Uma
reflexão a partir dos textos deste Domingo 27º. Isaías 5,1-7; Filipenses 4,6-9;
Mateus 21, 33-43
A
VINHA ESTÉRIL: É com palavras poéticas, talvez o melhor poema
da Bíblia e da literatura religiosa que o profeta Isaías canta, em nome do seu
amigo (Deus) um cântico à Vinha. A Vinha é o Povo de Israel que Deus escolheu,
entre todos os povos da terra, para ser: Povo-Profeta (falar em nome de Deus); Povo-testemunha da fé num único Deus,
para professar e anunciar essa fé e para ser Povo-filtro, isto é, para que pudesse fazer passar pelo filtro
(filtrar) todas as iniciativas de outros povos e deles pudesse colher o que
havia em todos eles de bom, porque tudo o que há de bom é obra de Deus! E para
realizar esta vocação, ou seja para que a Vinha desse bons frutos, o dono da
Vinha (Deus), lavrou e limpou a Vinha das pedras, escolheu as melhores cepas; mandou
construir uma sebe para a proteger dos animais selvagens, uma torre de vigia
para a proteger de gente de má fé que estraga aos coisas que não lhe pertencem
e até mesmo se apodera delas e, mais ainda, construiu um lagar para que, das
uvas, pudesse fazer o saboroso vinho, o fruto da Vinha que o meu amigo queria
dar a saborear a todos os que viessem de perto e de longe. Mas uma grande
decepção teve este meu amigo que toldou este hino de amor à Vinha. Porque a Vinha,
em vez de sorrir no tempo da vindima, com saborosas uvas, ostentava uvas
amargas e folhas envelhecidas. Afinal, a Vinha tornara-se estéril!.. E, pior
ainda: no interior da Vinha, só há sangue derramado, gritos de horror em vez da
justiça, numa palavra estalou a violência!..
A
VINHA É SALVA: O cenário muda no cântico da Vinha cantado
por Jesus. Certamente que Jesus vem cantar o hino de Isaías, mas ultrapassa-o,
exaurindo dele, uma harmoniosa melodia, o seu sentido último e profundo: Isaías
anuncia a ruína de vinha, mas nada disto na Cântico de Jesus e nele surgem
personagens que não se encontram em Isaías: os vinhateiros. Jesus conta, então, que o proprietário de Vinha se ausentou e confiou a Vinha a uns
vinhateiros. A Vinha de Deus é confiada aos homens, mas mesmo que estes homens
a esterilizem, Deus não abandono seu projecto de salvação que se realizará
contra tudo e contra todos. Também hão-de surgir as violências perpetradas
pelos vinhateiros contra os enviados de Deus, os Profetas. E o escândalo maior
aconteceu, quando o senhor enviou seu próprio filho, pois eles deram-lhe a
morte. E isto, sem nenhuma razão, porque os enviados de Deus, os Profetas não
vêm contra o homem, mas a favor do homem, vêm apenas para exigir que o homem dê
fruto. Os vinhateiros, porém, querem guardar os frutos para eles. Apoderando-se
do fruto, destruíram o fruto. Esta conduta dos vinhateiros se pauta pela
desconfiança como na história da árvore do Génesis 3 ou na atitude do terceiro
servo de Mateus 25,22-28 (não pôs a render o talento!..). Mas, a maravilha é
que a Vinha e frutos serão salvos.
AMOR
EM VEZ DE VIOLÊNCIA: O fruto esperado pelo dono da Vinha, afinal
é o amor em vez de violência, como nos diz toda a Escritura e até mesmo todo o
Capítulo 5 do livro de Isaías. O direito e a Justiça da 1ª leitura e,
finalmente, o amor mútuo eficaz da 2ª leitura (praticai o que deveis praticar e
o Deus da Paz será convosco - Filipenses). Tanto Jesus como o Profeta, como
Paulo, porque denunciaram a violência exigiram o amor, desencadearam sobre eles
a violência. É esta toda a história de Cristo e de seus seguidores. No
versículo 46 deste mesmo capítulo do Evangelho de Mateus, os Príncipes dos
sacerdotes e os fariseus procuram matara Jesus. Fazendo explodir o mal que está
neles, os vinhateiros vão até matar o próprio Filho Jesus Cristo. E, então,
o mestre aluga a Vinha a outros vinhateiros,
porque a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Os novos
vinhateiros são precisamente as vítimas da violência. É sobre eles, os
Apóstolos, que será edificado o reino. Em Jesus, é desvendado o mistério de
Deus e do homem como se diz em 1Pedro 2,3-10.
E
QUANTO A NÓS? A vida é o próprio Deus e quem recusa a vida causa a morte!.. Como os vinhateiros não nos comportemos como os proprietários do
mundo, pois isto conduzir-nos-ia a dominar os outros quer à força, quer com
subtis sujeições económicas. Falamos de “crise religiosa” de “descristianização”
de “abandona da prática religiosa”, que fazer para atenuar esta esterilização
da Vinha e torná-la fecunda? Começamos o ano da catequese, nós, os catequistas
comprometemo-nos, realmente com testemunhar e anunciar o Senhor Jesus como vida
para nós ou limitamo-nos a considerar a nossa catequese tão só e apenas como a
transmissão duma Doutrina ou duma ideia sobre Deus (coisas também necessárias),
mas se falta esse encontro com uma pessoa viva que nos ama, a nossa catequese
não roçará pela esterilidade?
Padre José Augusto Sousa, sj
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