segunda-feira, 18 de abril de 2016

Tanto bem recebido! Tudo é graça!

Partilha

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

É já com alguma distância de tempo - a necessária para que a experiência vivida desça ao coração - que me resolvi a escrever este “testemunho”. Quis pôr esta palavra entre aspas porque na verdade, tremo um pouco, de cada vez que me pedem um testemunho; fico sempre com a ideia que tenho de ensinar ou convencer alguém. Por isso, o que vou fazer é muito mais uma partilha de como vi e como senti este tempo de Quaresma e semana Santa, em que me foi dada a missão: “de viver numa casa de jesuítas já formados (todos mais velhos do que eu) e ajudá-los no que pudesse e me fosse pedindo na paróquia.”

Estando as introduções feitas, vamos à partilha!

Antes de mais, fui incrivelmente bem recebido! Disso não tenho qualquer dúvida desde o primeiro dia… Senti-me muito rapidamente em casa e a isto muito ajudou a preocupação de todos em acolher-me bem! Quer pelas constantes perguntas que faziam - se estava a gostar ou se já conhecia as coisas mais características da Covilhã; quer pelos convites para ir conhecer as famílias nas suas casas; ou ainda pelos pedidos e solicitações que me faziam para participar em vários grupos, mais ou menos ligados à paróquia de São Pedro.

Outra coisa muito bonita, foi o desejo que muitas pessoas manifestavam que nalgum dia, uns anos mais tarde, aí voltasse. Parece-me que aos poucos passou a ser um desejo partilhado, e “também eu” foi a resposta que interiormente comecei a dar. Sabem, a comunidade cristã em que estamos inseridos, tem um grande papel na confirmação da nossa vocação: ao confiar num padre as suas vidas e dificuldades de fé ou ao dizer a um seminarista que é aguardado nessa mesma comunidade; é uma força muito grande de que uma boa comunidade de fé dispõe. Portanto, está-me a querer parecer que com a constante passagem de noviços por essa terra, vocês se têm tornado uns profissionais na recepção dos jesuítas em formação! Estou a brincar, claro. O mérito não é dos noviços que aí passam, mas conforme percebi rapidamente, está-vos no sangue receber bem. Até porque sendo eu do Porto, sei bem o que isso é!

Depois, não imaginam a alegria que é para alguém que está no início da vida religiosa poder estar a colaborar numa comunidade cristã com o pouco que tem e pode, vendo tanto bem que existe e tanta gente boa que já lá está. É mesmo uma enorme alegria! Talvez já se vão apercebendo que nós jesuítas, nos começos da formação, ficamos muito mais por casa a conhecer a Cristo (as suas subtilezas e exigências) do que fora de casa com aqueles a quem queremos e com quem iremos dar a vida. Mas só é assim para mais tarde podermos viver como enviados numa paróquia ou num colégio, num centro universitário, numa obra social ou em qualquer outro lugar; onde haja a potencialidade de descobrir a Jesus Cristo no interior de cada um e dar-Lhe o primeiro lugar entre todos.

Foi de um enorme entusiasmo para mim, estar numa casa jesuítica, verdadeiramente pobre em Cristo [nisto podem acreditar!]; recheada de tão grandes homens, onde ressalta o zelo missionário que todos têm, sobretudo, pelas preciosas histórias de missão que alguns partilham! Penso que não deve haver casa mais universal na Covilhã (e talvez na Guarda) que a casa dos jesuítas que vos servem, por isso, peço-vos encarecidamente que cuidem bem deles, que aproveitem o olhar que têm acerca da realidade - porque foi sendo treinado pelo Espírito Santo ao longo dos anos - e agradeçam a Deus a graça de terem estes homens à porta das vossas casas.

Também existiram algumas dificuldades, como aliás, sempre existem para que haja fruto. A primeira foi que fiquei doente, de cama uns dias valentes, como ainda não tinha ficado na minha curta vida. Outra dificuldade que tive foi também com o estilo de viver e expressar a fé na paróquia que é diferente em muitas coisas, do estilo a que estou habituado. Nalguns aspectos, a presença aí foi para mim um constante exercício de humildade, paciência e de abnegação (ou seja, de sair dos meus próprios gostos, opiniões e interesses). Depois, devem ter existido outras coisas que se calhar não me apercebi ou não dei a devida importância, por isso, gostava de pedir perdão a quem possa ter desgostado com o meu feitio ou sensibilidade difíceis. Depois também a quem tenha prometido alguma coisa que não consegui fazer. Com esses especialmente, está a minha oração!

Agora que regressei a casa: tenho tido a oportunidade de recordar e guardar algumas boas memórias: de conversas, actividades, reuniões, missas e respectivos coros, de grupos… Enfim, tanto bem recebido! Tudo é graça!

Despeço-me com a certeza de ter ficado aí com uma família espiritual, convidando-vos muito a que vão rezando pela minha conversão e fidelidade ao Senhor (precisamos mesmo de apoio uns dos outros). Saibam que vos levo também no meu coração orante!


Beijos, abraços ou outros, conforme a conveniência!                      Vasco Teixeira, nsj.




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