domingo, 30 de abril de 2017

O caminho de Emaús como quadro inspirador…


Jesus ressuscitado faz-se companheiro de caminho, simplesmente pela insinuação da sua presença. Com uma atenção extraordinária aos sinais corpóreos da desilusão interior, sabe colocar a pergunta certa, aquela que dá a palavra aos dois discípulos desiludidos e tristes e se faz verdadeira disposição a escutar. Ainda que seja para ouvir o que já sabe, dispõe-se a acolher o seu ponto de vista sobre os acontecimentos. A pergunta de Jesus dá a deixa, faz-se convite a revisitar e a repercorrer as estradas e os lugares do que os havia encantado e agora desilude. Entrando pela porta do sonho desfeito, Jesus rompe os lugares comuns da sua inteligência do divino para fazer entrever um outro rosto de Deus. No limite do que se lhes afigurava impossível, faz brotar sementes de possibilidade. Depois, narrados e iluminados os lugares revisitados, faz-se convidar. E à mesa, num gesto eucarístico, desperta os sentidos, toca a alma, cura o corpo, regenera toda a experiência. O anonimato dá lugar à comunhão. O seguimento e a missão vencem o abandono e o ressentimento. Finalmente, quando reconhecido, Jesus desaparece da sua vista. Aquele que, como corpo, se dá a comer é o mesmo que diz «não me tocar». A presença recusa fazer-se morada que aprisione, coisa que se possua. Agora, é nos lugares concretos da humanidade - em todos - que se viverá o contato vivificante com o Mestre.

Quanto poderemos aprender com esta forma de entrar na vida dos nossos contemporâneos e de comungar os movimentos das suas existências para, desse modo, criar um espaço de possibilidade para um encontro biográfico com o Senhor Jesus: tocar sem aprisionar; dar-se sabendo retirar-se; dizer sem ofender o mistério e cobrir o silêncio que envolve nós e eles; fazer-se alimento sem criar dependências; brilhar como luz que se extingue. E quanto poderemos recolher deste modo de proceder de Jesus ressuscitado que abre os olhos dos seus discípulos ao reconhecimento da sua presença exatamente no momento em deixam de o ver. A ausência acena a uma outra forma de presença: é preciso que o Senhor vá para que desça o seu Espírito. Não é esse o tipo de relação que vivemos em cada eucaristia, comungando daquele pão que não parece pão que é corpo que não se vê?

É, pois, este encontro a etapas sucessivas e enquanto se caminha que, pela palavra e pelo gesto, vai do isolamento à eucaristia, do anonimato ao reconhecimento, da perturbação paralisante à consolação operativa, que proponho como ambiente inspirador para esta minha reflexão, quase como um prelúdio musical ou uma sugestão pictórica.

Padre José Frazão, sj

sábado, 29 de abril de 2017

No último entardecer...


Nas paredes de uma igreja de Emaús, à guarda dos Padres Franciscanos da Custódia da Terra Santa, que recorda os acontecimentos narrados no sublime episódio de Lc 24, pode ler-se em várias línguas um belo e significativo poema:

Todos os dias
Te encontramos
no caminho
Mas muitos reconhecer-Te-ão
apenas
quando
repartires connosco
o Teu pão.
Quem sabe?
Talvez
no último entardecer.

D. António Couto, Bispo de Lamego

Extrato da mensagem publicada no blogue “Mesa de palavras”: https://mesadepalavras.wordpress.com/…/fica-connosco-senho…/

sábado, 22 de abril de 2017

A Revolução Pascal

se Deus ReSuscitou Jesus, então...
... temos uma Boa Notícia para Anunciar e Celebrar!




"Se tudo isto é verdade, então, não pode ficar tudo igual! Nem eu posso ficar igual!!! Se isto tudo é mesmo verdade, isto vale-nos a vida! Temos até um motivo para a dar se for preciso, porque aquilo que vale para viver, também vale para morrer. Quem mais ama a vida é quem menos teme a morte!

