domingo, 30 de janeiro de 2011

IV Domingo Comum



AS BEM-AVENTURANÇASAté ao Capítulo 5º do Evangelho de S. Mateus, o evangelista diz-nos que Jesus pregava (Mat.4,17), mas não nos diz o que pregava. O texto das Bem-aventuranças, em Mates 5,1-12, constitui a primeira pregação de Jesus. É o seu discurso de entrada na Vida Pública, a sua Declaração inaugural ou melhor, o seu Discurso - Programa. Com este Discurso, abre o chamado Sermão da Montanha que se encontra em Mateus, desde o capítulo 5º até ao capítulo 7,29. Com as Bem-aventuranças e com o Sermão Montanha, a multidão ficou admirada com a doutrina de Jesus, pois Ele ensinava como quem tem autoridade.

Por que é que causa admiração este Sermão de Jesus que abre com as Bem-aventuranças?

1. “Bem-aventurados os pobres…, deles é o reino dos Céus”
O reino dos Céus é o dos pobres em espírito e dos perseguidos: aqueles que não põem a sua fé, a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais e que, por sua vez, são os perseguidos, porque lutam pela justiça. Duas condições indispensáveis para que Deus reine: renunciar à riqueza e à ambição da riqueza. Estas duas condições são a porta de entrada no Reino e a base da construção de novas relações. Esta transformação não agrada a todos e, daí, a perseguição, por aqueles que se sentem ameaçados por tal transformação e pela perda de privilégios.

2. “Bem-aventurados, os que choram, os humildes e os que têm fome e sede de justiça... serão consolados, possuirão em herança a terra, serão saciados”
Três promessas de Deus para passar duma situação negativa a uma situação positiva: da opressão à liberdade, do sofrimento à consolação, da injustiça à justiça. O Reino de Deus abre um horizonte de esperança, acende uma luz. Vale a pena sonhar outro mundo possível..., uma alternativa para uma vida digna para todos...Isto é uma Boa Nova e quão necessária nos nossos tempos de crise de valores...

3. “Bem-aventurados os misericordiosos, os puros de coração, os que buscam a paz”
São as atitudes e os objectivos que movem o trabalho para a construção duma nova Humanidade…, são os rasgos desta Humanidade nova que tanto desejamos e que já podemos ver nas pessoas e comunidades que se esforçam por ser misericordiosas, por terem puros os corações e por buscarem incansavelmente a paz. Daqui nasce um mundo solidário e feliz. Quem tem limpo ocoração tem a Deus na sua vida. Quem trabalha pela paz experimenta a Deus como Pai e até com o carinho de Mãe. É filho de Deus...

4. “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça..., da mesma maneira perseguiram os profetas”

A comunidade cristã que assume o estilo de vida proposta pelas Bem-aventuranças choca com o estilo de vida do mundo que se deixa guiar por outros valores e se converte numa certa ameaça para a sociedade do poder do prestígio e do dinheiro. Daí a perseguição. O testemunho duma vida espiritual mina os cimentos, donde repousa uma sociedade injusta e assente sobre a mentira. Não é de estranhar que haja injúrias, perseguições. Foi assim em toda a história da Igreja. Mas a alegria e o regozijo, fruto da graça de Deus supera a perseguição, a desolação e a angústia… (lembrar a história dos mártires e dos perseguidos por amor da justiça)

5. “Bem-aventurados..., Bem-aventuradas”

Por que esta insistência de Jesus em afirmar as Bem-aventuranças? Jesus insiste nas Bem-aventuranças contra as bem-aventuranças do mundo (ou seja, as bem-aventuranças do “êxito”, as falsas bem-aventuranças que promete a sociedade injusta, insolidária e corrupta), Jesus proclama oito vezes onde se encontra a verdadeira felicidade e quais são as Bem-aventuranças do Reino de Deus. A verdadeira felicidade encontra-se numa sociedade justa, misericordiosa, pacífica. A sociedade injusta oferece a felicidade no egoísmo, na acumulação dos bens de qualquer ordem, no êxito pessoal. Ao contrário, o Reino de Deus oferece felicidade no amor, na sinceridade na simplicidade… A sociedade injusta à custa da felicidade da maioria, cria a falsa felicidade da minoria. A proposta de Jesus nas Bem-aventuranças consiste em eliminar toda a opressão e toda a injustiça, procurando a felicidade e a vida na abundância para todos e para todas.
A mesma lógica proposta por Mateus é a que recorda Paulo na Carta aos Coríntios, onde a força de Deus se concretiza nas pessoas que não são fortes nem sábias na consideração da opinião comum, mas que sabem encontrar na presença de Cristo, força e sabedoria para que “o que se orgulha se orgulhe no Senhor” (1 Cor 26-31).

6. As Bem-aventuranças, um apelo de Jesus, a sua Biografia
Quem nos chama a seguir as Bem-aventuranças é Jesus Cristo, que foi pobre e não teve onde reclinar a cabeça; foi misericordioso, manso e humilde de coração e perdoou a quem o ofendia…; chama-nos à comunhão com Ele; chama a Igreja a reconhecer nas Bem-aventuranças o seu modelo e estilo de vida…
Quem nos chama a seguir o caminho das Bem-aventuranças é Jesus Cristo o “Homem acabado” revestido da incorruptibilidade e que chegou à plenitude como lhe chama Paulo na 1ª Carta aos Coríntios 15. Para aí caminhamos. Aquele que nos chama não é um profeta vitorioso pelas armas, mas um crucificado. É por Ele que nós somos transformados todos os dias, é Nele que recebemos a força para esta transformação e é para Ele que voltamos os nossos olhos. Constatamos que aderimos a uma mensagem a uma Boa Nova que está em completa contradição com a mentalidade reinante no nossos mundo, este mundo, do qual, não somos, mas, no qual, vivemos (Jo. 17,6-19).

P. José Augusto de Sousa S. J.

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