Imagem - schongauer_nativity: http://www.passo-a-rezar.net - dia de Natal
No espaço duma dezena
de horas, a liturgia propõe-nos a celebração
de quatro missas do Natal: a Missa
da Vigília, na tarde do dia 24 em que é narrada a genealogia de Jesus, a Missa da Noite, que agora
celebramos e que nos conta o seu nascimento, a Missa da Aurora que anuncia a vinda de Jesus aos
pobres e simples de coração, representados pelos pastores e a Missa do Dia que revela a Divindade de Jesus.
Quarenta e dois anos depois do reinado do Imperador César Augusto, nasceu em
Belém de Judá, Jesus Cristo,
Filho de Deus que o Pai
enviou ao mundo para nossa salvação. Aquele que foi, junto do Pai e do Espírito
Santo, que é e que será para sempre, entra na nossa natureza humana preparado
para assumir a fragilidade e a morte. Admirável amor de Deus para connosco!
Celebramos a Missa da
Meia-Noite As leituras desta Missa que, popularmente, chamamos a Missa do Galo,
abrem com estas palavras do profeta Isaías: “o Povo que andava nas trevas viu
uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou
a brilhar.” Para nos fazer compreender a luz resplandecente desta noite, Isaías, um pouco antes do surgimento desta
Luz, no capítulo 8, 21-23, descreve-nos uma situação dramática: debaixo dum céu
de chumbo e ameaçador, um
caminhante avança, desorientado e vagarosamente pelas agruras dum deserto árido e
imenso. Esse caminhante,
perdido no tempo e no espaço, representa, para Isaías, a imagem do povo de Israel, humilhado, sob o jugo da Assíria. Ele
deambula, qual sonâmbulo, pela sua terra deserta, pois os Assírios a
transformaram numa terra
envolvida nas trevas e nas sombras da morte. Essa imagem do povo de Israel é, hoje, a imagem do nosso mundo, onde apesar do fascínio e do
deslumbramento do luxo e da riqueza, quantos homens e mulheres avançam
cabisbaixos e pesadamente sob as incertezas da vida e na obscuridade da noite.
Porém, o mesmo Profeta Isaías não nos abandona a esta situação
dramática, mas logo a seguir, no
Capítulo 9, 2-7 – a 1ª
leitura da Missa deste noite -, vemos o cintilar duma Luz maravilhosa que tudo transforma: o céu e a terra,
o rosto desse caminhante anónimo perdido no tempo e o rosto de cada um de nós.
É o esplendor, a glória e o brilho que cintilam na noite. O céu carregado de
obscuridade e a terra pisada pela força das armas e da violência são os pólos
deste universo no qual nos encontramos e no qual, essa Luz brilhou e continua a brilhar para nós.
O fulgor dessa grande Luz ilumina em todas as direcções: ao Norte (terra da Zabulón e Nefatli,
território dos gentios, ou seja, a Galileia), ao
Sul, o caminho do mar e ao
Oriente, do outro lado do
Jordão.
O fulgor dessa grande
Luz brilha, também hoje, no nosso mundo, do
Oriente ao Ocidente, do Norte a Sul, porque “um Menino nasceu, para nós, um
filho nos foi dado.” Tem o
poder sobre o mundo e o poder de salvar o que estava perdido. Será chamado
“Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz…É esta a
mensagem do Natal que celebramos.
Neste Natal, celebramos:
O Deus – Menino, o
Deus que aprende a falar e andar
Ficaríamos certamente
menos surpreendidos, se, no seu Natal, Deus tivesse tomado o corpo de algum
homem adulto, poderoso, dum senhor de prestígio…Mas não foi assim. Ele tomou a
forma de Menino. Ele é o Deus que aprende
a falar, apesar de ser
o Verbo, Palavra do Pai. É Aquele que deve aprender
a andar, mesmo que o Salmo 19, 1-7 diga que “Ele vai dum extremo ao outro do
mundo”.
Neste Natal, se
celebrássemos o Pai – Natal, que não é o nosso caso, estaríamos longe daquilo
que é o essencial, aquilo que conta, a celebração do Deus - Menino, o Deus –
Criança - figura da humanidade
dependente, que é necessário
alimentar, vestir, assistir em tudo…O Filho de Deus vem até nós como toda a
gente. E até mesmo como o último dos últimos, pois não há lugar para Ele entre
os humanos e também entra a humanidade recenseada pelo Imperador Augusto. Jesus
nasce entre animais num estábulo, fora da cidade. “ Veio junto dos seus e os
seus não receberam. Junto dos seus! Junto dos judeus, junto de nós, junto de
mim… Mas o Menino acolhe sempre com o seu sorriso de graça. Cantarei eternamente as
misericórdias do Senhor!
