sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial da Paz

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
51º DIA MUNDIAL DA PAZ 
1° DE JANEIRO DE 2018
Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz

1. Votos de paz
Paz a todas as pessoas e a todas as nações da terra! A paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal, é uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta. Dentre estes, que trago presente nos meus pensamentos e na minha oração, quero recordar de novo os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados. Estes últimos, como afirmou o meu amado predecessor Bento XVI, «são homens e mulheres, crianças, jovens e idosos que procuram um lugar onde viver em paz». E, para o encontrar, muitos deles estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos casos, longa e perigosa, a sujeitar-se a fadigas e sofrimentos, a enfrentar arames farpados e muros erguidos para os manter longe da meta.
Com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental.
Estamos cientes de que não basta abrir os nossos corações ao sofrimento dos outros. Há muito que fazer antes de os nossos irmãos e irmãs poderem voltar a viver em paz numa casa segura. Acolher o outro requer um compromisso concreto, uma corrente de apoios e beneficência, uma atenção vigilante e abrangente, a gestão responsável de novas situações complexas que às vezes se vêm juntar a outros problemas já existentes em grande número, bem como recursos que são sempre limitados. Praticando a virtude da prudência, os governantes saberão acolher, promover, proteger e integrar, estabelecendo medidas práticas, «nos limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido, [para] lhes favorecer a integração». Os governantes têm uma responsabilidade precisa para com as próprias comunidades, devendo assegurar os seus justos direitos e desenvolvimento harmónico, para não serem como o construtor insensato que fez mal os cálculos e não conseguiu completar a torre que começara a construir.

2. Porque há tantos refugiados e migrantes?
Na mensagem para idêntica ocorrência no Grande Jubileu pelos 2000 anos do anúncio de paz dos anjos em Belém, São João Paulo II incluiu o número crescente de refugiados entre os efeitos de «uma sequência infinda e horrenda de guerras, conflitos, genocídios, “limpezas étnicas”» que caraterizaram o século XX. E até agora, infelizmente, o novo século não registou uma verdadeira viragem: os conflitos armados e as outras formas de violência organizada continuam a provocar deslocações de populações no interior das fronteiras nacionais e para além delas.
Todavia as pessoas migram também por outras razões, sendo a primeira delas «o desejo de uma vida melhor, unido muitas vezes ao intento de deixar para trás o “desespero” de um futuro impossível de construir». As pessoas partem para se juntar à própria família, para encontrar oportunidades de trabalho ou de instrução: quem não pode gozar destes direitos, não vive em paz. Além disso, como sublinhei na Encíclica Laudato si’, «é trágico o aumento de migrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental».
A maioria migra seguindo um percurso legal, mas há quem tome outros caminhos, sobretudo por causa do desespero, quando a pátria não lhes oferece segurança nem oportunidades, e todas as vias legais parecem impraticáveis, bloqueadas ou demasiado lentas.
Em muitos países de destino, generalizou-se largamente uma retórica que enfatiza os riscos para a segurança nacional ou o peso do acolhimento dos recém-chegados, desprezando assim a dignidade humana que se deve reconhecer a todos, enquanto filhos e filhas de Deus. Quem fomenta o medo contra os migrantes, talvez com fins políticos, em vez de construir a paz, semeia violência, discriminação racial e xenofobia, que são fonte de grande preocupação para quantos têm a peito a tutela de todos os seres humanos.
Todos os elementos à disposição da comunidade internacional indicam que as migrações globais continuarão a marcar o nosso futuro. Alguns consideram-nas uma ameaça. Eu, pelo contrário, convido-vos a vê-las com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um futuro de paz.

3. Com olhar contemplativo
A sabedoria da fé nutre este olhar, capaz de intuir que todos pertencemos «a uma só família, migrantes e populações locais que os recebem, e todos têm o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutrina social da Igreja. Aqui encontram fundamento a solidariedade e a partilha».[9] Estas palavras propõem-nos a imagem da nova Jerusalém. O livro do profeta Isaías (cap. 60) e, em seguida, o Apocalipse (cap. 21) descrevem-na como uma cidade com as portas sempre abertas, para deixar entrar gente de todas as nações, que a admira e enche de riquezas. A paz é o soberano que a guia, e a justiça o princípio que governa a convivência dentro dela.
Precisamos de lançar, também sobre a cidade onde vivemos, este olhar contemplativo, «isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças (...), promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça», por outras palavras, realizando a promessa da paz.
Detendo-se sobre os migrantes e os refugiados, este olhar saberá descobrir que eles não chegam de mãos vazias: trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem. Saberá vislumbrar também a criatividade, a tenacidade e o espírito de sacrifício de inúmeras pessoas, famílias e comunidades que, em todas as partes do mundo, abrem a porta e o coração a migrantes e refugiados, inclusive onde não abundam os recursos.
Este olhar contemplativo saberá, enfim, guiar o discernimento dos responsáveis governamentais, de modo a impelir as políticas de acolhimento até ao máximo dos «limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido», isto é, tomando em consideração as exigências de todos os membros da única família humana e o bem de cada um deles.
Quem estiver animado por este olhar será capaz de reconhecer os rebentos de paz que já estão a despontar e cuidará do seu crescimento. Transformará assim em canteiros de paz as nossas cidades, frequentemente divididas e polarizadas por conflitos que se referem precisamente à presença de migrantes e refugiados.

