Um
só Deus em três pessoas distintas, foi o que aprendemos na Catequese, aquilo em
que, no passado, acreditaram milhares e milhares de cristãos e cristãs e aquilo
em que também nós hoje continuamos a acreditar. Chamamos a esta verdade da
nossa fé cristã, o Mistério da Santíssima Trindade. Um só Deus em três pessoas
distintas? Três em um? Nisso temos que acreditar, ainda que, em realidade, a
Escritura nunca nos fala da Trindade a propósito de Deus. Ela não diz: eles são
três ou: ele é três. A Escritura não faz contas. Mas se não nos fala de
Trindade, a Trindade foi objecto de muita investigação pelos teólogos, ao longo
de séculos. Contudo, apesar dessa muita investigação e de tudo aquilo que se
escreveu sobre a Trindade, ainda hoje nos continuamos a perguntar: Como podemos
explicar verdadeiramente a Trindade? Como deixar de a explicar, se ela
constitui o coração da fé cristã? Não confessamos nós: Deus Pai, Deus Filho e
Deus Espírito Santo? Damos uma primeira resposta, dizendo: não são três deuses mas um só Deus em três pessoas distintas. O
nosso Deus é Trindade, três em um, mas como se chegou aqui?
Através da razão? Empresa difícil, como se pode ver nas grandes reflexões
filosóficas e teológicas dos nossos antepassados. Mas esse esforço não foi, nem
é em vão. Ele ajuda-nos a reavivar a nossa fé e a nossa confiança no Pai, a acolher
a salvação que nos trouxe o seu Filho Jesus e a sentirmos sempre viva a presença do Espírito Santo que nos dá força,
coragem e que nos consola nas maiores dificuldades da vida. A Escritura fala-nos,
assim, do Pai, do Filho e do Espírito Santo para exprimir aquilo a que podemos
chamar a “invasão” ou a corrente salutar do amor de Deus na nossa humanidade. “Deus
amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigénito para que todo o que
crê nele não pereça mas tenha a vida eterna…” (Jo.3,16)
Continuando,
dizemos ainda: A fé na Trindade e, para nós, objecto de oração, como o foi e é,
para todos os grandes santos do passado e do presente, embora, claro está que a
nossa oração não se dirige à Trindade que é um dogma, mas ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo. Devemos também acolher na nossa fé e na nossa oração de louvor
e de acção de graças todas as reflexões feitas no passado para se penetrar no
Mistério, porque isto nos ajuda também na vida segundo o Espírito. Tanta coisa
boa nos vem desse passado e nos é prometido para o futuro!.. Mas, apesar de
todas essas coisas boas, a Igreja, na sua meditação interior que alimenta a sua
história, considerou e considera sempre que o melhor caminho para alimento da
oração foi e é o trazer à luz, a sua vivência de séculos sobre a Trindade.
Eis
essa história de vida. A palavra
Trindade foi introduzida no vocabulário cristão logo desde os tempos
apostólicos. No nosso baptismo nos tornamos
filhos ou filhas de Deus, irmãos ou irmãs de Cristo, envolvidas (as) do Espírito
de Santidade. Nos Evangelhos, o baptismo de Cristo é a única
manifestação do Pai, do Filho e do Espírito Santo que nos é contada. Há gestos
simples como o sinal da Cruz que nos
põe em presença dos três. Descobrimos a grandeza
e a manifestação deste mistério através de tantos irmãos nossos que alimentaram
a sua vida na contemplação e no saborear as maravilhas do amor do Pai por nós
que nos deu o seu Filho para elevar a nossa natureza humana á vida de Deus e nos
dá o seu Espírito, para nos fazer entrar na corrente de amor que une o Pai e o
Filho. As nossas orações terminam por um
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo ou então: Pai, nós te pedimos,
por Jesus na Unidade do Espírito Santo. No momento da Proclamação do Evangelho,
os fiéis traçam um tríplice sinal
cruz sobre a fronte, na boca e no peito. Esta é uma das marcas da veneração
do Evangelho. No Credo, proclamamos
a nossa fé no Pai Todo- Poderoso, em
Jesus Cristo, Filho único do Pai e no Espírito Santo, Senhor que dá a vida.
Finalmente não podemos esquecer a Liturgia,
toda ela dirigida ao louvor, do Pai do Filho e do Espírito Santo, através dos
hinos e dos ritos, da proclamação da Palavra e das aclamações
Poderíamos
exprimir minimamente tudo o que acabamos de dizer com esta comparação
arriscada: o Pai, é o princípio, a fonte; o Filho, é o rio e o Espírito Santo é
o braço do estuário que verte a água no oceano do mundo: “ ide por todo o
mundo, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai do Filho e do
Espírito Santo…”(Mt.28, 19). Tudo é embebido neste oceano de Amor e de Vida que
é o Espírito de Deus.
Mergulhamos
neste oceano de Amor pela comunhão: comunhão connosco mesmos, comunhão com as
pessoas, as coisas, a vida; comunhão que no meio dos problemas nos abre sempre
a uma reconciliação a um acordo, numa palavra, ao amor. Comunhão é muito mais
do que estar de acordo ou coincidir. É juntar os ânimos e comungar entre nós à
imagem da Comunhão por excelência que existe na Santíssima Trindade. Quem quer
amar como o Pai, o Filho e o Espírito Santo há-de começar por aprender a cantar
ávida, a vibrar com a beleza da criação, a estremecer diante do mistério, a
romper as cadeias, a abrir sulcos para que a semente desabroche viçosa; há-de
aprender a curar as feridas e a manter viva a esperança dum mundo melhor.
Aprender a viver, vibrar com a beleza das coisas, cantar a vida, arriscar a
amar como o Pai, o Filho e o Espírito Santo é penetrara na intimidade da
Trindade.
Nunca
acabaremos de compreender tudo aquilo que nos foi ensinado pelo Verbo de Deus.
Contudo é na nossa relação íntima com Ele que a Trindade nos acolhe e nós
entramos na Comunhão de Amor que é o nosso Deus.
P. José
Augusto de Sousa S.J.