A
HISTÓRIA E A TRADIÇÃO: Em todos os Domingos do Ano litúrgico,
celebramos Cristo vivo no meio de nós que se nos dá na Palavra e no Pão. Ora,
eis que hoje a Liturgia nos convida a celebrar a festa duma das quatro grandes
Basílicas de Roma, a de S. João de Latrão, cuja festa da Sua dedicação a Igreja
celebra. A dedicação duma Igreja é a consagração dum edifício a Deus.
COMPREENSÃO
DOS SÍMBOLOS: Nós, os cristãos, vivemos, fazendo memória
dos acontecimentos do passado, mas o passado conta, quando nos projecta para o
futuro. Esta celebração da Igreja de S. João de Latrão serve para nos lembrar o
tempo em que a Igreja saiu da sombra das catacumbas e veio à luz do dia,
sujeita como estava anos e anos perseguida, durante o Império Romano. Foi no
tempo do Imperador Constantino que isto aconteceu. Ao celebrar a festa duma
Igreja, como hoje a desta Igreja de S. João de Latrão, a Igreja quer
recordar-nos que, através dum edifício, celebramos a própria Igreja, Corpo de
Cristo e Templo do Espírito Santo. Mais concretamente, a Igreja de Deus que a
Basílica de Latrão simboliza e representa é, hoje, no meio do mundo, a morada
de Deus, um testemunho vivo da presença de Deus na caminhada histórica dos
homens.
O
TEMPLO DO RESSUSCITADO: Na passagem do Evangelho de hoje, João 2,13-22, vemos
que Jesus pegou num chicote de cordas e expulsou os vendilhões do Templo.
Muitos de nós desejaríamos que hoje Jesus fizesse o mesmo: limpar todos aqueles
e aquelas que dentro e fora da Igreja se entregam a explorar os mais frágeis, a
servir unicamente os seus interesses e à prática da corrupção. Mas, fixemo-nos
na frase onde passa a mensagem e vejamos o que Jesus nos quer dizer realmente: “Destruí
este Templo em três dias e eu o levantarei”. Bem sabemos que ao dizer estas
palavras, o povo as entenderia mal, porque significavam um voltar-se contra o
Templo e soavam, portanto, a blasfémia diante daqueles que veneravam o Templo
de pedra mais do que o Deus do Templo. Mas Jesus falava do Templo do seu corpo.
Este Templo corporal não desempenhará a fundo a sua função senão no dia em que
será destruído e reconstruído. É o corpo espiritual de Cristo que encherá então
o universo, o corpo misterioso da Ressurreição. A segunda leitura amplifica
ainda esta noção de Templo-Corpo, quando Paulo diz que o Templo de Deus somos
nós. Em cada um de nós habita o Espírito de Deus. Somos morada de deus. E isto
não se restringe apenas aos crentes, mas os crentes têm como missão anunciar
uma presença activa de Deus que concerne a todos os homens.
FAZEI
DA CASA DE MEU PAI UMA CASA DE ORAÇÃO E NÃO FAÇAIS DELA UM MERCADO: Jesus
quer que o nosso corpo, como o corpo da Igreja, sejam reconhecidos como morada
de Deus. Numa cultura marcada pela
frivolidade, é bom recordar que o nosso corpo é Templo do Espírito Santo. O
respeito do nosso corpo brota do facto de sermos baptizados em Cristo e sermos
seu corpo… Num mundo marcado por interesses
diversos, convém recordar que o mundo é criação de Deus e, daí, a ecologia para fazer que este mundo
seja verdadeiramente sinal de Deus Criador, seja cosmos (mundo adornado e embelecido) e não caos. Num mundo marcado
pelo individualismo, é necessário descobrir o valor da comunidade.
PRESENÇA
ESPIRITUAL: O tema da presença espiritual não está ligado
a qualquer parte da terra nem a qualquer construção humana. Uma presença
espiritual está ou poderá estar em cada um de nós e exige que a missão da
Igreja como a missão de cada um de nós como cristãos seja igualmente espiritual.
Que quer dizer espiritual? Quer dizer que a missão nasce de fé. Esta fé é uma
fé concretizada em obras: em termos concretos dar auxílio, em primeiro lugar à
nossa família, aos mais próximos, mas depois alargando os horizontes e ajudando,
onde as pessoas mais precisam: lares de idosos, pessoas abandonadas, pessoas
que não contam na sociedade. Mas não é preciso irmos longe para vivermos esta exigência
da missão. Podemos vivê-la em nossa casa, quando damos a mão a alguém que
necessita da nossa ajuda. Esta missão está também no reconhecimento das falhas
de cada um. Por exemplo, é normal que entre os casais haja diversos pontos de
vista sobre determinados assuntos. Mas cada um em família deve saber reconhecer
as falhas e ter capacidade de pedir perdão. Hoje um padre pode fazer uma
homilia que vá ao encontro das pessoas e amanhã poderá não lhe sair tão bem. Sãos os nossos limites. E esta a condição
humana. A reconciliação com os nossos
limites, pode dispensar-nos de muitos dissabores e desentendimentos. Não será
mal meditarmos no texto de Mateus 25,31-45 (José Frazão).
PERGUNTAS: É
no Templo onde encontramos Deus? Quem reconhecer o Templo, encontra o
verdadeiro Deus? O Templo era tão belo que fazia sonhar com Deus… e Jesus de
Nazaré aparece demasiado pequeno para dar conta de Deus que se imagina muito
grande e todo - poderoso? Somos capazes de fazer a passagem entre o Deus de
nossos sonhos para o homem da Galileia? Estamos persuadidos que é n’Ele que Deus
foi inteiramente exprimido, revelado? Adeus aos templos fabricados pelas mãos dos
homens por mais belos e sumptuosos que sejam cheios de arte a carregados de
ouro? Continuarão eles a sinalizar-nos Deus? Ou são meros lugares turísticos?
Uma certeza: é no homem que Deus se diz uma vez e para sempre...
P.
José Augusto Alves de Sousa S.J.
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