4. Quatro pedras miliárias para a ação
Oferecer a requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma possibilidade de encontrar aquela paz que andam à procura, exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar.
«Acolher» faz apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e violências, e de equilibrar a preocupação pela segurança nacional com a tutela dos direitos humanos fundamentais. Recorda-nos a Sagrada Escritura: «Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos».
«Proteger» lembra o dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Penso de modo particular nas mulheres e nas crianças que se encontram em situações onde estão mais expostas aos riscos e aos abusos que chegam até ao ponto de as tornar escravas. Deus não discrimina: «O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva».
«Promover» alude ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados. Dentre os numerosos instrumentos que podem ajudar nesta tarefa, desejo sublinhar a importância de assegurar às crianças e aos jovens o acesso a todos os níveis de instrução: deste modo poderão não só cultivar e fazer frutificar as suas capacidades, mas estarão em melhores condições também para ir ao encontro dos outros, cultivando um espírito de diálogo e não de fechamento ou de conflito. A Bíblia ensina que Deus «ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário»; daí a exortação: «Amarás o estrangeiro, porque foste estrangeiro na terra do Egito».
Por fim, «integrar» significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe, numa dinâmica de mútuo enriquecimento e fecunda colaboração na promoção do desenvolvimento humano integral das comunidades locais. «Portanto – como escreve São Paulo – já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus».

5. Uma proposta para dois Pactos internacionais
Almejo do fundo do coração que seja este espírito a animar o processo que, no decurso de 2018, levará à definição e aprovação por parte das Nações Unidas de dois pactos globais: um para migrações seguras, ordenadas e regulares, outro referido aos refugiados. Enquanto acordos partilhados a nível global, estes pactos representarão um quadro de referência para propostas políticas e medidas práticas. 
Por isso, é importante que sejam inspirados por sentimentos de compaixão, clarividência e coragem, de modo a aproveitar todas as ocasiões para fazer avançar a construção da paz: só assim o necessário realismo da política internacional não se tornará uma capitulação ao cinismo e à globalização da indiferença.
De facto, o diálogo e a coordenação constituem uma necessidade e um dever próprio da comunidade internacional. Mais além das fronteiras nacionais, é possível também que países menos ricos possam acolher um número maior de refugiados ou acolhê-los melhor, se a cooperação internacional lhes disponibilizar os fundos necessários.
A Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral sugeriu 20 pontos de ação como pistas concretas para a implementação dos supramencionados quatro verbos nas políticas públicas e também na conduta e ação das comunidades cristãs. Estas e outras contribuições pretendem expressar o interesse da Igreja Católica pelo processo que levará à adoção dos referidos pactos globais das Nações Unidas. Um tal interesse confirma uma vez mais a solicitude pastoral que nasceu com a Igreja e tem continuado em muitas das suas obras até aos nossos dias.

6. Em prol da nossa casa comum
Inspiram-nos as palavras de São João Paulo II: «Se o “sonho” de um mundo em paz é partilhado por tantas pessoas, se se valoriza o contributo dos migrantes e dos refugiados, a humanidade pode tornar-se sempre mais família de todos e a nossa terra uma real “casa comum”». Ao longo da história, muitos acreditaram neste «sonho» e as suas realizações testemunham que não se trata duma utopia irrealizável.
Entre eles conta-se Santa Francisca Xavier Cabrini, cujo centenário do nascimento para o Céu ocorre em 2017. Hoje, dia 13 de novembro, muitas comunidades eclesiais celebram a sua memória. Esta pequena grande mulher, que consagrou a sua vida ao serviço dos migrantes tornando-se depois a sua Padroeira celeste, ensinou-nos como podemos acolher, proteger, promover e integrar estes nossos irmãos e irmãs. Pela sua intercessão, que o Senhor nos conceda a todos fazer a experiência de que «o fruto da justiça é semeado em paz por aqueles que praticam a paz».
Vaticano, 13 de novembro – Memória de Santa Francisca Xavier Cabrini, Padroeira dos migrantes – de 2017.
Franciscus


domingo, 24 de dezembro de 2017

É Natal - Festas Felizes

" Jesus nasce no lugar onde a esperança de Deus e a do homem se encontram" 
Papa Francisco

Que esse lugar seja no nosso coração e na nossa vida!
Um Natal cheio de alegria e paz. 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Imaculada Conceição de Maria


«Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.» (do Evangelho de S. Lucas)

REFLEXÃO
Deus vem habitar no meio de nós, fazendo-se homem como nós. E isto tornou-se possível através de um grande sim, o sim de Maria no momento da Anunciação. Mediante este sim Jesus encetou a sua vereda ao longo dos caminhos da humanidade; começou-o em Maria, transcorrendo os primeiros meses de vida no ventre da sua Mãe: não se manifestou já adulto e forte, mas seguiu todo o percurso de um ser humano. Fez-se igual a nós em tudo, mas não numa coisa, aquele não, exceto no pecado. Para isso escolheu Maria, a única criatura sem pecado, Imaculada. No Evangelho, com uma única palavra Ela é chamada «cheia de graça» (Lc 1, 28), ou seja, repleta de graça. Quer dizer que nela, imediatamente cheia de graça, não há espaço para o pecado. E também nós, quando nos dirigimos a Ela, reconhecemos esta beleza: invocamo-la como «cheia de graça», sem sombra do mal.

Maria responde à proposta de Deus, dizendo: «Eis a serva do Senhor» (v. 38). Não diz: «Bem, desta vez cumprirei a vontade de Deus, dando a minha disponibilidade, e depois verei...». Não! O seu sim é completo, total, para a vida inteira, sem condições. E do mesmo modo como o não das origens tinha impedido a passagem do homem rumo a Deus, assim o sim de Maria abriu o caminho a Deus no meio de nós. É o sim mais importante da história, o sim humilde que inverte o não soberbo das origens, o sim fiel que cura a desobediência, o sim disponível que aniquila o egoísmo do pecado.

