Há dias, enquanto repassava o olhar pela TV, estava a ser transmitido um programa sobre a iniciativa de um grupo de católicos que queria viver o Natal de um modo interpelativo, isto é, fizeram um número incontável de presépios a fim de os proporcionarem a quem anda esquecido do verdadeiro sentido do Natal.
Num dos últimos sábados, estando eu a conversar com uma criança da catequese, percebi que estava um pouco ansiosa. Quis saber o motivo; sabe porquê, Sr. padre, disse, estou à espera dos meus pais, vão levar-me para a "Disney-pelourinho". O ano passado também fui e foi muito giro.
Em conversas ocasionais sobre as ceias de Natal que nesta quadra proliferam em muitas instituições, grupos e associações, alguém me dizia: o bacalhau está muito caro, mas a ceia de Natal sem bacalhau, nem é ceia nem mesmo Natal.
Depois de expostos estes três episódios, não esperem que eu diga que os presépios não são importantes, que o carrossel do Pelourinho não faz a criança feliz, ou que o bacalhau não pode ser "fiel amigo" entre amigos e familiares numa noite de afecto sentido à flor da pele. Tudo isto tem a sua importância, e não só: os cartões de Natal, os e-mails com attaches musicais, os SMS's, os presentes, as luzes, a música, o encontro familiar, a missa do galo, tudo pode ter o justo lugar na quadra natalícia. De facto, não reconhecer o lugar próprio de cada manifestação religiosa e humana, seria como tentar celebrar o Natal desencarnado de uma determinada cultura ou tradições. Se assim fosse, entrar-se-ia em contradição com a criatividade de Deus que em Jesus se faz cada um de nós, em tudo, excepto no que desumaniza. O cerne da questão não está em destruir o que não é objectivamente espírito natalício. O ponto central está em purificar tudo o que afasta do espírito natalício. Mas, discernir o que nos leva ao presépio de Jesus e o que dele nos afasta, não é tarefa fácil. O mais fácil seria: ou entrar num espiritualismo ao ponto de deixar escapar o rosto humano de Deus no Menino de Belém, ou cair num Natal materialista ao ponto de até os presentes perderem o seu significado humano e divino. Entre os extremos expostos, encontramos Jesus na manjedoura, rodeado de pessoas que na simplicidade de Maria, José, e outros amigos, descobrem o valor da autenticidade de cada gesto, e presenças feitas Presente. É através desta experiência que partem de Jesus, pois tudo vem d'Ele e remete para Ele, uma vez que o valor de cada coisa, de cada presente, está em remeter para Ele. Só a partir desta perspectiva se pode apreciar ou reconhecer o valor dos presentes, uma vez que estes contêm o Presente dos presentes: a ternura de Deus no rosto de uma criança: Emanuel-Deus Connosco. Por isso, o significado e a validade dos presentes não depende dos prazos, nem mesmo do seu valor material, mas do seu significado simbólico: recordam, transmitem, traduzem a presença de Jesus nas nossas relações. Que neste Natal, tempo de luzinhas coloridas, elas não desfoquem a verdadeira Estrela e Iluminação do Natal, Jesus. Feliz Natal.
Francisco Rodrigues,s.j.
Num dos últimos sábados, estando eu a conversar com uma criança da catequese, percebi que estava um pouco ansiosa. Quis saber o motivo; sabe porquê, Sr. padre, disse, estou à espera dos meus pais, vão levar-me para a "Disney-pelourinho". O ano passado também fui e foi muito giro.
Em conversas ocasionais sobre as ceias de Natal que nesta quadra proliferam em muitas instituições, grupos e associações, alguém me dizia: o bacalhau está muito caro, mas a ceia de Natal sem bacalhau, nem é ceia nem mesmo Natal.
Depois de expostos estes três episódios, não esperem que eu diga que os presépios não são importantes, que o carrossel do Pelourinho não faz a criança feliz, ou que o bacalhau não pode ser "fiel amigo" entre amigos e familiares numa noite de afecto sentido à flor da pele. Tudo isto tem a sua importância, e não só: os cartões de Natal, os e-mails com attaches musicais, os SMS's, os presentes, as luzes, a música, o encontro familiar, a missa do galo, tudo pode ter o justo lugar na quadra natalícia. De facto, não reconhecer o lugar próprio de cada manifestação religiosa e humana, seria como tentar celebrar o Natal desencarnado de uma determinada cultura ou tradições. Se assim fosse, entrar-se-ia em contradição com a criatividade de Deus que em Jesus se faz cada um de nós, em tudo, excepto no que desumaniza. O cerne da questão não está em destruir o que não é objectivamente espírito natalício. O ponto central está em purificar tudo o que afasta do espírito natalício. Mas, discernir o que nos leva ao presépio de Jesus e o que dele nos afasta, não é tarefa fácil. O mais fácil seria: ou entrar num espiritualismo ao ponto de deixar escapar o rosto humano de Deus no Menino de Belém, ou cair num Natal materialista ao ponto de até os presentes perderem o seu significado humano e divino. Entre os extremos expostos, encontramos Jesus na manjedoura, rodeado de pessoas que na simplicidade de Maria, José, e outros amigos, descobrem o valor da autenticidade de cada gesto, e presenças feitas Presente. É através desta experiência que partem de Jesus, pois tudo vem d'Ele e remete para Ele, uma vez que o valor de cada coisa, de cada presente, está em remeter para Ele. Só a partir desta perspectiva se pode apreciar ou reconhecer o valor dos presentes, uma vez que estes contêm o Presente dos presentes: a ternura de Deus no rosto de uma criança: Emanuel-Deus Connosco. Por isso, o significado e a validade dos presentes não depende dos prazos, nem mesmo do seu valor material, mas do seu significado simbólico: recordam, transmitem, traduzem a presença de Jesus nas nossas relações. Que neste Natal, tempo de luzinhas coloridas, elas não desfoquem a verdadeira Estrela e Iluminação do Natal, Jesus. Feliz Natal.
Francisco Rodrigues,s.j.
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