Neste Natal, celebramos:
O Deus - Menino, o Deus que nos desconcerta
Em Deus - Menino, em
Deus – Criança, em Deus – Bebé, ousamos dizer, aprendemos que Deus perde,
por nós, todo o seu poder. N’Ele, recebemos a possibilidade de
nos tornarmos “como Deus”, porque Deus se torna “como homem”. Vontade de
semelhança e de unidade! Ele se desarma totalmente e se submete às escolhas da
nossa liberdade. Ele faz-nos existir, dando-nos todo o poder sobre o mundo,
sobre nós mesmos, sobre Ele mesmo: “Maria envolveu o seu Menino em paninhos e o
colocou na manjedoura”. É por isso que, nos evangelhos, Jesus multiplica estas
palavras: “ se tu queres”…;
“aquele que quiser”… Ninguém
é forçado a entrar na vontade de Deus. Sabemos apenas que uma criança obedece.
Jesus obedeceu até à morte e morte de cruz. No berço, somos convidadas a ser
criança, a esta entrega, obediente à vontade de Deus, por amor. Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus
Cristo, Senhor!
Neste Natal, celebramos:
O Deus – Menino, o
Presente Principal
O nascimento de Jesus
foi um nascimento como os demais nascimentos. Não aconteceram milagres. Para
não olharmos de perto o prodígio
desconcertante do Verbo de Deus feito criança, nós enchemos o Natal de costumes que
podem desviar a nossa atenção do essencial. Pela nossa casa dentro, pelas ruas
da nossa cidade entra em cena o Pai - Natal, á árvore de Natal, o bom bacalhau,
os presentes, os confeitos, o réveillon, as luzinhas…. Tudo isto é muito bom,
porque nos recordar o Natal do Menino Jesus. Mas tudo isto só tem valor se nos
ajudar a celebrar o essencial e se os nossos presentes não abafam ou colocam em
último lugar o Presente
Principal. E qual é o
Presente Principal? “um Menino
nasceu para nós, um filho nos foi dado” (Isaías); “nasceu-vos hoje na cidade de David
um Salvador que ó Cristo Senhor” (Lucas).
Ele é a vinda entre nós da “imagem
de Deus - Invisível, primogénito de toda a criação”; Ele é a “ graça de Deus, fonte de
salvação para todos os homens” (Carta
a Tito); Ele realiza as núpcias definitivas de Deus com a humanidade: “o Teu autor te desposará”,
diz a Escritura. Com Cristo e em Cristo, somos, com Deus, uma só carne. Em
Cristo, somos um só corpo. Com efeito, o corpo da criança do presépio carrega
já a humanidade inteira (Santo Agostinho). Por isso, Lucas descreve o
nascimento desta criança no contexto dum recenseamento de toda a humanidade;
Cristo cidadão do mundo. Mateus faz vir ao presépio os habitantes de longe
representados pelos Magos.Todos os confins da terra viram a salvação do
nosso Deus!
Louvamos o Deus
Menino,
quando não
considerarmos qualquer pessoa como excluída ou marginalizada: “não havia, para Eles, lugar
na hospedaria”;
quando formos capazes
de O adorar com um coração de pobre como os pastores;
quando formos capazes
de escapar ao ruído e bulício em que se converteu Natal para voltar a
encontrar, no Presépio, o cumprimento das Promessas de Deus.
Oxalá que Maria, a Mãe do silêncio que guardava todas as coisas no
coração, nos comova e nos desperte nesta noite. E que José, o homem justo, nos ensine também a
virtude da fé de que ele foi exímio.
Oxalá que as nossas
famílias saibam acolher no seu seio a Jesus que nunca falta com a sua Paz e
alegria.
Apesar de estarmos
num mundo meio adormecido, sintamos em nossos corações, uma ternura diáfana e
profunda que nos leve a exultar de alegria. Que esta alegria não se confunda
com as estridências desta noite mas que saibamos cantar com todo o coração, o
cântico dos anjos: “glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e
mulheres de boa vontade…”, esse hino que, cada vez mais, se torna menos
perceptível no coração do nosso mundo, um mundo anestesiado, mas sedento de
amor.
BOAS FESTAS
P. José Augusto Alves
de Sousa, sj
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