  Inclusive para cada um de nós existe uma história de salvação feita de sins e de nãos. Mas às vezes somos especialistas nos meios sins: somos bons quando se trata de fingir que não entendemos bem o que Deus gostaria e o que a consciência nos sugere. Somos também espertos, e para não dizer um verdadeiro não a Deus, dizemos: «Desculpa, não posso», «hoje não, pensarei amanhã»; «amanhã serei melhor, amanhã rezarei, amanhã praticarei o bem». E esta astúcia afasta-nos do sim, distancia-nos de Deus, levando-nos ao não, ao não do pecado, ao não da mediocridade. O famoso «sim, mas...»; «sim, Senhor, mas...». No entanto, assim fechamos a porta ao bem, e o mal aproveita-se destes sins malogrados. Dentro, cada um de nós tem uma coleção deles. Pensemos, encontraremos muitos sins falhados. Ao contrário, cada sim pleno a Deus dá origem a uma nova história: dizer sim a Deus é verdadeiramente «original», é origem, não como o pecado, que nos envelhece dentro. Cada sim a Deus dá origem a uma história de salvação, tanto para nós como para os outros. Como fez Maria com o seu sim pessoal.
  Papa Francisco 8 dezembro 2016
ESPERAR DE LÂMPADAS ACESAS     
É tempo de voltar a construir o presépio. Como Maria que, grávida, medita todas as coisas em seu coração. Como José que, fiel e justo, sonha a vontade de Deus. Estão os dois de esperanças. Preparam ambos o nascimento de Jesus.
Como é belo esperar a chegada de quem amamos. Cuidamos da casa, preparamos a mesa, acendemos uma vela, aquecemos o coração. A espera já é encontro. O desejo de amar já é amor.
O Senhor virá. Simplesmente porque quer vir. Mas poderá passar sem que O vejamos. Poderá bater sem que Lhe abramos a porta. Poderá oferecer-se sem que O comunguemos.
Preocupações e correrias dissipam o coração. A escuridão da alma pode ser densa. Vem o Esposo e as lâmpadas estão apagadas. Não têm amor que as mantenha acesas.
Este é, pois, tempo propício para procurar o azeite que alimenta a chama. Na confiança. Na esperança. E quando o Senhor vier, estaremos prontos para ir ao Seu encontro.
Felizes, faremos festa na Sua presença.
P. José Frazão Correia, sj

Falecimento do Padre César Cavaleiro


É com profundo sentimento de pesar e unidos em oração, que comunicamos o falecimento do padre César Cavaleiro, sj . 
O funeral será amanhã, dia 9 de dezembro, com missa de corpo presente às 14.00h,  na Residência do Sagrado Coração de Jesus - Igreja de S. Tiago - Covilhã.
Com 91 anos, o padre César Cavaleiro, esteve 30 anos ao serviço da nossa Paroquia. Tinha uma presença silenciosa, discreta e bondosa, sempre disponível para o serviço de confissões nesta Paróquia e em muitas outras na cidade onde se deslocava para ajudar.
Nasceu em Vilar Formoso no dia 25 de Setembro de 1926 e foi ordenado sacerdote no dia 15 de Julho de 1957, em Granada. Em 1958 faz a terceira provação e no ano seguinte e regressa ao Instituto Nun´Alvres. Um ano depois vai para Soutelo onde trabalha com o Juniorado e Postulantado da Companhia de Jesus. A 2 de Fevereiro de 1961 faz a profissão religiosa. 
Está depois, convalescente, na residência dos Jesuítas da Covilhã onde permanece até 1963, data em que regressa ao INA onde permanece durante uma década.
Em Agosto de 1973 parte de Lisboa para Moçambique (Zóbué). Regressa a Portugal em 1984, ficando a residir em Lisboa. Em Novembro de 1987 muda-se para a residência do Sagrado Coração de Jesus na Covilhã, colaborando nos diversos ministérios da paróquia de S. Pedro até ao dia de sua morte em 8 de dezembro de 2017.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Advento - I semana


EVANGELHO: Mc 13,35-36 
«Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir.»

REFLEXÃO
«Todos os bens e dons descem do alto», diz-nos Santo Inácio de Loyola, no último ponto da última contemplação dos Exercícios Espirituais. Descem como a chuva, que não volta ao céu sem produzir o seu fruto, somos apenas pessoas que cuidam da casa enquanto o dono não chega.
Podemos vigiar por medo, com nervos e incerteza; podemos vigiar com desprezo, destruindo a beleza do que recebemos; podemos vigiar a dormir, cansados de tanto esperar; podemos vigiar desesperados, porque a crítica corrompe os nossos olhos. Contudo, podemos também vigiar agradecidos, reconhecendo que o dono já está discretamente entre nós, habitando todas as coisas com a PAZ do Natal.
Desperta do sono do cansaço, do engano e da mentira. Abre os olhos do teu coração e vigia, porque Jesus nasce todos os dias no bem que fazes e recebes. Vigia e agradece.
P. Carlos Carvalho, sj

PROPOSTA DE ORAÇÃO PARTILHADA
Começo o meu advento com silêncio. Procuro calar os meus cansaços e desânimos, para dar voz à alegria do agradecimento. 
Penso no maior presente que Deus me deu – família, amigos, talentos, acontecimentos – e agradeço-lhe a ternura com que Ele cuida de mim e daqueles a quem amo.
Depois, em família, em voz alta, partilho e agradeço esse dom Para1 terminar, confio o meu coração, rezando, em família uma Ave Maria.

