domingo, 9 de novembro de 2014

DEDICAÇÃO DA IGREJA DE S.JOÃO DE LATRÃO - 32º DOMINGO COMUM ANO A


A HISTÓRIA E A TRADIÇÃO: Em todos os Domingos do Ano litúrgico, celebramos Cristo vivo no meio de nós que se nos dá na Palavra e no Pão. Ora, eis que hoje a Liturgia nos convida a celebrar a festa duma das quatro grandes Basílicas de Roma, a de S. João de Latrão, cuja festa da Sua dedicação a Igreja celebra. A dedicação duma Igreja é a consagração dum edifício a Deus.  
COMPREENSÃO DOS SÍMBOLOS: Nós, os cristãos, vivemos, fazendo memória dos acontecimentos do passado, mas o passado conta, quando nos projecta para o futuro. Esta celebração da Igreja de S. João de Latrão serve para nos lembrar o tempo em que a Igreja saiu da sombra das catacumbas e veio à luz do dia, sujeita como estava anos e anos perseguida, durante o Império Romano. Foi no tempo do Imperador Constantino que isto aconteceu. Ao celebrar a festa duma Igreja, como hoje a desta Igreja de S. João de Latrão, a Igreja quer recordar-nos que, através dum edifício, celebramos a própria Igreja, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo. Mais concretamente, a Igreja de Deus que a Basílica de Latrão simboliza e representa é, hoje, no meio do mundo, a morada de Deus, um testemunho vivo da presença de Deus na caminhada histórica dos homens.

O TEMPLO DO RESSUSCITADO: Na passagem do Evangelho de hoje, João 2,13-22, vemos que Jesus pegou num chicote de cordas e expulsou os vendilhões do Templo. Muitos de nós desejaríamos que hoje Jesus fizesse o mesmo: limpar todos aqueles e aquelas que dentro e fora da Igreja se entregam a explorar os mais frágeis, a servir unicamente os seus interesses e à prática da corrupção. Mas, fixemo-nos na frase onde passa a mensagem e vejamos o que Jesus nos quer dizer realmente: “Destruí este Templo em três dias e eu o levantarei”. Bem sabemos que ao dizer estas palavras, o povo as entenderia mal, porque significavam um voltar-se contra o Templo e soavam, portanto, a blasfémia diante daqueles que veneravam o Templo de pedra mais do que o Deus do Templo. Mas Jesus falava do Templo do seu corpo. Este Templo corporal não desempenhará a fundo a sua função senão no dia em que será destruído e reconstruído. É o corpo espiritual de Cristo que encherá então o universo, o corpo misterioso da Ressurreição. A segunda leitura amplifica ainda esta noção de Templo-Corpo, quando Paulo diz que o Templo de Deus somos nós. Em cada um de nós habita o Espírito de Deus. Somos morada de deus. E isto não se restringe apenas aos crentes, mas os crentes têm como missão anunciar uma presença activa de Deus que concerne a todos os homens. 


FAZEI DA CASA DE MEU PAI UMA CASA DE ORAÇÃO E NÃO FAÇAIS DELA UM MERCADO: Jesus quer que o nosso corpo, como o corpo da Igreja, sejam reconhecidos como morada de Deus. Numa cultura marcada pela frivolidade, é bom recordar que o nosso corpo é Templo do Espírito Santo. O respeito do nosso corpo brota do facto de sermos baptizados em Cristo e sermos seu corpo… Num mundo marcado por interesses diversos, convém recordar que o mundo é criação de Deus e, daí, a ecologia para fazer que este mundo seja verdadeiramente sinal de Deus Criador, seja cosmos (mundo adornado e embelecido) e não caos. Num mundo marcado pelo individualismo, é necessário descobrir o valor da comunidade.
PRESENÇA ESPIRITUAL: O tema da presença espiritual não está ligado a qualquer parte da terra nem a qualquer construção humana. Uma presença espiritual está ou poderá estar em cada um de nós e exige que a missão da Igreja como a missão de cada um de nós como cristãos seja igualmente espiritual. Que quer dizer espiritual? Quer dizer que a missão nasce de fé. Esta fé é uma fé concretizada em obras: em termos concretos dar auxílio, em primeiro lugar à nossa família, aos mais próximos, mas depois alargando os horizontes e ajudando, onde as pessoas mais precisam: lares de idosos, pessoas abandonadas, pessoas que não contam na sociedade. Mas não é preciso irmos longe para vivermos esta exigência da missão. Podemos vivê-la em nossa casa, quando damos a mão a alguém que necessita da nossa ajuda. Esta missão está também no reconhecimento das falhas de cada um. Por exemplo, é normal que entre os casais haja diversos pontos de vista sobre determinados assuntos. Mas cada um em família deve saber reconhecer as falhas e ter capacidade de pedir perdão. Hoje um padre pode fazer uma homilia que vá ao encontro das pessoas e amanhã poderá não lhe sair tão bem. Sãos os nossos limites. E esta a condição humana. A reconciliação com os nossos limites, pode dispensar-nos de muitos dissabores e desentendimentos. Não será mal meditarmos no texto de Mateus 25,31-45 (José Frazão).
PERGUNTAS: É no Templo onde encontramos Deus? Quem reconhecer o Templo, encontra o verdadeiro Deus? O Templo era tão belo que fazia sonhar com Deus… e Jesus de Nazaré aparece demasiado pequeno para dar conta de Deus que se imagina muito grande e todo - poderoso? Somos capazes de fazer a passagem entre o Deus de nossos sonhos para o homem da Galileia? Estamos persuadidos que é n’Ele que Deus foi inteiramente exprimido, revelado? Adeus aos templos fabricados pelas mãos dos homens por mais belos e sumptuosos que sejam cheios de arte a carregados de ouro? Continuarão eles a sinalizar-nos Deus? Ou são meros lugares turísticos? Uma certeza: é no homem que Deus se diz uma vez e para sempre...
P. José Augusto Alves de Sousa S.J.


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