REFLEXÃO SOBRE AS LEITURAS DO 3º DOMINGO DO
ADVENTO ISAÍAS 61,1-2.10-11; LUC.1,46-54;1 TESSALONICENSES 5,16-24; JOÃO
1,6-8.19-28
A ALEGRIA FRUTO DUMA PROMESSA: FÉ SEM “VER”. Hoje, todas as leituras deste Domingo, e o Cântico
de Maria (Magnificat) nos convidam à alegria,
ao júbilo e à esperança. Paulo diz: “vivei sempre contentes. Orai sem cessar.
Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é, a vosso respeito, a
vontade de Deus em Jesus Cristo (1 Tes.5,16-18). O profeta Isaías também nos anuncia um tempo novo, de vida plena e
de felicidade sem fim. João Baptista no
Evangelho leva os interlocutores a conhecerem Jesus a quem o Pai enviou e
nisto consiste a alegria de João e a nossa alegria pela vinda do esposo que vem
realizar as núpcias com a sua esposa, a humanidade. É, por isso que este
3ºDomingo do Advento se chama, na Liturgia, o Domingo Gaudete, um Domingo de júbilo, de alegria. Alegria,
evidentemente, porque se aproxima o Natal, o dia do Nascimento do Verbo de
Deus. Este nascimento de Jesus traz-nos à memória, o dia do nosso nascimento
para a graça, o dia do nosso Baptismo. Nasce Jesus Cristo, segundo a carne,
como nos relata a Escritura e renascemos
nós, segundo o Espírito Santo, para sermos filhos de Deus, filhos no Filho,
isto é, filhos por graça de Deus, no Filho de Deus por natureza. E que motivo maior
do que este para darmos acção de graças e para
termos alegria e grande júbilo?! A alegria não vem mencionada no Evangelho
que hoje proclamamos, mas ela não está longe do mesmo Evangelho de João, porque,
em 3, 29, o Baptista declara que a sua alegria é perfeita pela vinda de Cristo
ao mundo, o esposo a quem pertence a
esposa, a humanidade. Uma alegria
que é a certeza da vinda de Deus ao nosso mundo, alguém que ainda não chegou.
Isaías não vê a libertação de seu povo senão de longe. Maria não é ainda Mãe,
mas alegra-se, juntamente com a sua prima Isabel. A esperança faz habitar,
desde já, em nós, a alegria que esperamos: a
gravidez é gozosa por causa dum nascimento futuro e Maria, grávida de
Jesus, sente o Menino estremecer de
alegria no seu seio. Tudo o que ela vive está ainda em gestão, mas com o
selo da promessa de Deus que é fiel.
“Darás á luz um Filho”.Jesus vem visitar-nos e a perspectiva da sua vinda nos
torna já felizes: já e ainda não,
dirá S. Paulo, no seu fervor de amor a Cristo, a Jesus Cristo, meu Senhor como o Apóstolo gosta de expressar-se!
Isaías, a própria Maria, Isabel, Paulo e nós, alegramo-nos com a sua vinda. Mas
nada pode justificar esta alegria senão a fé
ouvida e entendida pelo coração, uma palavra que é uma promessa. Fé sem”ver”. Nós viveremos desta fé sem ver até ao último dia da nossa
vida. E é necessário que assimilemos isto, neste Natal. A proximidade de Deus
feito Menino, num bercito de criança, a sua passagem pela Palestina, a Morte,
Ressurreição e Ascensão aos Céus, as experiências místicas do nosso encontro
com Ele na oração, são o alimento dessa nossa fé sem ver. Caminhamos, como se víssemos o invisível à imagem e
semelhança dos crentes que no refere a Carta aos Hebreus no Capítulo 11: Pele
fé, Abraão foi em demanda duma Terra, a Terra Prometida…Pela fé, Moisés tirou o
Povo do Egipto e confiou que havia de passar com ele o Mar Vermelho, a pé
enxuto, pelo poder de Deus…
TRÊS VEZES “NÃO” ,
A HISTÓRIA DUMA VOZ E O “SIM” DE JOÃO:
Um Profeta foi enviado por Deus chamado João. Ele veio para dar testemunho da luz
para que, por meio dele, todos vissem a luz, ma a seguir, João faz uma precisão
importante: ele não é a Luz, mas veio
para dar testemunha da Luz. É impressionante a humildade e verdade de João
pela resposta taxativa dada aos enviados dos sacerdotes e levitas que vêm de
Jerusalém para lhe perguntarem se ele é Elias, o Profeta de fogo esperado como
defensor da Majestade de Deus, se Ele é o Messias esperado. A isto, responde
João, com toda a humildade e verdade:
NÃO. Eu não sou a Luz, eu não sou Elias, Eu não sou o Messias esperado. Mas
como ninguém pode viver apenas por negações, João também se define por um SIM. Eu sou uma VOZ que clama no deserto. Jesus, desde toda a eternidade, é uma presença escondida, interior a toda a
humanidade, mas todas as palavras do passado (Elias, Isaías…) anunciavam e preparavam
João e João anunciava e preparava Jesus:
o próprio Jesus, no discurso da Ceia anunciava e preparava a vinda do Espírito Santo e a sua própria vinda como Cristo na glória.
A Palavra circula, desde os começos da criação e não encontra descanso. Passa,
mas em cada passagem, ela se enriquece com o que nós lhe retribuímos. Esta Palavra
vem das origens. No princípio era o Verbo. E o Verbo era Deus e o Verbo se fez
carne e habitou entre nós. Quando João diz que é uma voz esta voz de João não é
a sua voz, mas uma voz que vem desde o começos, a voz criadora e salvadora e a
alegria de João é, através da sua voz, ouvir a voz do esposo (Jo.3,29) que vem
celebrar as núpcias com a humanidade. Todo o nosso ministério na Igreja, todas
as nossas palavras, toda a nossa catequese, todas as nossas homilias, são para
que todos crêem na Palavra que nos pode salvar, Jesus Cristo. Não é em vão que na missa do dia de Natal se medita
no Prólogo do Evangelho de S. João que nos narra a aventura dessa Palavra, do
Verbo de Deus, até chegar a nós em Jesus Cristo.
ENTRE VÓS ESTÁ ALGUÉM QUE VÓS NÃO CONHECEIS: Sim. Não o reconhecemos à primeira vista, mas está
João e os nossos irmãos na fé para no-lo darem a conhecer. Se temos fé, este
intercâmbio é mútuo. Eu recebo Cristo na minha vida e dou a conhecer isto aos
demais. É a corrente interminável de fé-testemunho. Cristo é sem cessar a
encontrar, a reconhecer e a dar a conhecer e deste conhecimento nasce o amor. Ele veio, Ele vira e voltará
sempre. Certamente que as nossas tristezas e alegrais não passam, mas, com Cristo
na nossa vida, passamos a vivê-las doutra maneira. Também as nossas alegrias
permanecerão as mesmas, mas vividas doutra maneira. PORQUE DEUS ESTÁ CONNOSCO. BOAS FESTAS DESTE NATAL.
P.
José Augusto Alves de Sousa S.J
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