https://apacsjb.org.pt



domingo, 29 de outubro de 2017

XXX domingo do Tempo Comum



"Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito e o teu próximo como a ti mesmo" [Mt 22, 34-40]

A Lei do amor que o Senhor nos revela, não separa o amor a Deus do amor ao outro e a nós próprios.
Amar a Deus move-nos para o outro. Na oração, reconhecendo o amor que o Senhor tem por nós, somos enviados a anunciar esse amor em forma de boas obras. 
Amar o próximo é a forma prática de pôr em acção o amor de Deus. Podemos ser nós a anunciar a justiça, a alegria e a paz do Senhor no mundo em que vivemos. Todos somos, em Jesus Cristo, filhos de Deus Pai, por isso, todos irmãos.
Amar-me a mim próprio é saber-me primeiro amado por Deus, com tudo o que sou. Só aceitando quem sou posso fazer da minha vida um verdadeiro dom e entregar-me a Deus e ao irmão.

Adoração Eucarística

  
Sexta-feira, dia 3 de novembro, é a primeira sexta-feira do mês, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Teremos a adoração eucarística entre as 10.00 e as 11.00h na Igreja de S. Tiago.



sábado, 7 de outubro de 2017


Continua a celebrar-se às 21.00 horas, na  Igreja de Nossa Senhora de Fátima, até ao dia 13 de outubro,  a Novena em honra de Nossa Senhora.

No próximo sábado, dia 14, também às 21.00 horas,  haverá a procissão de velas em honra de Nossa Senhora. Terá início na Capela de S. João de Malta e termina na Igreja de Nossa Senhora de Fátima (Paróquia de S. Martinho).

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Educar com sentido(s)


Após alguns dias da sua ordenação, julho 2014, o padre Paulo Duarte, sj deixava um breve testemunho no nosso boletim Paroquial:

“É impressionante a passagem do tempo, sem quase dar conta.” Esta frase, ou parecidas, tem vindo bastante às conversas nestes últimos tempos. Pensar que já passaram 11 anos, no caso do João Goulão, 10, no caso do Carlos e do Gonçalo e 9, no caso do Frederico e meu, desde que estivemos aí na Covilhã a fazer a prova de noviciado e agora já somos padres. Sim, do grupo dos 6 novos padres, 5 passaram por essas terras de montanha. Foi no passado dia 5 de Julho, em conjunto com mais 3 Companheiros, que fomos ordenados pelo D. Virgílio Antunes, na Sé Nova de Coimbra. Foi uma cerimónia rodeada de companheiros jesuítas, familiares e amigos que connosco viveram aqueles bonitos momentos em que recebemos o dom de servir a Deus no sacerdócio, na Companhia de Jesus. Muito veio aos nossos corações, onde recordámos a formação que nos foi dada até chegarmos a este dia tão bonito. Claro está, mesmo que pareçam já longínquos, esses tempos na Covilhã também surgem na memória agradecida. Damos graças a Deus pela amizade e carinho que se fizeram sentir pelas mensagens e abraços que recebemos dos amigos que aí estão. Contem com as nossas orações. Nós continuamos a contar com as vossas.
Paulo Duarte, sj

sábado, 30 de setembro de 2017

Vai hoje trabalhar na vinha

«Filho, vai hoje trabalhar na vinha»

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele». 
Mt. 21,28-32


Este Pai tem dois filhos, que são todos os seus filhos, nas suas semelhanças e diferenças. Somos todos nós, nas nossas semelhanças e diferenças. Ao primeiro, o Pai diz: «Filho, vai hoje trabalhar na vinha». Note-se o termo carinhoso «filho», o imperativo da liberdade «vai», que nos coloca na estrada de Abraão, o «hoje», que requer resposta pronta e inadiável, e a «vinha», símbolo da festa e da alegria. Note-se ainda a resposta tresloucada deste «filho»: «Não quero»!… «mas, depois, arrependeu-se e foi». Note-se também a resposta do segundo filho, depois de ter ouvido o mesmo convite do seu Pai: «Eu vou, Senhor» e a constatação do narrador de que, de facto, não foi.
Como se vê, todos os filhos de Deus-Pai ouvem o mesmo convite e vêem a mesma atitude de carinho. Respondem que não ou que sim, e ambos mudam! O que disse que não, de facto, vai HOJE fazer a vontade do PAI; o que disse que sim, ficou apenas em palavras, apenas mudando o sim em não.
D. António Couto (extrato)

INFORMAÇÕES ÚTEIS
Sexta-feira, dia 6 de outubro é a primeira sexta-feira do mês, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Teremos a adoração eucarística entre as 10:00 e as 11:00h na Igreja de S. Tiago.
No próximo sábado, dia 7, às 14:30hhaverá uma formação para todos os nossos catequistas, será orientador o Pe. Paulo Duarte. No mesmo dia, às 21:15 h., o mesmo Padre apresentará um tema para todas as pessoas que quiserem vir, nas instalações da Paróquia.
Na próxima quinta-feira, dia 5, começa a Novena em honra de Nossa Senhora de Fátima, na Igreja do mesmo nome, às 21:00 h. 

domingo, 24 de setembro de 2017

CVX Beira Interior

 " Ide e dai de graça porque de graça recebestes!"
Abertura do Ano CVX, Compromisso da Maria José e despedida do Abraão que regressa a Timor de pois de concluir o mestrado na UBI.

