Reflexão,
a partir das leituras do 28º Domingo: Isaías 25, 6-10; Filipenses 12-14.19-20;
Mateus 22,1-14
DEUS
É UM DEUS DE TODOS: “Sobre este monte, o Senhor do Universo há-de
preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos e vinhos
deliciosos”... Este texto de Isaías lido neste Domingo repete, por três vezes,
a alusão ao monte. Isaías vivia em Jerusalém e esta alusão ao monte, refere-se à colina da cidade de Jerusalém onde se
ergue o Templo do Senhor. Este Templo será a meta da peregrinação de todos
os povos. Isaías anuncia aqui, neste monte, a salvação que se concretizará na aniquilação
da morte, no enxugar das lágrimas pelo Senhor, no retirar do opróbrio que pesa
sobre o povo. O povo recobrará alegria, porque o véu de luto que pesava sobre
ele foi retirado. E o Profeta anuncia, sobretudo, a celebração dum banquete, para o qual, são convidados todos os povos
da terra... Neste banquete, conviverão todos os povos e já não há inimigos
como, muitas vezes, pensou Israel, porque Deus é o Deus de todos e a sua
misericórdia se estende por toda a terra. A salvação de Deus traz consigo a
reconciliação universal e, por isso, há motivos mais que suficientes para
celebrar a festa.
AS NÚPCIAS DO FILHO - O CORDEIRO DE DEUS, BANQUETE FINAL COMO CONCLUSÃO DE TODA A
HISTÓRIA: O Evangelho de Mateus, na Parábola que acabamos de ouvir,
refere-se à Celebração do Banquete em Isaías que é a Profecia da Celebração do
Banquete das Núpcias do Filho, o Banquete Final, como conclusão de toda a
História. Nela, o evangelista Mateus, com o estilo que lhe é próprio, retoma os
termos de Isaías para nos descrever a sumptuosidade duma refeição que podemos
chamar escatológica, isto é, a refeição dos últimos tempos que celebra
a última intervenção de Deus na história dos homens. Tudo está preparado, diz o Evangelho que nos confirma que as
núpcias são, para agora, para os novos tempos, os tempos que começaram com Jesus Cristo. O tema das núpcias do
Filho de Deus com a humanidade está presente em todo o Novo Testamento até ao
Apocalipse 19, 6-9, onde se apresenta as núpcias do Cordeiro como conclusão de
toda a história, a refeição do fim dos tempos, imagem da Vida Eterna. (não a
refeição do fim do mundo, como, por vezes, se tem a tentação de dizer). Isaías
e o Evangelho vêem nestas núpcias um fim feliz, embora o percurso pela história
tenha sido difícil. Um véu de luto que envolvia todos os povos foi retirado, mas
mesmo assim, os homens continuam a recusar o convite. Jesus não impõe nada à
força, não pressiona ninguém. Anuncia a Boa Notícia de Deus, desperta a
confiança no Pai e acende nos corações a esperança. Mas uns e outros e, também
nós, continuamos contentes com o nosso bem - estar e surdos ao que não sejam os
nossos interesses imediatos. Parece até que não necessitamos de Deus! Alguns
continuamos a ir para campo (entende-se o que isto quer dizer), outros entregamo-nos
aos negócios e há até quem se atreve e excluir ou até a matar os servos que
vieram para convidar para o banquete. As reacções dos convidados faz-nos
lembrar a reacção dos vinhateiros homicidas, de que falamos no Domingo passado,
embora aqui encontremos dois tipos de reacções. Há aqueles que se entregam à rotina
do dia-a-dia e não querem, simplesmente, ouvir o convite. Estão prisioneiros do
seu mundo e dos seus negócios. Um pouco como sucedia na Parábola do Semeador
(Mt.13,3-23) E há aqueles que recebem a semente nos espinhos, um coração
prisioneiro das paixões, da preocupação do mundo e da sedução das riquezas.
