Dar ou tirar a vida?
Não é assim tão
simples responder a esta pergunta. Por vezes não parece que o tempo, e mil
outras situações, nos vão tirando pedaços de vida? Quantos sonhos por realizar,
quanta azáfama e correria, e, de repente, chocamos com a fragilidade de um
acidente ou uma doença. É verdade, podemos andar a viver como se tudo nos fosse
tirado: o tempo, o vigor, a saúde, o convívio com os outros. Mas também é
possível ter outra perspectiva: a vida foi-nos dada para aprendermos a dá-la.
Quando dá gosto e quando custa, dar como quem semeia, dar quando não apetece,
dar como se fosse este o último momento, dar com sorrisos ou com lágrimas.
Conseguimos ver a diferença?
“Ainda há pastores?” é
o título de um belíssimo documentário de 2008 de Jorge Pelicano. Foi dele que
me lembrei ao voltar a ler este evangelho chamado do Bom Pastor. Não tanto
preocupado pelos pastores de gado (que certamente a crise também afecta) mas
por esta imagem/missão que gosto de ver atribuída a todos nós. Não somos um
pouco pastores de todos aqueles que amamos? Não nos preocupamos com eles e
desejamos cuidar com atenção e ternura, como diz o Caetano Veloso: “Quando a
gente ama é claro que a gente cuida?”? O que é que pode mudar tudo isso? O que
pode fazer com que alguém, responsável por outras pessoas, pelo bem comum, pelo
dinheiro de muitos, pelo serviço a uma comunidade, deixe de ser pastor e passe
a mercenário? Se se desiste do esforço de educar, de ser honesto e verdadeiro,
de assumir os erros para melhorar, de dar valor ao trabalho, de procurar o maior
bem para os outros, então, não há mesmo pastores!
“Amigos improváveis” (“Intouchables” no original), o maior êxito do cinema francês, é um filme que nos “toca”. Porque na situação de duas pessoas que, normalmente, não se “tocariam”, pois pertencem a mundos tão diferentes e distantes, descobrimos como nos tornamos responsáveis uns pelos outros. E como a responsabilidade mútua é capaz de levar a verdadeiros milagres de ressurreição. Quando somos verdadeiros connosco e com os outros, quando ultrapassamos a aparência e vencemos o egoísmo, esse bichinho tão pernicioso que nos esburaca a alma fazendo-nos crer que assim é que somos felizes. Sim, isto de Deus nos fazer à sua imagem tem grandes consequências: só podemos ser felizes quando nos damos, quando nos gastamos com outros e para outros, quando ajudamos a descobrir a maravilha da vida até de alguém que só pode mexer a cabeça. Não será essa a diferença entre dar ou guardar a vida? Vamos lá descobrir de novo de quem somos pastores!
“Amigos improváveis” (“Intouchables” no original), o maior êxito do cinema francês, é um filme que nos “toca”. Porque na situação de duas pessoas que, normalmente, não se “tocariam”, pois pertencem a mundos tão diferentes e distantes, descobrimos como nos tornamos responsáveis uns pelos outros. E como a responsabilidade mútua é capaz de levar a verdadeiros milagres de ressurreição. Quando somos verdadeiros connosco e com os outros, quando ultrapassamos a aparência e vencemos o egoísmo, esse bichinho tão pernicioso que nos esburaca a alma fazendo-nos crer que assim é que somos felizes. Sim, isto de Deus nos fazer à sua imagem tem grandes consequências: só podemos ser felizes quando nos damos, quando nos gastamos com outros e para outros, quando ajudamos a descobrir a maravilha da vida até de alguém que só pode mexer a cabeça. Não será essa a diferença entre dar ou guardar a vida? Vamos lá descobrir de novo de quem somos pastores!
P. Vítor Gonçalves
in VOZ DA VERDADE
29.04.2012
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