  
As atividades da CVX – Beira Interior iniciaram-se hoje, dia 24 de Setembro, pelas 11h:30h, com a celebração da Eucaristia, na comunidade paroquial a que presidiu  o Pe. Henrique Rios, sj.
Estiveram presentes elementos de todos os grupos (Grão de Mostarda, Porto de Abrigo, Profissionais, Maranathá, 5ª. Semana e Novo grupo).    
A Maria José Madeira fez, perante toda a assembleia, o seu compromisso temporário na presença da Presidente Ana Teresa Brás.
Após o almoço partilhado, passamos à Sala de Santo Inácio onde continuámos a actividade  com a apresentação do Relatório de contas.
A seguir foi feita a eleição de dois novos elementos para e equipa Regional da Beira Interior: Conceição Neves do grupo Grão de Mostarda e Paulo Lopes do grupo Os Profissionais.
Despedimo-nos com um "até breve", pois olhando para algumas atividades já programadas, esperamos novos momentos de encontro.




terça-feira, 12 de setembro de 2017

Unidos à Diocese do Porto e Igreja em Portugal

Faleceu D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto


«Se conhecesses
o mistério imenso do céu onde agora vivo,
este horizonte sem fim,
esta luz que tudo reveste e penetra,
não chorarias, se me amas!

Estou já absorvido no encanto de Deus,
na sua infindável beleza.
Permanece em mim o seu amor,
uma enorme ternura,
que nem tu consegues imaginar.
Vivo numa alegria puríssima.
Nas angústias do tempo,
pensa nesta casa onde, um dia,
estaremos reunidos para além da morte,
matando a sede na inesgotável fonte
da alegria e do amor infinito.

(Santo Agostinho)


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Catequese - Ficha de Inscrição


Está disponível o formulário para a Inscrição na Catequese do próximo ano.

Todos os catequizandos que frequentaram o ano passado a Catequese, deverão também renovar a sua inscrição.


Ficha de 1ª. inscrição na Catequese (a entregar diretamente na Secretaria da Paróquia), é necessária uma foto da criança 



Ficha de renovação da Catequese - a entregar na Secretaria da Paróquia ou enviar por email: paroquiaspedro@gmail.com




sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Inscrições para a Catequese


 Na secretaria da Paróquia de terça a sexta-feira 
das 9:30 às 12:30 e das 15:30 às 18:00

sábado, 3 de junho de 2017

Solenidade de Pentecostes

Pentecostes, Arcabas (Jean-Marie Pirot), 114 x 146 cm, óleo sobre tela, ouro 24 quilates, 
Mosteiro Notre-Dame du Cénacle, Lyon, França, 2005.

"Sempre tentamos administrar o Espírito: dividi-Lo em doses e regulamentá-Lo. Temos a ilusão de que podemos usá-Lo para garantir a ordem e avalizar as nossas decisões como se fosse o árbitro nos jogos cujas regras foram por nós fixadas. Temos medo de nos deixar habitar pelo vento e pelo fogo. A nova criação nasce de um colossal incêndio, pois o Espírito vem e acende uma paixão. A vida no Espírito, como o fogo e o vento, é incontrolável, imprevisível e não pode ser programada jamais. 

O vento irrompe barulhento na casa e coloca para fora os seus ocupantes. O Espírito de Jesus arranca o medo, destrói a angústia e abre as portas que jamais deverão ser trancadas novamente. O teólogo von Balthasar adverte: “Se o Espírito não tivesse vindo, o mundo e a Igreja nunca teriam compreendido que a causa do judeu de Nazaré crucificado era algo mais que um assunto provinciano e historicamente sem importância”.
O Espírito é um refazer constante e um renascimento. Pentecostes conduz-nos a uma nova geografia amorosa do mundo. Todos os símbolos do Espírito são elementos em movimento, mas um movimento para os outros. Ao sermos habitados pelo Espírito, o coração se dilata e se banha de amor divino. O Espírito é um fogo cuja vinda é palavra e cujo silêncio é luz (Efrem da Síria). Somente o silêncio fala todas as línguas e a linguagem do Espírito é o silêncio oferecido ao Verbo. O Espírito que faz bater o coração de Deus é também o sopro que faz bater o coração do Homem.

O Espírito de Jesus encontra-se na oração, na solidariedade, no perdão, na palavra comprometida e na misericórdia que superam todas as fórmulas e as frases de conveniência, os conselhos moralizantes e as respostas pré-fabricadas. Jesus fala-nos de um pecado contra o Espírito que nunca terá perdão. É a blasfémia de conceder ao Espírito apenas um sussurro e uma subtil e vigiada fissura ao invés de janelas e portas abertas dos corações. O pecado irreparável é a pretensão de falar da coragem cristã e oferecer ao Espírito um pouco menos da metade de todo o resto que concedemos ao medo e a angústia. O pecado sem perdão é falar de Pentecostes sem nunca nos permitir experimentar e viver até as últimas consequências a sua embriaguez.

A Igreja de Jesus só despertará entusiasmo se anunciar as maravilhas de Deus que vira tudo do avesso, como cantou Maria no seu Magnificat. Os seguidores de Jesus devem ser ousados e capazes de ultrapassar as fronteiras em busca de novos horizontes. Os homens de Pentecostes surpreenderam, não porque apareceram comedidos, discretos e ajustados, mas porque apareceram excessivos: um pouco loucos e poetas."

Texto adaptado a partir de excertos do blog Matersol: http://matersol.blogspot.pt/

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Solenidade da Ascensão do Senhor - Visita do Provincial


O Padre Provincial José Frazão Correia sj, está de visita à nossa Comunidade. No sábado dia 27, esteve com alguns grupos de Catequese e teve oportunidade de dar uma palavra aos pais e catequistas presentes na Eucaristia, em que, com os jovens do 9º ano celebrámos a Festa do Compromisso.
A visita ainda está a decorrer, deixamos no entanto, algumas interpelações da homilia desse dia, na Solenidade da Ascensão do Senhor.

