domingo, 17 de novembro de 2013

Domingo XXXIII do Tempo Comum


Com os olhos postos em Deus permaneçamos firmes e perseverantes, na certeza de que Deus faz de nós um sinal do Seu Amor no Mundo
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O QUE FICA DO QUE PASSA É O AMOR QUE AMA

1. Eis-nos aqui, neste caminho e neste hoje. Passamos, vemos e somos vistos. Entramos no Templo ou na Igreja da nossa terra, cheia de belas pedras, lustres, imagens, talhas douradas, toalhas de linho, música e flores. Também de gente bem vestida e perfumada.

 2. Cá fora, lá fora, as guerras continuam, como continuam as catástrofes, as crises, as riquezas, as pobrezas, os impérios e os imperadores, os turistas que tiram fotografias, filmam pedras que julgam interessantes, a canalha, os pardais, os pares de namorados, os velhinhos sentados na soleira da sua porta, os vendedores fanáticos de qualquer seita, que tão depressa vaticinam desastres, como fabricam e vendem mezinhas e remédios, sonhos e futuros fáceis, enlatados, prefabricados, à medida, prontos a vestir ou a viver, mas também continuam as falências, as dores, as doenças, as desavenças, os desentendimentos familiares.

  3. Dentro do Templo, e não fora dele, à saída, como narram os Evangelhos de Mateus e Marcos, o Jesus de Lucas 21,5-19, que temos a graça de ouvir neste Domingo XXXIII do Tempo Comum, faz ver e compreender aos seus discípulos de ontem e de hoje como tudo é passageiro e efémero, «tão cedo passa tudo quanto passa»! Passam as belas pedras e as flores, os perfumes, os impérios, as palavras, as guerras, as tragédias!

 4. Nós fazemos sempre perguntas superficiais e epidérmicas, sem sentido: «Quando, e como se poderá saber quando será o fim destas coisas, deste mundo, deste tempo!». É evidente que Jesus não nos responde directamente, mas adverte-nos: «Não vos deixeis enganar, nem perturbar!». E aproveita a embalagem para orientar o nosso olhar e o nosso coração para o essencial: o fim não deve desviar-nos e distrair-nos do Presente, da Presença, d’Aquele que não passa, e em Quem devemos sempre saber pôr o coração.

 5. É esta Presença, esta Voz que Hoje nos chama e diz que nos ama, que deve reclamar toda a nossa atenção, o nosso coração inteiro. Portanto, silêncio em nós. Pausa e bemol. Tempo novo de deixar falar o Espírito (Lucas 12,12) e Jesus (Lucas 21,15). Não há lugar para atitudes de auto-defesa («não prepareis a vossa defesa»), mas para «o testemunho».

 6. No Templo ardia o fogo perpétuo no altar do incenso, cuidado e renovado duas vezes ao dia, nove da manhã e três da tarde, pelo sacerdote de turno. Esse fogo era o sinal desta Presença amante e interpelante. Nas nossas Igrejas arde permanentemente aquela frágil lamparina, luzinha acesa junto do Sacrário, que assinala esta Presença, este Presente. Não nos deixemos distrair ou perturbar com o acidental. Velemos por esta Presença essencial, que vela por nós sempre. Afinal, é «Na tua Luz que veremos a Luz» (Salmo 36,10).
 7. Esta Luz pequenina, vou deixá-la brilhar! Está acesa no mundo para alumiar e aquecer a nossa vida, purificar o nosso coração esclerosado, empedernido, atulhado de impurezas e asperezas, e sinalizar rumos novos, tenros, ternos, verdadeiros. Cuidado convosco! Não suceda que essa luzinha, essa chamazinha que arde mansamente, se transforme num fogo ardente, incontrolável, que queima a vossa palha (Malaquias 3,19). O problema não está no fogo. Está na palha. Limpai, portanto, já o vosso coração de toda a tralha que possa fazer com que aquela luzinha, aquela chamazinha, se transforme num fogo inextinguível.

 8. Trabalhai com diligência e amor. Semeai o vosso trigo, tratai-o com carinho, limpai-o da palha que o possa afogar, regai-o, colhei-o com alegria, moei-o, amassai a farinha com as vossas mãos limpas e carinhosas, acendei o forno com cuidado, cozei o vosso pão, parti-o e comei-o à vossa mesa, com uma vela acesa! Chamai o pobre, fazei-o entrar e sentar, alumiai-o e alimentai-o. Agasalhai-o. É a lição de S. Paulo aos Tessalonicenses 3,7-12.

 9. Sim, meus irmãos, o fio de ouro, a filigrana, que atravessa a história, é o amor. É o que fica do que passa. É, portanto, o amor que julga, isto é, que põe em crise, a nossa história e a nossa vida vã e banal. O fim do mundo é o amor que ama. Quero dizer aquilo que põe fim ao meu mundo vão e banal, é o amor que ama, e, porque ama, é pessoal, é uma pessoa, é Deus que vem, amando, e me faz ver, amando-me, como eu tenho andado enganado!

 10. Cantai, pois, um cântico novo, que tenha a idade e a fidelidade do amor, ao Deus que vem para julgar, amando, e renovar, sempre amando e acariciando, a terra do nosso coração. Mudai, então, as cordas do coração, e cantai o Salmo 98.
D. António Couto

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