JESUS EM NAZARÉ. COMO O ACOLHERAM OS SEUS CONTERRÂNEOS?
COMO O ACOLHEMOS NÓS?
Duccio
No Domingo passado, acompanhamos Jesus, de volta a
Cafarnaum, de regresso da terra estrangeira, a terra dos gadarenos (Mt.28-34). Pelo
caminho, vêm ter com ele, Jairo e a mulher que sofre de fluxo de sangue.
Jairo pede a cura para sua filha e a mulher fica-se por tocar as vestes de
Jesus, pois pensa que, desse modo, ficará curada. Ao princípio, estes encontros,
tanto num como noutro caso, resultam
numa cura. Mas, depois, tais encontros, ao serem seguidos duma palavra de
comunhão entre Jesus e os intervenientes, operam uma cura ainda mais profunda, a salvação que nos traz a fé na pessoa
de Jesus. Foi necessária uma palavra de
comunhão e de aliança, para que a fé se tornasse uma realidade, um encontro!..
Hoje,
contemplamos Jesus em Nazaré.
Antes desta ida de Jesus a Nazaré, os seus familiares, já um dia, o tentam
convencer a voltar à família para retomar o seu trabalho de carpinteiro. Nessa altura, Jesus dirigindo o olhar para
aqueles que estavam à sua volta para o ouvir, exclama: “Aí estão minha mãe e
meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (Mt.3, 31-35). Agora, como
lemos no Evangelho de hoje, por sua iniciativa, Jesus volta a Nazaré para
apresentar à antiga família (a
família de sangue), a sua nova família
composta por todos aqueles e aquelas que responderam e respondem ao seu chamamento;
são os discípulos, que deixaram as redes, que deixaram o passado e se puseram a
segui-lo, e são todos os que ontem e hoje, se predispõem a fazer o mesmo. E nós, com eles!.. Com eles, Jesus vai
abrir a “Casa de Israel” a todos! E este é o escândalo dos seus conterrâneos e
também o nosso, quando nos refugiamos numa cultura ou numa comunidade e não
damos espaço a outras realidades.
Jesus está,
pois, na sua terra. Pensávamos que seria
bem recebido e que as gentes da Nazaré, onde vivera, se orgulhassem por Ele ter
crescido no seu seio. Mas no encontro com a sua antiga família, o evangelista
Marcos no-lo apresenta como um Sábio
desconhecido para os seus conterrâneos, um Profeta desprezado, um Médico
incapaz de curar.
Compreendemos agora, mais facilmente, que os estrangeiros, junto dos quais Jesus
libertou um homem acorrentado por uma legião de demónios, o não tenham acolhido
e, com medo, lhe peçam para os deixar e abandonar a sua terra. Preferem viver
na paz em que sempre viveram e que ninguém os incomode.
Mas em Nazaré, na sua terra, Jesus é rejeitado pelo
seu povo! Ele é a imagem dum
desconhecido: quem é este? Não é ele
o carpinteiro? Esta narração não deixa de ser surpreendente. Jesus é rejeitado,
precisamente em seu próprio povo, entre aqueles que criam conhecê-lo melhor do
que ninguém. Ele chega a Nazaré acompanhado de seus discípulos e ninguém sai ao
seu encontro como sucede noutros lugares E pior ainda. Nem sequer lhe
apresentam os enfermos da aldeia para que os cure. A sua presença somente
desperta o assombro e nada mais!..
Não pôde
fazer ali nenhum milagre. Estamos
habituados a ver a Deus que pode tudo, que gere tudo e ao qual nada escapa.
Assim, podemos dizer que o escândalo da Encarnação, o facto de Deus se fazer
homem se agrava com a leitura do texto da liturgia de hoje. Pois nele, se diz: não pôde fazer ali nenhum milagre.
Gostaríamos de dizer: Jesus quereria dar a vida, saúde, integridade… Mas Ele
não é totalmente senhor da sua acção dos seus dons. O dom é assunto de aliança.
É necessário haver dois: um eu e um tu para que haja lugar para aliança.
Aquele que dá e aquele que aceita na fé, que recebe. Logo, ele de facto não
pode tudo; não pode contra a nossa vontade. O texto diz ainda: “ele se admirou-se com a sua falta de fé”
Ele constata o facto e aprende... Em Mateus 14, Ele aprende a notícia da morte
de João Baptista. Quer isto dizer. Deus pode tudo, se a liberdade do homem lhe abre
um caminho e nada pode sem essa abertura. É
o mistério da nossa liberdade que Deus respeita, porque nos fez livres e não
escravos.
Aceitamo-lo
assim nas nossas comunidades, na nossa Igreja? Marcos não nos narra a ida de Jesus a Nazaré para
nossa curiosidade, mas para advertir as comunidades cristãs que Jesus pode ser
rejeitado precisamente por aqueles que crêem conhece-lo melhor do que os
outros. Todos aqueles que se fecham nas suas ideias preconcebidas, correm o perigo
de não se abrir à novidade da sua mensagem e ao mistério da sua pessoa.
A Casa de
Israel fechou-se, mas a Igreja, novo
Povo de Deus, nova morada de Deus com seu Povo, tem que abrir as suas
portas para nela entrarem todos os homens e mulheres, sem acepção de pessoas.
P. José Augusto Alves de Sousa, sj
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