 “A Ascensão condensa/completa a Encarnação. Jesus regressa ao Pai, enriquecido agora com a experiência de ser homem - Jesus de Nazaré.
Jesus não regressa ao Pai como veio lembrou, nas mãos, nos pés e no peito estão as chagas sinal da Sua Paixão. Assumindo a vida de cada um de nós, o Cristo que sobe aos céus leva consigo as marcas da Sua humanidade E assim, assume a nossa humanidade, as nossas alegrias, as nossas feridas e as nossas dores.
Levando consigo a nossa vida, tudo o que somos agora está em Deus."



domingo, 21 de maio de 2017

VI Domingo da Páscoa


« A passagem evangélica deste domingo é a continuação direta da passagem do domingo passagem, tirado também do capítulo 14 do Evangelho segundo João. Se a primeira parte do capítulo tinha como tema a fé em Jesus (“Credes em Deus, crede também em mim”: Jo 14, 1), esta segunda parte tem como tema o amor por Jesus (“Se me amais, guardareis os meus mandamentos”: Jo 14, 15).
Nenhuma oposição entre fé em Jesus e amor por Jesus, porque crer não é um ato intelectual, mas é uma adesão, um envolvimento com a vida de Jesus; e um envolvimento pode ser implementado somente na liberdade e por amor.
A estrutura do trecho é evidente:
- um marco com as duas declarações inclusivas sobre o amor por Jesus (vv. 15 e 21);
- dois anúncios no seu interior: o dom do Espírito (vv. 16-17);
- a vinda de Cristo (vv. 18-20).
O tema do amor por Jesus já está presente nos seus lábios nos Evangelhos sinóticos: “Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10, 37); mas, no quarto Evangelho, esse amor é especificado, quase como se o redator temesse um equívoco. Assim como Jesus pediu para crer em Deus e também nele, assim também ele certamente pediu para amar a Deus e também a ele, mas sob condições precisas. Ele especifica particularmente que esse amor não se esgota em um desejo de Deus, em um anseio pelo divino, sem que nele esteja contida a disponibilidade de se conformar com aquilo que Deus quer, vontade de Deus manifestada na sua palavra, vontade a ser realizada todos os dias como observância concreta dos seus mandamentos.
É por isso que as palavras de Jesus parecem peremptórias: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. Em todas as vias religiosas ama-se a Deus, mas se pode amá-lo como um ídolo, especialmente se for um deus construído e “idealizado” por nós; ou, melhor, precisamente quando é um deus que é um produto nosso, nós o amamos mais!
Mas o nosso Deus vivo tem um rosto preciso. Não é a divindade, o divino: é o Deus que falou expressando a sua vontade, e só o ama verdadeiramente quem busca realizar, embora com dificuldade, tal vontade. Parece-me que não afirmamos com clareza e força suficientes essa verdade decisiva para a vida cristã, mas pensamos que basta dizer, por exemplo: “O que temos de mais caro no cristianismo é Jesus Cristo”, palavras que podem ser uma confissão de fé, contanto, porém, que Cristo não seja o “nosso Cristo”, aquele inventou e escolhido por nós, mas o Cristo Jesus narrado pelos Evangelhos e transmitido pela Igreja.
Amar Jesus, portanto, significa não só se alimentar de um amor de desejo, não só lhe dizer que a nossa alma tem sede dele, mas realizar aquilo que ele nos pede, observar o mandamento novo, isto é, último e definitivo, do amor recíproco. Conhecemos bem como Jesus formulou esse mandamento: “Assim como eu vos amei, assim também ameis uns aos outros”.
Atenção, Jesus não disse: “Assim como eu vos amei, assim também amai-me”, mas “ameis uns aos outros”. Porque ele nos ama sem nos pedir o retorno, mas nos pedindo que o seu amor que nos alcança, se difunda, se expanda como amor pelos outros, porque essa é a sua vontade de amor.
Ele dirá ainda: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15, 14), porque o discípulo não deve alimentar ilusões em si, cultivando o seu “eu religioso”, cheio de sentimentos afetivos por Deus ou por Jesus, mas ignorando as suas palavras, a sua vontade, a sua espera.   
(...) 
É o dom do Espírito, que é sempre o Espírito do amor que desce ao coração do cristão, dando-lhe a capacidade de responder ao Pai na liberdade e com amor. Graças ao amor por Jesus, portanto, podemos ser fiéis aos seus mandamentos; e, ao mesmo tempo, a observância dos seus mandamentos testemunha a autenticidade do nosso amor por ele. Esses mandamentos de Jesus não são uma lei – atenção para não fazer regressões! –, são Jesus mesmo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14, 6), são uma vida humana concreta vivida no amor até o fim (cf. Jo 13, 1).
Depois da sua glorificação, o amor de Jesus pode ser experimentado pelo discípulo como amor do outro Consolador, do Espírito Santo sempre connosco por intercessão do próprio Jesus: Espírito que deve ser invocado por nós, acolhido, conservado, obedecido até ser a nossa “respiração”, aquilo que nos anima. Devemos confessar: esse Espírito não pode ser acolhido pelo mundo, aquele mundo que não é a humanidade tão amada por Deus (cf. Jo 3, 16), mas sim a estrutura mundana, o ordenamento de injustiça dominante sobre a terra que está em revolta contra Deus, isto é, contra o amor e contra a vida. Esse sistema de mentira organizada, de violência que não conhece limites, de injustiça que oprime os pobres e os pequenos, infelizmente, também engloba os homens e as mulheres alienados por ele.
(...)
Podemos ver Jesus à luz da fé, podemos experimentar a vida abundante que ele quer nos dar; mas muitas vezes somos incapazes de acolher o dom, somos cegos que dizem ver (cf. Jo 9, 40-41). Que essas palavras de Jesus, portanto, não se tornem fonte de justificação, impulsionando-nos a evitar a reivindicação da conversão e a não acolher aquele dom que nós não podemos nos dar: o dom do Espírito de Cristo, o dom do seu amor.
Eis, então, a conclusão, que retoma o início do discurso: “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”. Amar, observar os mandamentos é a condição para que Jesus se manifeste, e, na observância da vontade de Deus, através do amor fraterno, seremos amados por Deus e por Jesus.