Todos estes convidados não têm em conta o convite e vão cada qual para os seus
afazeres. No Domingo passado, vimos que vinha era dada a outros vinhateiros e
aqui, na parábola deste Domingo, a sala da refeição das núpcias se enche de novos
convivas. Não importa quem são estes novos convivas. São os conhecidos e os desconhecidos,
encontrados ao azar, nas encruzilhadas dos caminhos, são os estrangeiros... No
evangelho de Lucas, são os pobres, os estropiados, os cegos, os coxos
(Lc.14,21).
O
HÁBITO DAS NÚPCIAS. A NUDEZ DO CONVIDADO (SEM DEUS NA VIDA), A NUDEZ DA CRUZ E
A REVELAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO. Uma das coisas estranhas é o
que nos diz a parábola acerca daquele homem que entrou sem o traje de núpcias. Primeiramente,
uma possível interpretação bíblica do sucedido. A nudez aparece no Génesis 3.
Adão e Eva pecaram e sentem-se nus, quer dizer, sem Deus e, por conseguinte,
desarmados e sem defesa. Mas noutra passagem da Bíblia, encontramos sobre a cruz um homem nu, desnudado, de quem os seus
algozes partilham os seus vestidos. A nudez é assim o hábito das Núpcias que
leva Cristo sobre o leito das núpcias com a humanidade. Talvez seja deste modo
que devemos interpretar a questão do homem que se apresentou sem a veste nupcial.
Ele devia apresentar-se desarmado, despojado para aceder à unidade com Deus!
Depois desta interpretação bíblica, não se pense, pois, nesta cena, numa
questão meramente moral: o homem não era digno, porque não estava em estado de
graça e de rectidão moral. Contudo, é legítimo perguntar: somos nós entregues a
um Deus castigador que não nos perdoa e expulsa-nos do banquete? Há bastantes
textos no Antigo Testamento e o mesmo se diga no Novo Testamento que nos
poderiam levar a supor isso. Mas Jesus apenas nos anuncia aquilo que deveria
acontecer, segundo o curso normal das coisas, se nós permanecêssemos sob o
regime da Lei do Antigo Testamento. Dizemos, além disso que tanto os vinhateiros
como os convidados se excluíram eles próprios do lugar da vida e donde receberiam
a vida. Mas mais tarde, na revelação do Novo Testamento aprendemos que mesmo os
assassinos terão parte na refeição das núpcias. Para compreendermos isto, é necessário entender a linguagem da cruz,
ver Jesus crucificado e ver como ele perdoa aos seus algozes aos assassinos.
No fim de contas, é a cruz que é o leito
das núpcias de Cristo com a humanidade. É aí que entregará o seu corpo e o
seu sangue para se tornar connosco uma só carne. Aí, toma no nosso pecado, este
pecado que o mata, e rouba a nosso felicidade. Nós somos com efeito autores e
vítimas da nossa desgraça. Mas, as coisas não ficaram por aí, porque a núpcias
são a fonte de vida e que a ressurreição fará de nós filhos de Deus animados
duma vida nova. Nos eis desposados e gerados neste dia das Núpcias do Cordeiro.
O nosso Evangelho de hoje enuncia tudo isto em termos velados, quando o rei prescreve
aos servos de fazer entrar na sala da festa tanto os bons como os maus.
NOTA. A
interpretação desta parábola lança-nos nas mãos de Deus. Ele não desiste de
convidar-nos para o Banquete. Quem aceita o seu convite? Quem o anuncia? Quem o
escuta? Que Evangelho anunciamos? Alguns acentos doutrinais ou morais ou
determinadas opções ideológicas? Ou uma vida, a vida de Deus revelada em Jesus
Cristo? E como atitude: o importante é reconhecermo-nos humildes pecadores e
sempre nos julgarmos necessitados de perdão. Mas não dizer apenas: Deus
perdoa-me, logo continuo a pecar, ou então: não mato nem roubo e abandono
sistematicamente o Sacramento da Penitência! Será mesmo assim?
P.
José Augusto Alves de Sousa, SJ
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