Dia
de Ramos; Entrada de Jesus em Jerusalém
Aclamado
pelas Crianças, Adolescentes e Jovens
ACLAMAÇÃO SEM PRETENSÕES
Quantos de nós saímos à rua para aclamar o poder, sem as mãos
limpas e o coração desinteressado!... Este mal é de todos os tempos e isto
mesmo aconteceu em Jerusalém com Jesus. Uns poucos meses atrás, vimos nos
Evangelhos a resistência dos Apóstolos que se opunham determinadamente a que
Jesus subisse a Jerusalém, pois ali os Profetas eram tratados sem dó nem
piedade, pelo poder político e até pelo poder dos fariseus. A resistência minou
o grupo dos Apóstolos e chegou ao auge, quando Pedro disse: “Tu, Senhor não
vais a Jerusalém”. E Jesus aqui não se poupou em chamar de satanás a Pedro,
porque ninguém tinha direito de lhe travar o caminho para Jerusalém. Mas,
depois de ressurreição de Lázaro, as coisas mudaram muito.
O Mestre gozava de prestígio e parece mesmo que começava a
responder às pretensões dos Apóstolos. Lembrou-se de montar um burrico, deu
umas voltas pela aldeia de Betânia, depois dirigiu-se para o Monte das
Oliveiras, desceu até ao Cedrón, subiu a Jerusalém e toda a pequenada dos
arredores de Betânia e da encosta do Monte das Oliveiras começou a aclamar o
Mestre: “Hosana, ó Filho de David...” e o curioso é que o Mestre não se fez
rogado, porque os que gritavam mais eram os Jovens, os mais indiferentes e
desprendidos de todo o poder. Por outro lado, Jesus gostou de ser aclamado como
o Messias que entrava a tomar posse da sua Cidade. Os Apóstolos juntaram-se aos
jovens a bater palmas, porque diziam: “Agora sim, Ele vai tomar posse do
Reino”... Mesmo sem alguma televisão para focar a imagem, lá se ia cada um
chegando mais à esquerda e à direita do Mestre para ocuparem um lugar de honra
no novo poder, como sempre pretenderam.
Jesus dá razão ao grupo da pequenada, mas não àqueles que
alimentavam pretensões. Sim, Ele vai tomar o poder, mas pela fraqueza, sobre “todos os poderes e dominações” e sobre o “último inimigo, a morte”... Tal é o verdadeiro triunfo!... O trono real deste triunfo será a Cruz. Onde Jesus assumirá uma
realeza que não é deste mundo e que nada tem a ver com o que consideramos como
autoridade... (diálogo com Pilatos)
JESUS SEM ILUSÕES
Nada nem ninguém impede Jesus de se ver aclamado, contudo Ele não
tinha ilusões: entrar em
Jerusalém em dia de Ramos era entrar na boca do lobo. Depois
de entrar no Templo em triunfo para tomar conta da Casa de Seu Pai, o ambiente
dos dias seguintes estava de chumbo e podia cortar-se à faca: no rosto
comprometido e carregado de Judas, no dos Apóstolos sempre aos avanços e
recuos, no dos fariseus, inimigos figadais, na indiferença de Pilatos, nos
medos da sua mulher sonhadora, na curiosidade de Herodes... enfim, no nosso
rosto...
A ESPADA DESEMBAINHADA E A LEGIÃO DE ANJOS
Todo este triunfo do dia de Ramos era bem ilusório. Basta que
ouçamos a leitura da Paixão deste dia para vermos o que aconteceu. Na Sexta-feira
Santa, tudo mudou. O triunfador já não ia montado num jumentinho, mas depois de
ser julgado nos tribunais de Anás, de Caifás e de Herodes, o instrumento do seu
triunfo é a cruz. E quem eram os aclamadores? Pedro pensava que, contra a
violência se responde com a violência e puxa da espada, mas perde a batalha.
Por outro lado, Deus não intervém nas decisões dos homens, mandando as legiões
de anjos que não se mobilizam para impedir os homens de irem até ao fim da sua
perversidade. Pelo contrário, Deus submete-se às nossas decisões, porque não
quer tolher a nossa liberdade. E é este o grande mistério, que só se compreende
no amor!... Deus nunca nos abandonará na nossa aflição, como o prova a Cruz.
A EUCARISTIA
Porquê? Porque na Cruz de Sexta-feira Santa é absorvida a morte
para sempre. A Cruz, onde o Filho de Deus se entrega por nós como que se tornou
uma mãe parturiente que nos dá à Luz o sangue e a água, - o sacramento do
Eucaristia e do Baptismo, o pão que nos mata a fome para sempre e a água que sacia
a nossa sede. O Corpo de Cristo, Humanidade Nova, está sempre a nascer, a
reunir-nos no mesmo caminho que é Cristo e, por Ele, entregamo-nos também nós
aos outros para os fazer viver. Todos nós, como os Apóstolos, temos que depor
as máscaras das nossas pretensões e abraçar a Cruz. Nela se reuniu o que andava
disperso.
LEMBRA-TE
DAS PROMESSAS DO TEU BAPTISMO
E lê (2 Cor.4,8-9;6,9-10)
P. José
Augusto Alves de Sousa S.J.
Pintura: Arcabas
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