quinta-feira, 19 de junho de 2014

A TRINDADE: TRÊS EM UM, COMUNHÃO DE AMOR


Um só Deus em três pessoas distintas, foi o que aprendemos na Catequese, aquilo em que, no passado, acreditaram milhares e milhares de cristãos e cristãs e aquilo em que também nós hoje continuamos a acreditar. Chamamos a esta verdade da nossa fé cristã, o Mistério da Santíssima Trindade. Um só Deus em três pessoas distintas? Três em um? Nisso temos que acreditar, ainda que, em realidade, a Escritura nunca nos fala da Trindade a propósito de Deus. Ela não diz: eles são três ou: ele é três. A Escritura não faz contas. Mas se não nos fala de Trindade, a Trindade foi objecto de muita investigação pelos teólogos, ao longo de séculos. Contudo, apesar dessa muita investigação e de tudo aquilo que se escreveu sobre a Trindade, ainda hoje nos continuamos a perguntar: Como podemos explicar verdadeiramente a Trindade? Como deixar de a explicar, se ela constitui o coração da fé cristã? Não confessamos nós: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo? Damos uma primeira resposta, dizendo: não são três deuses mas um só Deus em três pessoas distintas. O nosso Deus é Trindade, três em um, mas como se chegou aqui? Através da razão? Empresa difícil, como se pode ver nas grandes reflexões filosóficas e teológicas dos nossos antepassados. Mas esse esforço não foi, nem é em vão. Ele ajuda-nos a reavivar a nossa fé e a nossa confiança no Pai, a acolher a salvação que nos trouxe o seu Filho Jesus e a sentirmos sempre viva a presença do Espírito Santo que nos dá força, coragem e que nos consola nas maiores dificuldades da vida. A Escritura fala-nos, assim, do Pai, do Filho e do Espírito Santo para exprimir aquilo a que podemos chamar a “invasão” ou a corrente salutar do amor de Deus na nossa humanidade. “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigénito para que todo o que crê nele não pereça mas tenha a vida eterna…” (Jo.3,16)
Continuando, dizemos ainda: A fé na Trindade e, para nós, objecto de oração, como o foi e é, para todos os grandes santos do passado e do presente, embora, claro está que a nossa oração não se dirige à Trindade que é um dogma, mas ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Devemos também acolher na nossa fé e na nossa oração de louvor e de acção de graças todas as reflexões feitas no passado para se penetrar no Mistério, porque isto nos ajuda também na vida segundo o Espírito. Tanta coisa boa nos vem desse passado e nos é prometido para o futuro!.. Mas, apesar de todas essas coisas boas, a Igreja, na sua meditação interior que alimenta a sua história, considerou e considera sempre que o melhor caminho para alimento da oração foi e é o trazer à luz, a sua vivência de séculos sobre a Trindade.
Eis essa história de vida. A palavra Trindade foi introduzida no vocabulário cristão logo desde os tempos apostólicos. No nosso baptismo nos tornamos filhos ou filhas de Deus, irmãos ou irmãs de Cristo, envolvidas (as) do Espírito de Santidade. Nos Evangelhos, o baptismo de Cristo é a única manifestação do Pai, do Filho e do Espírito Santo que nos é contada. Há gestos simples como o sinal da Cruz que nos põe em presença dos três. Descobrimos a grandeza e a manifestação deste mistério através de tantos irmãos nossos que alimentaram a sua vida na contemplação e no saborear as maravilhas do amor do Pai por nós que nos deu o seu Filho para elevar a nossa natureza humana á vida de Deus e nos dá o seu Espírito, para nos fazer entrar na corrente de amor que une o Pai e o Filho. As nossas orações  terminam por um Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo ou então: Pai, nós te pedimos, por Jesus na Unidade do Espírito Santo. No momento da Proclamação do Evangelho, os fiéis traçam um tríplice sinal cruz sobre a fronte, na boca e no peito. Esta é uma das marcas da veneração do Evangelho. No Credo, proclamamos a nossa fé no Pai Todo- Poderoso, em Jesus Cristo, Filho único do Pai e no Espírito Santo, Senhor que dá a vida. Finalmente não podemos esquecer a Liturgia, toda ela dirigida ao louvor, do Pai do Filho e do Espírito Santo, através dos hinos e dos ritos, da proclamação da Palavra e das aclamações
Poderíamos exprimir minimamente tudo o que acabamos de dizer com esta comparação arriscada: o Pai, é o princípio, a fonte; o Filho, é o rio e o Espírito Santo é o braço do estuário que verte a água no oceano do mundo: “ ide por todo o mundo, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo…”(Mt.28, 19). Tudo é embebido neste oceano de Amor e de Vida que é o Espírito de Deus.
Mergulhamos neste oceano de Amor pela comunhão: comunhão connosco mesmos, comunhão com as pessoas, as coisas, a vida; comunhão que no meio dos problemas nos abre sempre a uma reconciliação a um acordo, numa palavra, ao amor. Comunhão é muito mais do que estar de acordo ou coincidir. É juntar os ânimos e comungar entre nós à imagem da Comunhão por excelência que existe na Santíssima Trindade. Quem quer amar como o Pai, o Filho e o Espírito Santo há-de começar por aprender a cantar ávida, a vibrar com a beleza da criação, a estremecer diante do mistério, a romper as cadeias, a abrir sulcos para que a semente desabroche viçosa; há-de aprender a curar as feridas e a manter viva a esperança dum mundo melhor. Aprender a viver, vibrar com a beleza das coisas, cantar a vida, arriscar a amar como o Pai, o Filho e o Espírito Santo é penetrara na intimidade da Trindade.
Nunca acabaremos de compreender tudo aquilo que nos foi ensinado pelo Verbo de Deus. Contudo é na nossa relação íntima com Ele que a Trindade nos acolhe e nós entramos na Comunhão de Amor que é o nosso Deus.

P. José Augusto de Sousa S.J. 



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