A Missão acontece como difusão, irradiação. Anunciar o Evangelho é uma acção de contágio. Os discípulos não se tornaram uns “místicos” da ressurreição mas TESTEMUNHAS da ressurreição: não é um “quentinho na alma”, é uma Notícia, um jackpot! É uma explosão dos sentidos e um sobressalto de alegria que atravessa toda a Criação, uma irradiação a todas as nações. Foi isto mesmo que aconteceu a partir daquela dúzia e tal de homens e mulheres que viram as suas vidas viradas do avesso naqueles dias da revolução pascal…

Os discípulos não voltaram para as suas terras diferentes, depois de terem feito a experiência pascal: começaram uma aventura nova, agora é que começou tudo mesmo de novo, porque o Espírito de Deus que tinha actuado em Jesus começou a actuar neles com poder e novidade. Os discípulos não ficaram simplesmente diferentes, mas começaram a fazer tudo diferente: assumiram a ousadia de anunciar a acção justificadora e reparadora de Deus em Jesus, depois do que os chefes lhe tinham feito. E anunciavam estas coisas nas barbas dos chefes mesmo! Libertos do medo e curados da culpa… porque o perdão é um grande dom pascal. Quando testemunham a experiência de reencontro com o Senhor ReSuscitado, nunca nos contam que ele os tenha feito sentir cobranças ou ralhetes pela infidelidade daquelas horas da prisão , tortura e execução… Em vez disso, vinha “em missão de paz”: “A paz esteja convosco”, era a saudação lembrada.

Anunciavam com desassombro e argumentavam com lucidez e uma criatividade espantosa: e, depois, não tinham mais provas para tudo o que anunciavam do que dar a vida por isso.

Este anúncio era mastigado e saboreado em pequenas comunidades. E estes verbos não são neutros. É que a MESA tornou-se o grande Sinal e ponto-de-encontro destes primeiros, que se juntavam à volta da Memória da Última Ceia que tinham comido com ele. A Ceia do Senhor era o sinal de um Mundo Novo reunido à volta do Dom de Deus, reconciliado e em paz. À Mesa Celebravam Jesus, não como lembrança mas como Vivente. Celebravam-no Presente! Anunciavam e celebravam que Jesus é SENHOR, e os outros não.

A Vinda do Senhor é a Esperança de que todas as coisas estão em Páscoa para Deus, em passagem para a Vida sem confins. E Jesus é o nosso Passador, Cristo “Nossa Páscoa”, como lhe chamou o Apóstolo Paulo. Se Deus ReSuscitou Jesus, então temos uma Notícia a correr-nos nas veias que é maior que tudo, uma Fé que leva à Esperança e se concretiza no Amor. Até que Deus, que já é tudo em Cristo, seja tudo em todos!"

Pe. Rui Santiago Cssr

domingo, 16 de abril de 2017

Ressuscitou o Senhor Jesus



CRISTO RESSUSCITOU.
ALELUIA!

JESUS Está Vivo! É com este anúncio, que começa a Páscoa do Senhor.
É assim com esta notícia que estas mulheres ouviram na manhã de Páscoa, que começa a Igreja, que começa a nossa fé.
A nossa fé em Jesus começa neste Rumor: AQUELE QUE VIMOS MORTO ESTÁ VIVO!
Aquele que há uns dias vimos suspenso na cruz e pusemos no túmulo… ESTÁ VIVO!

A Comunidade dos Padres Jesuítas deseja a todos uma Santa e Feliz Páscoa!


sábado, 15 de abril de 2017

SÁBADO SANTO

 Arte Sierge Koder 
"Quatro linhas sobre a cruz
A primeira linha abre o silêncio como os braços de Cristo na Cruz
A segunda linha abraça-te até que a voz que te
fala respire no interior da tua escuta
A terceira linha é a sombra do cajado que conduz,
o fio de água para que nunca esqueças a única Fonte
A quarta linha é o próprio rastro Daquele que se apaga
entre os quatro pontos cardeais da luz."
Daniel Faria


"ESTE DIA É ÚNICO NO ANO. As igrejas silenciosas e “despidas” convidam à reflexão e oração. Por outro lado, preocupadas com o aspeto exterior das festas pascais, muitas pessoas vivem-no com uma agitação enorme. De que lado me coloco? Sabendo que Jesus morreu por Amor, fico na expectativa. E espero com ansiedade celebrar a sua Ressurreição."
(Uma proposta do Apostolado da Oração- Rede Mundial de Oração do Papa)


Sábado Santo


«O sábado santo não é apenas um dia imenso: é um dia que nos imensa. Aparentemente, representa uma espécie de intervalo entre as palavras finais de Jesus, pronunciadas na sexta-feira santa, “tudo está consumado”, e a insurreição da vida que, na manhã da Páscoa, ele mesmo protagoniza. […] O silêncio do sábado santo é o nosso silêncio que Jesus abraça. O silêncio dos impasses, das travessias, dos sofrimentos, das íntimas transformações. Jesus abraça o silêncio desta sôfrega indefinição que somos entre já e ainda não.»

