O DOGMA. O dogma da Imaculada Conceição data de 1854 no tempo do Pontificado
de Pio IX. Este dogma não deve ser confundido com a concepção virginal de
Jesus, conceito que remonta às Escrituras. Quando invocamos a Virgem Maria,
como se diz no Concílio Vaticano II, é necessário que nos acautelemos de todo o
exagero e também duma demasiada timidez para podermos dizer verdadeiramente
qual a vocação e missão de Maria. Este dogma é datado de
1854, mas a sua afirmação remonta ao século V. A Imaculada Conceição é a afirmação, segundo a qual, Maria nasceu preservada
do pecado original por obra e graça de Deus. Quanto à sua conceição, nada
tem de extraordinário : Maria nasceu da união normal dum homem e duma
mulher. Pela tradição cristã, conhecemos os nomes de seus pais: S. Joaquim e Santa
Ana.
Esta afirmação, tornada Dogma, em 1854, impôs-se
muito cedo, na Igreja e ela é praticamente afirmada muitos séculos antes. Entre
nós portugueses, desde os primórdios da nossa nacionalidade, se venera a
Imaculada Conceição. Lembremos, por exemplo, a sua devoção no Concelho de Vila
Viçosa e a vinculação à realeza. O Concílio de Éfeso realizado em 431 punha a
seguinte pergunta : pode dizer-se que Jesus é verdadeiramente Filho de
Deus? É este homem ou este Deus que morreu na Cruz? O Concílio, afirmando que
Jesus é Homem e Deus põe de maneira nova a questão de Maria. Esta recebe o
título de Mãe de Deus, a « Theotokos » (portadora de Deus) que é também
uma afirmação cristológica. Por causa da
afirmação de Maria como Mãe de Deus (Theotokos), o Povo de Éfeso, numa das Praças desta cidade, manifestou, na
altura, publicamnte, o seu contentamento. A partir desta data, o culto de Maria
até então bastante restrito, espalhou-se por toda a cristandade. Maria começa a
ser festejada no dia 15 de Agosto, tanto na Igreja do Oriente como na do
Ocidente.
MARIA CONCEBIDA SEM PECADO? É, também, a parir de 431 que se põe
a questão da virgindade e da santidade de Maria. Até esta data, os Padres da
Igreja tinham diversas opiniões sobre o assunto. De um modo geral, diziam que
Maria, como todo o ser humano contraiu o pecado original. Santo Agostinho, por exemplo,
defensor intrépido da doutrina do pecado original contra os chamados
Pelagianos, sustenta que Maria não pode escapar ao pecado original, mas ela tem
sido santificada, muito cedo. Esta interpretação não satisfez ao Oriente
cristão. Mas a partir de Éfeso, põe-se verdadeiramente o problema: Jesus
poderia ser formado por alguém em contacto com o pecado? Em resposta, os
católicos afirmaram, de acordo com os ortodoxos, que Maria desde os começos,
não conheceu o pecado.
No Ocidente, aceitou-se a doutrina
de S. Tomás de Aquino e S. Bernardo que consideram a santidade de Maria como
inicial, mas não original. S. Boaventura propõe a concepção seguinte :
Maria não escapou ao pecado original, mas ela foi preservada pela graça de
Deus.
Este tese é a que foi comumente
aceite e que se tornou dogma na definição dogmatica de 1854. O Concílio de Trento
voltará à doutrina do pecado original, mas não se prenuncia sobre Maria. Os
tempos modernos vão ver florescer o culto a Maria e a festa da Imaculada Conceiçao
se veio a impôr no dia 8 de Dezembro. O dogma foi definido em 1854 e, em 1858,
é Maria que, nas Aparições de Lourdes, diz a Santa Bernardette : Eu sou a Imaculada Conceição. Assim se
confirmva pela mesma boca de Maria, a doutrina sobre a Imaculada Conceição.
A MENSAGEM : Onde se encontra a raiz profunda para podermos proclamar
Maria como Imaculada Conceição? Encontramo-la certamente em cada um de nós. Quem
não deseja, por mais fracos e pecadores que sejamos, uma humanidade perfeita?
Pois, certamente que, em Maria, encontramos o melhor do nosso ser. Que
nostalgia sentimos da beleza que a todos nos seduz. Pois em Maria encontramos a
beleza, a aurora da manhã, sem sombra e sem nuvem. Por isso, revestimos a
Imaculada Conceição de manto azul que, neste Advento, nos aponta a morada de
Deus, o azul celeste.
Maria é o esplendor da beleza, porque
saiu da Beleza Infinita e Incriada. E, da cor branca do seu manto, nascem todas
as cores que irradiam ao Norte, ao Sul, ao Oriente e Ocidente, iluminando todos
os povos. Essa luz irradia doçura, bondade, obediência, sabedoria, acolhimento!
Maria é forte em todos os momentos da sua vida. Ela é a vitoriosa do mal
simbolizado na serpente, descrita na leitura que ouvimos do livro do Génesis.
Esta vitória de Maria, criatura como nós,
diz-nos que, também nós, podemos vencer o mal e trabalhar por um mundo
reconciliado, sem desequilíbrios e discordâncias, sem imperfeição nem corrupção :
« Tu és formosa, ó Maria! Em ti
defeito não há ; criatura assim perfeita; Deus não fez; Deus não fará!..
« Senhora,
de brancura imaculada,
Formosa estrela, rútilo
Oriente ;
Em teu rosto,
fulgor do Sol Nascente
Pois de Deus és
divina madrugada!
O teu olhar, fulgor da madrugada,
De Paz e amor enche meu coração,
E com fervor, Maria Imaculada,
eis-me a cantar a tua Conceição. »
Padre
José Augusto Alves de Sousa, S.J.
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