A Luz brilha sempre por entre as nossas trevas e nunca deixará de
brilhar, mesmo por entre as trevas do nosso pecado, como nos diz Paulo na 2ª
leitura que proclamamos hoje: Deus
amou-nos a nós que estávamos mortos pelos nossos pecados (Ef.2,4-11). É
essa a razão da nossa alegria e, por isso, este Domingo de Luz, o 4º da
Quaresma, é também chamado Domingo da
Alegria, em latim: Domingo laetare. O paramento litúrgico é cor-de-rosa, a
cor que exprime uma alegria, mas uma alegria serena e contida. Este Domingo é
um apelo à alegria, um apelo a que estejamos contentes com nós próprios. Uma
pessoa que não está contente consigo mesma e com os outros, acaba por ser uma
pessoa doente no corpo e no espírito. Mas, a
nossa alegria tem um fundamento sólido, a mensagem da Páscoa de Cristo que é
também a nossa Páscoa.
Vivemos tempos difíceis que nos afligem, sobretudo, o flagelo da guerra,
como está a acontecer na Síria, onde crianças feridas, mergulhadas em pó,
apelam à Paz a nós adultos, tantas vezes insensíveis.
Todos, nestas circunstâncias, temos necessidade de receber um sinal de
paz, de segurança. Mas o sinal é só um, como Jesus dizia aos fariseus no
domingo passado. “Destruireis este templo e em três dias será reconstruído”. O
sinal que nos dá Jesus é o sinal de Cruz.
A Cruz, vemo-la e até a podemos venerar e beijar, mas a transformação do mundo
velho num mundo novo nem sempre a vemos, no entanto opera-se lentamente, pela
força da Ressurreição.
Beijamos a Cruz não para nos resignarmos com as lágrimas e com o
sofrimento, mas sim para acreditarmos que Jesus, morto na Cruz “levantado ao
alto” atrai todos os povos à salvação. Necessitamos da virtude da Esperança!
No diálogo com Nicodemos, Jesus se compara-se com a serpente de bronze
levantada no deserto. Os que olhavam de frente para esse símbolo do mal,
reconheciam os seus próprios pecados e eram salvos das mordeduras das
serpentes.
Em Jesus, “levantado ao alto” descobrimos a misericórdia de Deus que
perdoa os nossos pecados. O Livro dos Números dizia que os Israelitas não
ficavam curados, porque olhavam para a serpente mas não elevavam o seu coração
para Deus. “Quem se voltava para ela era
curado não pelo que via, mas por ti, Senhor Salvador de todos” (Sab16,7).
João, porém, diante do Senhor levantado
na cruz, escreve: todo o homem que nele
crê possui a vida eterna. João emprega por quatro vezes o verbo crer nesta passagem do Evangelho,
porque a fé é o contrário da
desconfiança. É preciso ter confiança e esta confiança é que transforma
toda a vida.
“A luz
veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz”. Esta imagem de acolher ou recusar
a Luz traduz-se em crer em Cristo ou recusá-lo. Deus nunca se nos impõe. Propõe-se.
É esta a lógica de Cristo no Evangelho: Se
queres… Quem crê em Cristo não será julgado e crer em Cristo é crer em Deus
que é amor e se nós cremos, verdadeiramente, no amor de Deus, tenhamos a
certeza de que as suas manifestações para connosco, serão sempre obras de amor.
O maior mal que nos pode acontecer é não acreditarmos que Ele é o único amor e
nós amarmos mais as trevas do que a Luz, impedindo Deus de nos amar…Mas não
percamos a confiança e acreditemos nestas palavras, o resumo de toda a
revelação Bíblica “ Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigénito
para que o mundo não pereça, mas tenha a vida eterna”
Suspiramos, muitas vezes: Quando é que vens Senhor, fazer que os homens
transformam o seu coração de pedra em coração de carne! Quando é que mandas um
Ciro (2ªLeitura 2 Cro.36 14ss) à nossa sociedade que diga um não à violência, à
exclusão e estabeleça um diálogo universal. Ciro, homem de Paz, era o ungido do
Senhor. Mandai Senhor um Ciro para que brilhe a luz de Deus no meio dos
escombros da Síria e dos corpos destroçados para que ele, juntamente com as
organizações humanitárias, seja mensageiro de Paz e, em teu nome, advirta os
que têm poder que ir pelo lado da guerra
é ir pelo lado das trevas é ir do lado
do nada e dizer não à obra da criação de Deus. O sol brilha, quando o “homem
é homem para o outro homem”, como dizia o Padre Arrupe.
P. José Augusto Alves Sousa, SJ