domingo, 10 de março de 2013

Quaresma - IVDomingo C

Olhar para o Pai




(…) Que haverá na figura do pai? Porque prestamos tanta atenção aos filhos? O pai não será afinal o centro, aquele com quem me hei-de identificar? Porquê falar tanto em ser como os filhos se a pergunta-chave é: queres ser como o pai? Se alguém puder dizer: "Estes filhos são como eu" sente-se bem, sente-se compreendido. Mas se dissesse: "o pai é como eu", que sentiria? Quererei ser, não só como aquele que é perdoado, mas também como quem perdoa; não só como aquele a quem se dão as boas-vindas, mas também como quem as dá; não só como quem recebe misericórdia, mas também como quem a dá?

(…) Jesus descreve a misericórdia de Deus não só para me mostrar o que Deus sente por mim, ou para me perdoar os pecados e oferecer-me uma vida nova e muita felicidade, mas para me convidar a ser como Deus, a ser tão misericordioso para com os outros como Ele é para comigo. Se o único sentido da história fosse: toda a gente peca, mas Deus perdoa, muito facilmente começaria a pensar nos meus pecados como sendo uma bela ocasião para Deus me dar o seu perdão. Vistas assim as coisas, nem sequer haveria lugar para um autêntico desafio. Resignar-me-ia a ser fraco e ficaria à espera de que Deus acabasse por fechar os olhos aos meus pecados e me deixasse entrar em casa, fosse o que fosse que tivesse feito. Tal mensagem, porém, tão sentimental e romântica, não é a mensagem do Evangelho.

De facto, sou chamado a reconhecer a verdade a meu respeito: quer seja o filho mais novo, quer o mais velho, sou filho do meu Pai misericordioso. Sou herdeiro (Rom 8, 16-17). Assim, sendo filho e herdeiro, sou também sucessor. Estou destinado a assumir o lugar do Pai e a oferecer a outros a mesma compaixão que Ele me oferece. O regresso ao Pai é um desafio para que me transforme no Pai.

(…) A paternidade espiritual nada tem a ver com poder e controlo. É uma paternidade misericordiosa.

(…) O pai do filho pródigo não vive preocupado consigo mesmo. A sua vida tão cheia de sofrimento, fez dele um homem sem nenhuma vontade de controlar. Os filhos são a sua única preocupação: quer dar-se-lhes completamente e renuncia a tudo o resto.

Serei capaz de dar sem nada pedir em troca, amar sem pôr condições ao amor? Ao verificar a necessidade que tenho de ser reconhecido e apreciado, dou conta do duro combate que preciso de travar. Mas estou convencido de que, sempre que conseguir vencer essa necessidade e agir livremente, a minha vida dará os frutos do Espírito de Deus.

(De "O Regresso do Filho Pródigo" - Henri Nouwen)

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