A vida de Deus é um fluxo de amor no qual, se acolhemos o seu dom, podemos ser envolvidos. É isto que deveremos conhecer na embriaguez do Espírito e na comunhão com Cristo em cada Eucaristia que vivemos: uma celebração do amor!»

P. Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose

sábado, 13 de maio de 2017

«Eu sou o caminho, a verdade e a vida»: Meditação sobre o Evangelho do 5.º Domingo da Páscoa (Jo 14,1-12)

Imagem: "Jesus e os seus discípulos" - Odilon Redon

Não se perturbe o vosso coração, tende confiança. São as palavras primárias da nossa relação com Deus e com a vida, aquelas que devem vir ao nosso encontro mal se abrem os olhos, a cada manhã: afastar o medo, ter confiança.

Ter confiança (nos outros, no mundo, no futuro) é um ato humano, humaníssimo, vital, que impulsiona para a vida. Sem a confiança não se pode ser humano. Sem a fé em alguém não é possível viver. Eu vivo porque confio. Neste ato humano respira a fé em Deus.

Tende fé em mim, Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Três palavras imensas. Que nenhuma explicação pode esgotar.

Eu sou a vida: a estrada para chegar a casa, a Deus, ao coração, aos outros. Sou o caminho: diante de mim não se ergue um muro ou uma barreira, mas horizontes abertos e uma meta. Sou a estrada que não se perde. (...)

Eu sou a verdade: não numa doutrina, num livro, numa lei melhor que outras, mas num "Eu" está a verdade, numa vida, na vida de Jesus, que veio para nos mostrar o verdadeiro rosto do homem e de Deus. O cristianismo não é um sistema de pensamento ou de ritos, mas uma história e uma vida (François Mauriac).

Eu sou: verdade desarmada é o seu movimento livre, real e amoroso entre as criaturas. Nunca arrogante. Com ternura, essa irmã da verdade. A verdade são olhos e mãos que ardem (Chistian Bobin). Assim é Jesus: acende olhos e mãos.

Eu sou a vida. Que tens a fazer comigo, Jesus de Nazaré? A resposta é uma pretensão não menos que excessiva, não menos que desconcertante: Eu faço viver. Palavras enormes, diante das quais experimento a vertigem. A minha vida explica-se com a vida de Deus. Na minha existência, mais Deus equivale a mais eu.

Quanto mais Evangelho entre na minha vida, mais vivo eu sou. No coração, na mente, no corpo. E opõe-se à pulsão de morte, à destrutividade que nutrimos dentro de nós com os nossos medos, à esterilidade de uma vida inútil.

Por fim intervém Filipe: «Mostra-nos o Pai, e isso nos basta». É belo que os apóstolos peçam, que queiram compreender, como nós. Filipe, quem me viu, viu o Pai. Olha para Jesus, vê como vive, como ama, como acolhe, como morre, e entenderás Deus e a vida.

P. Ermes Ronchi 

domingo, 7 de maio de 2017

Ser mãe é um mistério absoluto


No dia de todas as mães, a minha especial homenagem, através das palavras de um poeta admirável: Christian Bobin.

«Ela é bela, graças a este amor de que se despoja, a fim de com ele revestir a nudez do menino. É bela, pela solicitude com que acorre, uma e outra vez, ao quarto da criança.

Todas as mães possuem esta beleza.
Todas têm esta justeza, esta verdade, esta santidade.
Todas as mães têm esta graça que causa ciúmes ao próprio Deus...

A beleza das mães supera infinitamente a glória da natureza.
Ser mãe é um mistério absoluto, um mistério que não se assemelha a nada.

Não existe santidade maior que a das mães esgotadas pelas fraldas lavadas, pelo aquecer da papa, pelo banho a dar.

A maternidade é o que sustenta o fundo de tudo.
A maternidade é a superação do cansaço.»

Excertos do livro "Francisco e o Pequenino" de 
Christian Bobin

domingo, 30 de abril de 2017

O caminho de Emaús como quadro inspirador…


Jesus ressuscitado faz-se companheiro de caminho, simplesmente pela insinuação da sua presença. Com uma atenção extraordinária aos sinais corpóreos da desilusão interior, sabe colocar a pergunta certa, aquela que dá a palavra aos dois discípulos desiludidos e tristes e se faz verdadeira disposição a escutar. Ainda que seja para ouvir o que já sabe, dispõe-se a acolher o seu ponto de vista sobre os acontecimentos. A pergunta de Jesus dá a deixa, faz-se convite a revisitar e a repercorrer as estradas e os lugares do que os havia encantado e agora desilude. Entrando pela porta do sonho desfeito, Jesus rompe os lugares comuns da sua inteligência do divino para fazer entrever um outro rosto de Deus. No limite do que se lhes afigurava impossível, faz brotar sementes de possibilidade. Depois, narrados e iluminados os lugares revisitados, faz-se convidar. E à mesa, num gesto eucarístico, desperta os sentidos, toca a alma, cura o corpo, regenera toda a experiência. O anonimato dá lugar à comunhão. O seguimento e a missão vencem o abandono e o ressentimento. Finalmente, quando reconhecido, Jesus desaparece da sua vista. Aquele que, como corpo, se dá a comer é o mesmo que diz «não me tocar». A presença recusa fazer-se morada que aprisione, coisa que se possua. Agora, é nos lugares concretos da humanidade - em todos - que se viverá o contato vivificante com o Mestre.

