DUAS MULHERES AGRACIADAS POR JESUS: A FILHA
DE JAIRO E A MULHER QUE SOFRE DE FLUXO DE SANGUE? QUE SIGNIFICAM OS MILAGRES DE
JESUS?
No Domingo passado, sentimo-nos perdidos
como os Apóstolos no meio da tempestade que nos assola e, como eles, sacudimos
o Senhor que dorme para vir em nosso auxílio. Hoje, neste Domingo, vemos o
chefe da Sinagoga de Cafarnaúm, desamparado diante da doença de sua filha e,
quando Jesus se dirigia para ver a doente, atravessou-se-lhe no caminho, uma
mulher completamente fora de si que sofre de fluxo de sangue não menos desamparada,
porque se sentia, com vergonha, marginalizada e impura perante a lei. A doença
nos arranca a vida pouco e pouco e é o prelúdio da morte!.. Mas o Senhor nos
salva nas situações extremas e não nos deixa perecer. Assim como nos sentimos
perdidos pela força duma natureza que se nos opõe e que, por vezes, acaba por
esmagar-nos (Evangelho do domingo passado), também nos sentimos desamparados
ante a doença, que nos arranca a vida pouco a pouco, e é o prelúdio da morte
(Evangelho deste Domingo). Mas na tempestade desencadeada e na aflição da
doença que nos atormenta, nas situações mais extremas, o Senhor, embora nos
pareça que dorme, está bem desperto. Este é a nossa certeza corroborada pela mesma
promessa do Senhor: “Eu estarei todos os dias convosco até ao fim dos tempos”.
O que Ele deseja é que O acordemos por uma oração fervorosa e confiante:
“Então, Senhor, Não vês que estamos perdidos?!”. Somos salvos nas situações
mais extremas, onde somos convidados a ter fé, porque brilhará
esplendorosamente a imagem de Deus imortal inscrita no nosso ser desde o
primeiro momento da nossa existência.
A filha de Jairo e a mulher que sofre de
fluxo de sangue. Os milagres de cura que nos conta o Evangelho de hoje,
manifestam que Deus é inimigo do mal do homem que Deus é amor, que Cristo, na
sua Páscoa vai tomar o poder sobre todas as coisas. E tudo isto para nosso
benefício. Cristo, imagem de Deus invisível toma, como vemos no conjunto do
Evangelho a figura de terapeuta, inimigo daquilo que fere os homens. Estas
curas, contudo não são uma solução. A cura, como por exemplo, a cura do cego de
Siloé é certamente uma coisa muito boa, mas que tem a ver a cura do cego de
Siloé com a cura de todos os cegos do mundo. Por isso os milagres não são uma
solução, mas sinais. Sinais de quê? Da ternura de Deus para connosco e da
eficácia desta ternura. Os males que nos afligem serão erradicados e isto se
realizará na ressurreição, Os milagres de Cristo são, por isso, profecias que
anunciam a Páscoa, acontecimento de salvação. O Homem vive como que alienado,
não apenas com a alienação material de que nos fala Marx mas, segundo os Santos
Padres da Igreja, ao comentarem o episódio do homem que cai em poder dos
salteadores dizem que o homem vive alienado porque espoliado e ferido como
aquele que cai nas mãos dos salteadores, isto é, o homem vive spoliatus in
supernaturalibus e vulneratus in naturalibus. Os milagres significam o fim do
conflito entre o homem e a natureza que se impõe a ele e acaba por esmagá-lo. A
doença e a morte não são senão peripécias deste conflito. E o Evangelho de hoje
nos dois casos ou nos dois milagres, o da filha de Jairo e o da mulher que
sofre de fluxo de sangue fala-nos da passagem duma fé hesitante para uma fé na
ressurreição Tanto num como noutro caso dá-se a passagem duma fé quase mágica:
Jairo pede uma imposição das mãos e a a mulher um simples toque. Mas os dois
procuram uma saída e esta apenas lhes será dada por Cristo. Pouco importa a
imperfeição na aproximação de Cristo num e noutro caso. O milagre vai fazer
evoluir os beneficiários para uma fé viva.
A cura e a salvação. Tanto a fé da mulher
como a fé de Jairo é uma fé imperfeita. É preciso num e noutro caso que o
milagre apareça não como um prodígio mas como um verdadeira encontro. Este
processo se caracteriza tanto num como noutro caso por meio de duas palavras: curar e salvar. Certamente que a cura da mulher é já fruto duma fé, mas duma fé no
seu começo. A salvação será o fruto da fé total. Fé e salvação é a mesma
realidade, porque a fé é a comunhão com Aquele carrega o nosso mal e que tira o
mal do mundo: Jesus Cristo. Quanto à filha de Jairo, não é senão uma morte que
é um espécie de sono e não a verdadeira morte. Por isso, Jesus diz: A menina não
está morta. Está a dormir…
P. José Augusto Alves de Sousa, sj