DEUS ESCOLHE QUEM QUER, COMO QUER E DONDE QUER
As três leituras da
Liturgia deste Domingo (Amós7,12-15;
Efésios1,3-14; Marcos 6,7-13) referem-se ao tema da escolha, da vocação. Amós,
Israel, os discípulos de Cristo, os Doze Apóstolos são postos à parte, porque
escolhidos por Deus para uma missão. Deste modo, aparece uma certa tensão entre
alguns, aqueles que são escolhidos e todos os demais que, embora sendo também
escolhidos, não o são do mesmo modo. Deus escolhe quem quer, donde quer e como
quer. A sua escolha é graça! Tudo isto está patente na vocação de Amós, onde
Deus é que tem a iniciativa e o mesmo sucede na vocação dos discípulos e dos
Doze Apóstolos. É o Senhor, pois, quem os escolhe quem os chama e quem os envia
com uma tríplice missão: pregar a conversão, expulsar os demónios e curar os
enfermos.
Enviados
dois a dois: Depois de os chamar, Jesus envia-os dois a
dois como requisito, para que possam ser credíveis, como anunciadores e
testemunhas da verdade. A missão sai, pois de Cristo, através duma comunidade e
volta à comunidade para expressão comunitária da alegria do Evangelho que
progride em e através duma comunidade. Podemos deleitar-nos, aqui, com a
leitura do Evangelho de S. Lucas, onde Jesus e os discípulos exprimem uma
grande alegria, porque depois da Missão, eles vêem Satanás cair do Céu. Jesus
chama-os à parte para celebrarem, juntos, essa alegria do Evangelho (Lucas 10,
17-20). E Paulo, para começar a sua missão em Corinto, seguindo o conselho de
Cristo, não a quis iniciar sozinho sem que viesse de Éfeso Silas e Timóteo
destinados a trabalhar com ele, na primeira evangelização dos Coríntios. Estes
alguns são chamados em vista da realização do projecto de Deus: “ atrair todo o
Universo para Cristo, isto é, reunir todos os homens sob um só chefe, sob uma
só cabeça, Jesus Cristo”.
Relação,
comunicação: As consignas de Jesus dadas aos enviados
vão no sentido de que eles não deixem de tomar contacto com as pessoas. Deste contacto
nascerá a relação, a partilha, a convivência, tudo isto, o sinal da unidade do
Pai do Filho e do Espírito Santo. São convidados a viverem esta realidade
depositada por Deus nos corações, mesmo antes de a compreenderam pelo anúncio
do Evangelho: “colhereis onde não
semeaste”!.. Trata-se, no anúncio do Evangelho de despertar algo que já se encontra
nos destinatários significado pelas famosas ”Sementes do Verbo” de que fala o
Vaticano II. Trata-se de conduzir à sua fecundidade tudo o que já está naqueles
que evangelizamos. Relação e comunicação são, por isso, a pedra fundamental do
primeiro anúncio do Evangelho.
Um
estilo de vida: Jesus não escolhe os seus discípulos de qualquer
maneira. Para colaborar no seu projecto de Reino de Deus e prolongar a sua
missão, é necessário cuidar dum estilo de vida. Se assim não fosse, os
discípulos poderiam fazer muitas coisas e até coisas muito boas, mas não
introduziriam no mundo o Espírito de Cristo, o fim do envio e da missão. Mas em
que é que se caracteriza este estilo de vida? Marcos diz que Jesus os envia. É
esta a primeira condição: ser enviado por Jesus. Notemos, porém que, neste
envio, não lhes dá poder sobre as pessoas que irão encontrar pelo caminho, mas
envia-os como quem tem autoridade sobre os espíritos impuros, isto é, sobre
aquelas forças negativas que impedem os homens de serem pessoas, as forças que
escravizam e desumanizam, os homens. Expulsar os demónios significa restituir
ao homem a sua integridade, a sua dignidade, a sua verdade. Não utilizarão o
seu poder para governar, mas para curar, aliviar os sofrimentos, mitigá-los. Levarão
bastão e sandálias, porque Jesus os imagina como caminhantes e nunca
instalados. Sempre a caminho!.. O bastão é para os ajudar a caminhar e para os
tornar presentes, onda haja quem necessita ajuda. E nem sequer levarão pão, alforge
ou dinheiro para não estarem obcecados com a própria segurança. Levarão consigo
algo muito mais importante: o Espírito
de Jesus, a sua Palavra e a sua Autoridade para que possam humanizar a vida das
gentes.
De
mãos vazias: os enviados vão despojados de tudo e,
portanto, sem poder. São totalmente dependentes das pessoas que encontram,
mesmo para a sua subsistência. Não se trata de testemunharem uma espécie de
heroísmo apostólico, mas duma necessidade para que os destinatários do
Evangelho não sejam influenciados nem pelo prestígio, nem pela riqueza dos
enviados. Paulo irá ainda mais longe, ao pedir a pobreza da linguagem “ a fim
de que a fé não repouse na sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus
(1.Cor.2,1-5). Não podendo apoiar-se sobre eles próprios, os Apóstolos não
poderão apoiar-se senão em Deus. Mas então brilhará na fraqueza dos mensageiros
o poder de Deus. Meditávamos no Domingo passado o que Jesus dizia a Paulo: “basta-te a minha graça porque é na fraqueza
que se manifesta todo o meu poder. De boa vontade, me gloriarei nas minhas
fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo… quando sou fraco, então é
que sou forte” (2Cor.12, 7-10).
P. José Augusto Alves de
Sousa, sj
Nenhum comentário:
Postar um comentário