A festa da Epifania tem uma
grande importância simbólica para a Igreja. Nas poucas linhas de um episódio do
qual nem sequer se conhecem bem as bases históricas, descreve-se o símbolo do
grande caminho dos povos para o Senhor que nasceu, um caminho que já está em
curso, desde há dois mil anos, e que só terminará com o encerramento da
história humana. Neste caminho, participam também uma multidão de pessoas
aparentemente não cristãs, muitas das quais estão ligadas a Cristo por aquilo
que dá pelo nome técnico de «batismo de desejo», outros ainda por aquilo que
costuma ser chamado, antes, «batismo de sangue». Trata-se, portanto, de uma
multidão imensa, que ninguém pode contar.
A importância dada a esta
manifestação universal de Cristo também deriva do facto de que aqui, na
revelação feita aos misteriosos Magos, a Igreja relê claramente outras
manifestações de Jesus: a do Batismo no Jordão, e a que foi feita às multidões
da Palestina, mediante a multiplicação dos pães. Jesus apresenta-se, portanto,
como Aquele que pode ser procurado a partir de qualquer condição humana, por
todos aqueles que calcorreiam os caminhos deste mundo.
E também foi assim que o
Santo Padre João Paulo II definiu o meu ministério de bispo, quando me ordenou
solenemente na Basílica de São Pedro, em Roma. Disse que me conferia «o
sacramento do caminho», habilitando-me, assim, a percorrer com todos os
caminhos da vida quotidiana, em busca da estrela, ou seja, dos sinais do Deus
vivo. (...)
A Igreja tem, certamente,
necessidade de bons bispos mas, muito mais do que os prelados, contam os
santos, aqueles que vivem o Batismo numa autêntica relação com Deus e com os
irmãos, em especial com os mais pobres.
Uma relação semelhante, ou
uma rede de relações boas e evangélicas, está presente em todos aqueles que
renunciam a algo de si, que se põem a caminho como os Magos, fiando-se da ténue
mensagem de uma estrela, que não têm medo de momentos de escuridão e que
enfrentam os sacrifícios de um longo caminho para receber o Menino Jesus dos
braços da Mãe. Estou certo que todos aqueles que empreendem, resolutos, essa
caminhada, receberão o cêntuplo nesta vida, bem como a vida eterna.
Card. Carlo Maria Martini
In Tomados de assombro, ed. Paulinas
04.01.14
In Tomados de assombro, ed. Paulinas
04.01.14
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