“SENTAR-SE, PENSAR, AMAR, DECIDIR"
(Lucas 14,25-33)
1. Desde Lucas 9,51
que Jesus está decididamente A CAMINHO de Jerusalém. E assim continuará até
19,28. Com este belo recurso à tipologia do CAMINHO e do verbo CAMINHAR, Lucas
exemplifica e clarifica o modo cristão de viver. Porque todo o CAMINHO abre o
mundo ao meio, ao mesmo tempo que vai desenhando e actualizando a nossa vida
Num mundo plano como o nosso, o Evangelho de Lucas rasga CAMINHOS e procede a
verdadeiras operações de CORAÇÃO aberto. CAMINHO que abre CAMINHOS novos, novas
maneiras de viver, com Jesus, que é o
CAMINHO, sabe o CAMINHO, mostra o CAMINHO e faz o CAMINHO.
2. E aí está o
Evangelho deste Domingo a abrir com a indicação de que «CAMINHAVAM com Ele
multidões numerosas». E Jesus, sempre com tempo, a voltar-se para nos dizer
palavras cortantes como: «Se alguém vem ter comigo e não odeia o próprio pai e
a mãe e a mulher e os filhos e os irmãos e as irmãs, e até a própria vida, não
pode ser meu discípulo» (Lucas 14,26-27). O que se diz aqui da família mais directa e da própria vida, dir-se-á um pouco mais à frente
dos «próprios bens»
Não é necessário «odiar» ninguém. Mas é preciso, é decisivo,
«amar mais», para sermos e termos «mais» irmãos.
A palavra «odiar», é
usada aqui porque a tradução do modo de dizer aramaico, hebraico e semítico em
geral, são línguas que não têm outro verbo para dizer «preferir». O sentido do
texto acima não passa por «odiar» a família ou a própria vida, mas por alguém
«preferir» ou «pôr antes» do seguimento de Jesus a família, a própria vida ou
os bens. Em conclusão esta palavra tinha um sentido bastante diferente daquele
que lhe damos hoje.
“Posto isto,
entenda-se bem que o CAMINHO de Jesus é
um CAMINHO de decisões fortes, radicais. Sendo que «decisão» deriva de «decidere»,
cuja etimologia remete para «cortar». Aí estamos no domínio da operação de
CORAÇÃO aberto que tem de fazer todo o discípulo de Jesus.
Sendo um CAMINHO de
decisões fortes, de cortes, é também um
CAMINHO de ponderação e deliberação atenta e serena. Por isso, por duas
vezes, o dizer de Jesus convida a «sentar-se primeiro» (Lucas 14,28 e 31).
A Assembleia Dominical é um tempo extraordinariamente denso e
intenso, em que os
discípulos de Jesus e as multidões se sentam para ouvir a Palavra de Deus, e
para tomar as decisões consentâneas com a força da Palavra que escutamos. Todos
os discípulos de Jesus se devem sujeitar urgentemente a esta operação de
CORAÇÃO aberto”.
D. António Couto - Mesa de Palavras
Adaptado: p. Hermínio Vitorino sj
Imagens: a arte de Rupnik
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