segunda-feira, 2 de abril de 2012


A celebração litúrgica do dia de hoje condensa os contrastes e contradições de toda a semana que se segue. Por um lado, recordamos a entrada triunfal de Jesus na cidade santa, por outro, lemos e meditamos a descrição da Paixão. Só cinco dias separaram no tempo estes dois acontecimentos - mas quantas diferenças! O mesmo povo O aclama primeiro e O acusa depois! Porquê esta mudança brusca no comportamento da multidão? A memória curta das multidões não explica tudo. Não tinham ainda compreendido que espécie de reinado era o de Jesus Cristo. Impressionados pela cura do cego de nascença e pela ressurreição de Lázaro, viram em Jesus o libertador político: finalmente aparecera o rei, o descendente de David, que iria expulsar o dominador romano! Mas os acontecimentos dos dias seguintes vieram desfazer esses sonhos e Jesus, de triunfador de domingo, passou ao desprezado e malfeitor de sexta-feira. Não era Jesus a entrar em Jerusalém que eles aclamavam, mas sim a imagem que a sua própria conveniência dEle criara. Desde sempre Jesus Cristo é sinal de contradição e também nós corremos o risco
de "instrumentalizar" a sua imagem. Esta semana recorda-nos vivamente que este Homem em quem acreditamos (não porque nos dá jeito, ou por pura tradição) é Deus feito homem, humilhado até à Cruz, por nós, solidário com as nossas dores e limitações, até à morte. Este é o Jesus que quis sofrer a injustiça, a traição, a tortura, o desprezo, o sofrimento, a condenação à morte - para estar perto de tantos homens e mulheres sujeitos a idênticos ciclos de violência. Ele próprio tinha anunciado, paradoxalmente, que esta era a sua "hora", este o seu "dia" de vitória, o seu tempo de glorificação. É, de facto, a semana em que a morte e a vida travam um combate total; aparentemente vencido, Jesus Cristo é o vencedor! "Eu sou a vida", tinha afirmado antes. E a vida vence a morte. "Páscoa" significa "passagem"; passagem da humilhação ao triunfo, da derrota à vitória, da morte à vida. Estes dias são de tristeza, acompanhando o Senhor na sua Paixão. Mas são também de alegria, são dias de derrota vitoriosa, porque da morte nasce a vida. É com os olhos postos na manhã da Ressurreição que devemos meditá-los e vivê-los, na liturgia, na oração, no nosso dia-a-dia.
P. Manuel Vaz Pato, sj

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