta operação de CORAÇÃO aberto”.

D. António Couto - Mesa de Palavras
Adaptado: p. Hermínio Vitorino sj

Imagens: a arte de Rupnik



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