Pe. José Tolentino Mendonça

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Sexta-feira da Paixão


Era uma vez o Amor...

«Salvou os outros e não conseguiu salvar-Se a Si mesmo», comentava-se junto Daquele crucificado, sem perceber nada da sua história.


Exatamente porque Ele se dispõe a amar-nos, Ele não pode salvar-se a si mesmo. Porque o que é próprio do amor é esse deixar de pensar em si. É esse abandono, é essa pobreza radical, é essa entrega, em que o outro, o outro, é colocado no centro. Nós estamos no centro do gesto de Jesus. Da sua história de amor, da sua entrega.

Na verdade, a história mais simples do mundo, mas por vezes complicamos tanto a simplicidade do mundo! Comprometemos a transparência da vida com o nosso excesso de razões! No entanto, aquela história, a de Jesus, conta-se assim: «Era uma vez o Amor...».

O amor, essa entrega de nós para lá do cálculo e da retenção, a ponto de não conseguirmos viver para nós próprios.  

O amor, essa descoberta de que ou nos salvamos com os outros (porque aceitamos o risco de viver para os outros) ou gastamos inutilmente o nosso tesouro.

O que se comentava junto da cruz, naquele dia, não era um insulto, mas o maior dos elogios feitos a Jesus. Compreender isso é, de alguma maneira, acolher o sentido verdadeiro da Páscoa.»


Pe. José Tolentino Mendonça
(excertos de textos e homilias)



quinta-feira, 13 de abril de 2017

5ª feira Santa - Lava pés

Lava Pés Giotto

«Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.» [Jo 13, 1-15]

Tríduo Pascal


domingo, 9 de abril de 2017

DOMINGO DE RAMOS

A ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM



Na entrada jubilosa de Jesus em Jerusalém, eu, como tantos outros, misturado na multidão dos simples peregrinos que, tendo ouvido falar da ressurreição de Lázaro e da chegada de Jesus, vou ao Seu encontro e acompanho-O, contemplando-O.
O Senhor entra na sua cidade de Jerusalém, vem montado num jumentinho, de acordo com a profecia. Um animal que nada tem a ver com uma montada real e o jumentinho nem sequer lhe pertence, porque o deve restituir Estendem-se as capas e ramos de árvores no caminho, a multidão canta «Hossana» saudando e gritando: «Bendito o que vem em nome do senhor!». 
Medito, meditemos para tirarmos proveito!.. 

Misturo-me também eu com esta multidão de pessoas que estendem os seus vestidos e ornamentam com palmas o percurso do Rei de Israel que eles aclamam, com grande escândalo de todos os fariseus, os de então e os de hoje. Aclamo-O, a Ele que vem tomar posse dum Reino que não é deste mundo, mas que está nele incorporado.

Mateus diz-nos que Jesus procede assim para cumprir a Escritura, Isaías anuncia que o rei entra em Jerusalém, não para governar, mas para servir. Contudo, neste triunfo, a multidão que o aclama está ofuscada, longe de compreender a significação plena. Não se trata de aclamar um rei que subjuga a vida e a amarra para servir o poder, mas um rei que dá a vida e não sacrifica vidas como fazem os reis deste mundo. 

Caminho e bato palmas com o entusiasmo dos discípulos, sem saber que não se trata de um triunfo através do poder, do ter e do aparecer (a tentação do Deserto) mas sim de um triunfo do serviço a Deus e aos homens?

À frente do cortejo gritam as crianças, atrás e um pouco à distância, aqueles que não comungam ainda a minha fé, os piedosos pagãos, os tímidos, mas que se aproximam de Jesus e Jesus vê neles as primícias da próxima glorificação. A Sua morte, como o grão lançado à terra, produzirá o seu fruto, dirá Jesus aos que o quiseram ver: “Quando for levantado da terra atrairei a Mim todos os homens” sem excluir ninguém, nem a um desses mais pequeninos. 

A própria natureza geme com a aproximação da sua “Hora”, e a alegria das flores de Páscoa e já são sinal da terra fecunda. A “Hora” de Jesus diz-nos que não estaremos nunca sós. Na Cruz, resplandece a fé a esperança e a caridade. A , porque Jesus, apesar do Seu abandono, aparente, se confia ao Pai: “Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito”. A esperança, porque uma vida nova se espera além da morte. O amor (a caridade), porque não há maior amor do que dar a vida. 

