Partilha
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
É já com alguma distância de tempo - a necessária para que a
experiência vivida desça ao coração - que me resolvi a escrever este “testemunho”. Quis pôr esta palavra entre
aspas porque na verdade, tremo um pouco, de cada vez que me pedem um
testemunho; fico sempre com a ideia que tenho de ensinar ou convencer alguém.
Por isso, o que vou fazer é muito mais uma partilha
de como vi e como senti este tempo de Quaresma e semana Santa, em que me foi
dada a missão: “de viver numa casa de jesuítas já formados (todos mais velhos
do que eu) e ajudá-los no que pudesse e me fosse pedindo na paróquia.”
Estando as introduções feitas, vamos à partilha!
Antes de mais, fui incrivelmente bem recebido! Disso não
tenho qualquer dúvida desde o primeiro dia… Senti-me muito rapidamente em casa
e a isto muito ajudou a preocupação de todos em acolher-me bem! Quer pelas
constantes perguntas que faziam - se estava a gostar ou se já conhecia as coisas
mais características da Covilhã; quer pelos convites para ir conhecer as
famílias nas suas casas; ou ainda pelos pedidos e solicitações que me faziam para
participar em vários grupos, mais ou menos ligados à paróquia de São Pedro.
Outra coisa muito bonita, foi o desejo que muitas pessoas
manifestavam que nalgum dia, uns anos mais tarde, aí voltasse. Parece-me que
aos poucos passou a ser um desejo partilhado, e “também eu” foi a resposta que
interiormente comecei a dar. Sabem, a comunidade cristã em que estamos
inseridos, tem um grande papel na confirmação da nossa vocação: ao confiar num
padre as suas vidas e dificuldades de fé ou ao dizer a um seminarista que é
aguardado nessa mesma comunidade; é uma força muito grande de que uma boa comunidade
de fé dispõe. Portanto, está-me a querer parecer que com a constante passagem
de noviços por essa terra, vocês se têm tornado uns profissionais na recepção dos
jesuítas em formação! Estou a brincar, claro. O mérito não é dos noviços que aí
passam, mas conforme percebi rapidamente, está-vos no sangue receber bem. Até
porque sendo eu do Porto, sei bem o que isso é!
Depois, não imaginam a alegria que é para alguém que está no
início da vida religiosa poder estar a colaborar numa comunidade cristã com o pouco
que tem e pode, vendo tanto bem que existe e tanta gente boa que já lá está. É
mesmo uma enorme alegria! Talvez já se vão apercebendo que nós jesuítas, nos
começos da formação, ficamos muito mais por casa a conhecer a Cristo (as suas
subtilezas e exigências) do que fora de casa com aqueles a quem queremos e com
quem iremos dar a vida. Mas só é assim para mais tarde podermos viver como
enviados numa paróquia ou num colégio, num centro universitário, numa obra
social ou em qualquer outro lugar; onde haja a potencialidade de descobrir a Jesus
Cristo no interior de cada um e dar-Lhe o primeiro lugar entre todos.
Foi de um enorme entusiasmo para mim, estar numa casa
jesuítica, verdadeiramente pobre em Cristo [nisto podem acreditar!]; recheada
de tão grandes homens, onde ressalta o zelo missionário que todos têm,
sobretudo, pelas preciosas histórias de missão que alguns partilham! Penso que
não deve haver casa mais universal na Covilhã (e talvez na Guarda) que a casa
dos jesuítas que vos servem, por isso, peço-vos encarecidamente que cuidem bem
deles, que aproveitem o olhar que têm acerca da realidade - porque foi sendo
treinado pelo Espírito Santo ao longo dos anos - e agradeçam a Deus a graça de
terem estes homens à porta das vossas casas.
Também existiram algumas dificuldades, como aliás, sempre
existem para que haja fruto. A primeira foi que fiquei doente, de cama uns dias
valentes, como ainda não tinha ficado na minha curta vida. Outra dificuldade
que tive foi também com o estilo de viver e expressar a fé na paróquia que é
diferente em muitas coisas, do estilo a que estou habituado. Nalguns aspectos,
a presença aí foi para mim um constante exercício de humildade, paciência e de
abnegação (ou seja, de sair dos meus próprios gostos, opiniões e interesses). Depois,
devem ter existido outras coisas que se calhar não me apercebi ou não dei a
devida importância, por isso, gostava de pedir perdão a quem possa ter
desgostado com o meu feitio ou sensibilidade difíceis. Depois também a quem
tenha prometido alguma coisa que não consegui fazer. Com esses especialmente,
está a minha oração!
Agora que regressei a casa: tenho tido a oportunidade de
recordar e guardar algumas boas memórias: de conversas, actividades, reuniões,
missas e respectivos coros, de grupos… Enfim, tanto bem recebido! Tudo é graça!
Despeço-me com a certeza de ter ficado aí com uma família
espiritual, convidando-vos muito a que vão rezando pela minha conversão e
fidelidade ao Senhor (precisamos mesmo de apoio uns dos outros). Saibam que vos
levo também no meu coração orante!
Beijos, abraços ou outros, conforme a conveniência! Vasco Teixeira, nsj.
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