domingo, 5 de julho de 2015

XIV Domingo do tempo Comum

 JESUS EM NAZARÉ. COMO O ACOLHERAM OS SEUS CONTERRÂNEOS? 
COMO O ACOLHEMOS NÓS?

Duccio

No Domingo passado, acompanhamos Jesus, de volta a Cafarnaum, de regresso da terra estrangeira, a terra dos gadarenos (Mt.28-34). Pelo caminho, vêm ter com ele, Jairo e a mulher que sofre de fluxo de sangue. Jairo pede a cura para sua filha e a mulher fica-se por tocar as vestes de Jesus, pois pensa que, desse modo, ficará curada. Ao princípio, estes encontros, tanto num como noutro caso, resultam numa cura. Mas, depois, tais encontros, ao serem seguidos duma palavra de comunhão entre Jesus e os intervenientes, operam uma cura ainda mais profunda, a salvação que nos traz a fé na pessoa de Jesus. Foi necessária uma palavra de comunhão e de aliança, para que a fé se tornasse uma realidade, um encontro!..

Hoje, contemplamos Jesus em Nazaré. Antes desta ida de Jesus a Nazaré, os seus familiares, já um dia, o tentam convencer a voltar à família para retomar o seu trabalho de carpinteiro. Nessa altura, Jesus dirigindo o olhar para aqueles que estavam à sua volta para o ouvir, exclama: “Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt.3, 31-35). Agora, como lemos no Evangelho de hoje, por sua iniciativa, Jesus volta a Nazaré para apresentar à antiga família (a família de sangue), a sua nova família composta por todos aqueles e aquelas que responderam e respondem ao seu chamamento; são os discípulos, que deixaram as redes, que deixaram o passado e se puseram a segui-lo, e são todos os que ontem e hoje, se predispõem a fazer o mesmo. E nós, com eles!.. Com eles, Jesus vai abrir a “Casa de Israel” a todos! E este é o escândalo dos seus conterrâneos e também o nosso, quando nos refugiamos numa cultura ou numa comunidade e não damos espaço a outras realidades.  
Jesus está, pois, na sua terra. Pensávamos que seria bem recebido e que as gentes da Nazaré, onde vivera, se orgulhassem por Ele ter crescido no seu seio. Mas no encontro com a sua antiga família, o evangelista Marcos no-lo apresenta como um Sábio desconhecido para os seus conterrâneos, um Profeta desprezado, um Médico incapaz de curar.

Compreendemos agora, mais facilmente, que os estrangeiros, junto dos quais Jesus libertou um homem acorrentado por uma legião de demónios, o não tenham acolhido e, com medo, lhe peçam para os deixar e abandonar a sua terra. Preferem viver na paz em que sempre viveram e que ninguém os incomode.
Mas em Nazaré, na sua terra, Jesus é rejeitado pelo seu povo! Ele é  a imagem dum desconhecido: quem é este? Não é ele o carpinteiro? Esta narração não deixa de ser surpreendente. Jesus é rejeitado, precisamente em seu próprio povo, entre aqueles que criam conhecê-lo melhor do que ninguém. Ele chega a Nazaré acompanhado de seus discípulos e ninguém sai ao seu encontro como sucede noutros lugares E pior ainda. Nem sequer lhe apresentam os enfermos da aldeia para que os cure. A sua presença somente desperta o assombro e nada mais!..
Não pôde fazer ali nenhum milagre. Estamos habituados a ver a Deus que pode tudo, que gere tudo e ao qual nada escapa. Assim, podemos dizer que o escândalo da Encarnação, o facto de Deus se fazer homem se agrava com a leitura do texto da liturgia de hoje. Pois nele, se diz: não pôde fazer ali nenhum milagre. Gostaríamos de dizer: Jesus quereria dar a vida, saúde, integridade… Mas Ele não é totalmente senhor da sua acção dos seus dons. O dom é assunto de aliança. É necessário haver dois: um eu e um tu para que haja lugar para aliança. Aquele que dá e aquele que aceita na fé, que recebe. Logo, ele de facto não pode tudo; não pode contra a nossa vontade. O texto diz ainda: “ele se admirou-se com a sua falta de fé” Ele constata o facto e aprende... Em Mateus 14, Ele aprende a notícia da morte de João Baptista. Quer isto dizer. Deus pode tudo, se a liberdade do homem lhe abre um caminho e nada pode sem essa abertura. É o mistério da nossa liberdade que Deus respeita, porque nos fez livres e não escravos.

Aceitamo-lo assim nas nossas comunidades, na nossa Igreja? Marcos não nos narra a ida de Jesus a Nazaré para nossa curiosidade, mas para advertir as comunidades cristãs que Jesus pode ser rejeitado precisamente por aqueles que crêem conhece-lo melhor do que os outros. Todos aqueles que se fecham nas suas ideias preconcebidas, correm o perigo de não se abrir à novidade da sua mensagem e ao mistério da sua pessoa.
A Casa de Israel fechou-se, mas a Igreja, novo Povo de Deus, nova morada de Deus com seu Povo, tem que abrir as suas portas para nela entrarem todos os homens e mulheres, sem acepção de pessoas.
P. José Augusto Alves de Sousa, sj



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