Quanto poderemos aprender com esta forma de entrar na vida dos nossos contemporâneos e de comungar os movimentos das suas existências para, desse modo, criar um espaço de possibilidade para um encontro biográfico com o Senhor Jesus: tocar sem aprisionar; dar-se sabendo retirar-se; dizer sem ofender o mistério e cobrir o silêncio que envolve nós e eles; fazer-se alimento sem criar dependências; brilhar como luz que se extingue. E quanto poderemos recolher deste modo de proceder de Jesus ressuscitado que abre os olhos dos seus discípulos ao reconhecimento da sua presença exatamente no momento em deixam de o ver. A ausência acena a uma outra forma de presença: é preciso que o Senhor vá para que desça o seu Espírito. Não é esse o tipo de relação que vivemos em cada eucaristia, comungando daquele pão que não parece pão que é corpo que não se vê?

É, pois, este encontro a etapas sucessivas e enquanto se caminha que, pela palavra e pelo gesto, vai do isolamento à eucaristia, do anonimato ao reconhecimento, da perturbação paralisante à consolação operativa, que proponho como ambiente inspirador para esta minha reflexão, quase como um prelúdio musical ou uma sugestão pictórica.

Padre José Frazão, sj

sábado, 29 de abril de 2017

No último entardecer...


Nas paredes de uma igreja de Emaús, à guarda dos Padres Franciscanos da Custódia da Terra Santa, que recorda os acontecimentos narrados no sublime episódio de Lc 24, pode ler-se em várias línguas um belo e significativo poema:

Todos os dias
Te encontramos
no caminho
Mas muitos reconhecer-Te-ão
apenas
quando
repartires connosco
o Teu pão.
Quem sabe?
Talvez
no último entardecer.

D. António Couto, Bispo de Lamego

Extrato da mensagem publicada no blogue “Mesa de palavras”: https://mesadepalavras.wordpress.com/…/fica-connosco-senho…/

sábado, 22 de abril de 2017

A Revolução Pascal

se Deus ReSuscitou Jesus, então...
... temos uma Boa Notícia para Anunciar e Celebrar!




"Se tudo isto é verdade, então, não pode ficar tudo igual! Nem eu posso ficar igual!!! Se isto tudo é mesmo verdade, isto vale-nos a vida! Temos até um motivo para a dar se for preciso, porque aquilo que vale para viver, também vale para morrer. Quem mais ama a vida é quem menos teme a morte!

A Missão acontece como difusão, irradiação. Anunciar o Evangelho é uma acção de contágio. Os discípulos não se tornaram uns “místicos” da ressurreição mas TESTEMUNHAS da ressurreição: não é um “quentinho na alma”, é uma Notícia, um jackpot! É uma explosão dos sentidos e um sobressalto de alegria que atravessa toda a Criação, uma irradiação a todas as nações. Foi isto mesmo que aconteceu a partir daquela dúzia e tal de homens e mulheres que viram as suas vidas viradas do avesso naqueles dias da revolução pascal…

Os discípulos não voltaram para as suas terras diferentes, depois de terem feito a experiência pascal: começaram uma aventura nova, agora é que começou tudo mesmo de novo, porque o Espírito de Deus que tinha actuado em Jesus começou a actuar neles com poder e novidade. Os discípulos não ficaram simplesmente diferentes, mas começaram a fazer tudo diferente: assumiram a ousadia de anunciar a acção justificadora e reparadora de Deus em Jesus, depois do que os chefes lhe tinham feito. E anunciavam estas coisas nas barbas dos chefes mesmo! Libertos do medo e curados da culpa… porque o perdão é um grande dom pascal. Quando testemunham a experiência de reencontro com o Senhor ReSuscitado, nunca nos contam que ele os tenha feito sentir cobranças ou ralhetes pela infidelidade daquelas horas da prisão , tortura e execução… Em vez disso, vinha “em missão de paz”: “A paz esteja convosco”, era a saudação lembrada.

Anunciavam com desassombro e argumentavam com lucidez e uma criatividade espantosa: e, depois, não tinham mais provas para tudo o que anunciavam do que dar a vida por isso.

Este anúncio era mastigado e saboreado em pequenas comunidades. E estes verbos não são neutros. É que a MESA tornou-se o grande Sinal e ponto-de-encontro destes primeiros, que se juntavam à volta da Memória da Última Ceia que tinham comido com ele. A Ceia do Senhor era o sinal de um Mundo Novo reunido à volta do Dom de Deus, reconciliado e em paz. À Mesa Celebravam Jesus, não como lembrança mas como Vivente. Celebravam-no Presente! Anunciavam e celebravam que Jesus é SENHOR, e os outros não.

A Vinda do Senhor é a Esperança de que todas as coisas estão em Páscoa para Deus, em passagem para a Vida sem confins. E Jesus é o nosso Passador, Cristo “Nossa Páscoa”, como lhe chamou o Apóstolo Paulo. Se Deus ReSuscitou Jesus, então temos uma Notícia a correr-nos nas veias que é maior que tudo, uma Fé que leva à Esperança e se concretiza no Amor. Até que Deus, que já é tudo em Cristo, seja tudo em todos!"

Pe. Rui Santiago Cssr