Quando sepultaram Jesus, salta à vista que Jesus é depositado num sepulcro novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Mostra-se assim que Jesus é de facto o Rei Messiânico esperado: o Rei é o primeiro em tudo. E continuamos ver o olhar atento das mulheres e os perfumes que preparam e que abrem o nosso olhar para a Ressurreição, onde culmina a Hora de Jesus. 

E assim se abrem para todos nós as portas da vida. 

A nossa vida cristã é também uma entrada na Nova Jerusalém, uma introdução no universo chamado a tornar-se uma aprazível Cidade de Deus, um Novo Céu e uma Nova Terra. 
Os hossanas da multidão que aclama sejam também os meus hossanas, nos dias bons e nos menos bons! Na Cruz resplandece o amor. É o que faz Cristo, dando a vida àqueles que Lha queriam tirar. 
Todos somos convidados a percorrer e a reviver as últimas decisivas vinte e quatro horas de Jesus. 

P. José Augusto Alves de Sousa, sj 






Quero gritar-Te Senhor, a minha alegria.
Tu conheces os meus desejos mais sinceros e profundos.
E quiseste entrar na minha cidade.
Vieste à minha vida e trouxeste o dom de Deus.
Para Ti, o meu aplauso, o meu louvor, a minha adoração

quinta-feira, 6 de abril de 2017

QUARESMA 2017 - DOMINGO DE RAMOS


Para irmos rezando e saboreando, enquanto o Domingo de Ramos não chega...e, assim, podermos preparar-nos para um encontro mais íntimo e fecundo com a Palavra do Senhor...

Quem abraça a cruz, tem a força da ressurreição



Celebramos esta semana a Paixão de Jesus!

A narração da morte de Jesus na cruz, que é proclamada no Domingo de Ramos, é a leitura mais bela e real de todo o ano. 

A cruz é o abismo onde Deus ama. Um Deus que me lavou os pés, e não lhe chegou; que deu o seu corpo a comer, e não lhe foi suficiente. Olho para ele, nu e desonrado, e tenho de desviar o olhar. Depois volto novamente a cabeça e olho para a cruz, e vejo braços que me gritam: amo-te; ou talvez me sussurre: amo-te.

P. Ermes Ronchi (excertos de textos)

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Quaresma V Domingo


A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO


«O Evangelho deste domingo de Quaresma narra a ressurreição de Lázaro. É o ápice dos “sinais” feitos por Jesus: é um gesto muito grande, claramente divino para ser tolerado pelos sumos-sacerdotes, os quais, sabendo do fato, tomaram a decisão de matar Jesus.
Lázaro já estava morto há três dias, quando chega Jesus; e às irmãs Marta e Maria Ele disse palavras que ficaram gravadas para sempre na memória da comunidade cristã: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (Jo 11, 25). Diante do túmulo lacrado do amigo Lázaro, Jesus “exclamou em voz forte: Lázaro, vem para fora”. O morto saiu, atado de mãos e pés com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano. Este grito peremptório é dirigido a cada homem, porque todos estamos marcados pela morte, todos nós; é a voz Daquele que é o Senhor da vida e quer que todos “a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Cristo não se conforma com os túmulos que construímos para nós com as nossas escolhas do mal e da morte, com os nossos erros, com os nossos pecados. Ele convida-nos, quase nos ordena, a sair do túmulo em que os nossos pecados nos afundaram. Chama-nos com insistência para sairmos da escuridão da prisão em que nos fechamos. “Vem para fora!”, diz-nos, “Vem para fora!”. 
É um belo convite à verdadeira liberdade, a deixar-nos agarrar por estas palavras de Jesus que hoje repete a cada um de nós. Um convite a deixar-nos livrar das “ataduras”, do orgulho. Porque o orgulho faz-nos escravos, escravos de nós mesmos, escravos de tantos ídolos, de tantas coisas. A nossa ressurreição começa aqui: quando decidimos obedecer a esta ordem de Jesus saindo para a luz, para a vida; quando da nossa face caem as máscaras e nós reencontramos a coragem da nossa face original, criada à imagem e semelhança de Deus.
O gesto de Jesus que ressuscita Lázaro mostra até onde pode chegar a força da Graça de Deus e também até onde pode chegar a nossa conversão, a nossa mudança. Mas ouçam bem: não há limite algum para a misericórdia divina oferecida a todos! Lembrem-se bem desta frase. E possamos dizê-la todos juntos: “Não há limite algum para a misericórdia de Deus oferecida a todos”. O Senhor está sempre pronto para levantar a pedra do túmulo que nos separa Dele, a luz dos vivos.»

Papa Francisco - Praça São Pedro – Vaticano
ANGELUS em V domingo da quaresma