Giotto
«‘Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro’.» (Mt 21, 5)
As portas de Jerusalém abrem-se para Jesus. Há ramos e cantos. A
multidão, como sempre, segue a marcha e faz a festa. Finalmente – pensarão
muitos –, o Mestre será reconhecido e aclamado por todos. Chegou a hora
decisiva, o momento do grande encontro. É tempo de paixão.
Na realidade, ainda que rodeado por tantos, Jesus entra só. Nem os
discípulos estão com ele. Mas quem
poderia estar com ele? É duro de aceitar que, para ganhar a vida, se há-de
perdê-la. Como comungar os sentimentos de quem assume a condição mais baixa de
servo, pretendendo revelar, assim, toda a beleza de Deus? Como reconhecer o
Messias em quem aceita humilhar-se até à vergonha da morte numa cruz? Não foi,
Jesus, profeta poderoso em palavras e obras? Como poderá, então, aceitar
calar-se como uma ovelha muda, levada ao matadouro?
Em breve, todos os hossanas cessarão. A aclamação dará lugar à queixa e
as palmas à indiferença. O verde dos ramos ficará rubro, cor de sangue. O Rei
será revestido de nudez. Terá espinhos por coroa e feridas por jóias. Na cruz
terá a sua glória. Será exaltado pela humilhação.
Quem reconhecerá no servo desprezado o mais belo dos homens? Quem ficará
aqui, assim, em tamanha confusão, em tão grande silêncio? Ficarão os pobres e
os apaixonados que se deixarem enriquecer por tão grande amor. E ficará o
discípulo que aceitar nascer de novo. Reconhecido, ficará pronto a ir até aonde
for o seu Mestre.
Que esta Quaresma
nos conduza a Jerusalém. A cidade santa espera
que os nossos passos sigam firmes na senda d’Aquele que já fez o mesmo caminho.
Arrisquemos nesse seguimento. Mesmo que a luz teime
em esmorecer dentro de nós. Mesmo que nos impeçam de caminhar atrás do Mestre.
A cidade santa espera por nós.
Não queiramos voltar as costas à cruz que a cidade nos entrega.
Sigamos atrás desse desejo de vida que nenhuma dor será capaz de enterrar.
P. José Frazão, sj
(adaptação)
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