sexta-feira, 10 de julho de 2015

XV Domingo do tempo Comum

DEUS ESCOLHE QUEM QUER, COMO QUER E DONDE QUER


As três leituras da Liturgia deste Domingo (Amós7,12-15; Efésios1,3-14; Marcos 6,7-13) referem-se ao tema da escolha, da vocação. Amós, Israel, os discípulos de Cristo, os Doze Apóstolos são postos à parte, porque escolhidos por Deus para uma missão. Deste modo, aparece uma certa tensão entre alguns, aqueles que são escolhidos e todos os demais que, embora sendo também escolhidos, não o são do mesmo modo. Deus escolhe quem quer, donde quer e como quer. A sua escolha é graça! Tudo isto está patente na vocação de Amós, onde Deus é que tem a iniciativa e o mesmo sucede na vocação dos discípulos e dos Doze Apóstolos. É o Senhor, pois, quem os escolhe quem os chama e quem os envia com uma tríplice missão: pregar a conversão, expulsar os demónios e curar os enfermos.

Enviados dois a dois: Depois de os chamar, Jesus envia-os dois a dois como requisito, para que possam ser credíveis, como anunciadores e testemunhas da verdade. A missão sai, pois de Cristo, através duma comunidade e volta à comunidade para expressão comunitária da alegria do Evangelho que progride em e através duma comunidade. Podemos deleitar-nos, aqui, com a leitura do Evangelho de S. Lucas, onde Jesus e os discípulos exprimem uma grande alegria, porque depois da Missão, eles vêem Satanás cair do Céu. Jesus chama-os à parte para celebrarem, juntos, essa alegria do Evangelho (Lucas 10, 17-20). E Paulo, para começar a sua missão em Corinto, seguindo o conselho de Cristo, não a quis iniciar sozinho sem que viesse de Éfeso Silas e Timóteo destinados a trabalhar com ele, na primeira evangelização dos Coríntios. Estes alguns são chamados em vista da realização do projecto de Deus: “ atrair todo o Universo para Cristo, isto é, reunir todos os homens sob um só chefe, sob uma só cabeça, Jesus Cristo”.

Relação, comunicação: As consignas de Jesus dadas aos enviados vão no sentido de que eles não deixem de tomar contacto com as pessoas. Deste contacto nascerá a relação, a partilha, a convivência, tudo isto, o sinal da unidade do Pai do Filho e do Espírito Santo. São convidados a viverem esta realidade depositada por Deus nos corações, mesmo antes de a compreenderam pelo anúncio do Evangelho: “colhereis onde não semeaste”!.. Trata-se, no anúncio do Evangelho de despertar algo que já se encontra nos destinatários significado pelas famosas ”Sementes do Verbo” de que fala o Vaticano II. Trata-se de conduzir à sua fecundidade tudo o que já está naqueles que evangelizamos. Relação e comunicação são, por isso, a pedra fundamental do primeiro anúncio do Evangelho.

Um estilo de vida: Jesus não escolhe os seus discípulos de qualquer maneira. Para colaborar no seu projecto de Reino de Deus e prolongar a sua missão, é necessário cuidar dum estilo de vida. Se assim não fosse, os discípulos poderiam fazer muitas coisas e até coisas muito boas, mas não introduziriam no mundo o Espírito de Cristo, o fim do envio e da missão. Mas em que é que se caracteriza este estilo de vida? Marcos diz que Jesus os envia. É esta a primeira condição: ser enviado por Jesus. Notemos, porém que, neste envio, não lhes dá poder sobre as pessoas que irão encontrar pelo caminho, mas envia-os como quem tem autoridade sobre os espíritos impuros, isto é, sobre aquelas forças negativas que impedem os homens de serem pessoas, as forças que escravizam e desumanizam, os homens. Expulsar os demónios significa restituir ao homem a sua integridade, a sua dignidade, a sua verdade. Não utilizarão o seu poder para governar, mas para curar, aliviar os sofrimentos, mitigá-los. Levarão bastão e sandálias, porque Jesus os imagina como caminhantes e nunca instalados. Sempre a caminho!.. O bastão é para os ajudar a caminhar e para os tornar presentes, onda haja quem necessita ajuda. E nem sequer levarão pão, alforge ou dinheiro para não estarem obcecados com a própria segurança. Levarão consigo algo muito mais importante: o Espírito de Jesus, a sua Palavra e a sua Autoridade para que possam humanizar a vida das gentes.

De mãos vazias: os enviados vão despojados de tudo e, portanto, sem poder. São totalmente dependentes das pessoas que encontram, mesmo para a sua subsistência. Não se trata de testemunharem uma espécie de heroísmo apostólico, mas duma necessidade para que os destinatários do Evangelho não sejam influenciados nem pelo prestígio, nem pela riqueza dos enviados. Paulo irá ainda mais longe, ao pedir a pobreza da linguagem “ a fim de que a fé não repouse na sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus (1.Cor.2,1-5). Não podendo apoiar-se sobre eles próprios, os Apóstolos não poderão apoiar-se senão em Deus. Mas então brilhará na fraqueza dos mensageiros o poder de Deus. Meditávamos no Domingo passado o que Jesus dizia a Paulo: “basta-te a minha graça porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder. De boa vontade, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo… quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor.12, 7-10).

P. José Augusto Alves de Sousa, sj


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