O Deus – Menino, o Deus que aprende a
falar e andar
Ficaríamos
certamente menos surpreendidos, se, no seu Natal, Deus tivesse tomado o corpo
de algum homem adulto, poderoso, dum senhor de prestígio…Mas não foi assim. Ele
tomou a forma de Menino. Ele é o Deus que aprende
a falar, apesar de ser o Verbo,
Palavra do Pai. É Aquele que deve aprender
a andar, mesmo que o Salmo 19, 1-7 diga que “Ele vai dum extremo ao outro do mundo”.
No Natal,
se celebrássemos o Pai – Natal, que não é o nosso caso, estaríamos longe
daquilo que é o essencial, aquilo que conta, a celebração do Deus - Menino, o
Deus – Criança - figura da humanidade
dependente, que é necessário alimentar, vestir, assistir em tudo…O Filho de
Deus vem até nós como toda a gente. E até mesmo como o último dos últimos, pois
não há lugar para Ele entre os humanos e também entra a humanidade recenseada
pelo Imperador Augusto. Jesus nasce entre animais num estábulo, fora da cidade.
“ Veio junto dos seus e os seus não
receberam”. Junto dos seus! Junto dos judeus, junto de nós, junto de mim…
Mas o Menino acolhe sempre com o seu sorriso de graça. Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor!
O Deus - Menino, o Deus que nos desconcerta
Em
Deus - Menino, em Deus – Criança, em Deus – Bebé, ousamos dizer, aprendemos que
Deus perde, por nós, todo o seu poder.
N’Ele, recebemos a possibilidade de nos tornarmos “como Deus”, porque Deus se
torna “como homem”. Vontade de semelhança e de unidade! Ele se desarma
totalmente e se submete às escolhas da nossa liberdade. Ele faz-nos existir,
dando-nos todo o poder sobre o mundo, sobre nós mesmos, sobre Ele mesmo: “Maria
envolveu o seu Menino em paninhos e o colocou na manjedoura”. É por isso que,
nos evangelhos, Jesus multiplica estas palavras: “ se tu queres”…; “aquele que quiser”… Ninguém é forçado a entrar
na vontade de Deus. Sabemos apenas que uma criança obedece. Jesus obedeceu até
à morte e morte de cruz. No berço, somos convidadas a ser criança, a esta
entrega, obediente à vontade de Deus, por amor. Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor!
O Deus – Menino, o Presente Principal
O
nascimento de Jesus foi um nascimento como os demais nascimentos. Não
aconteceram milagres. Para não olharmos, de perto, o prodígio desconcertante do Verbo de Deus feito criança, nós
enchemos o Natal de costumes que podem desviar a nossa atenção do essencial.
Pela nossa casa dentro, pelas ruas da nossa cidade entra em cena o Pai - Natal,
a árvore de Natal, o bom bacalhau, os presentes, os confeitos, o réveillon, as
luzinhas…. Tudo isto é muito bom, porque nos recorda o Natal do Menino Jesus.
Mas tudo isto só tem valor se nos ajudar a celebrar o essencial e se os nossos
presentes não abafam ou colocam em último lugar o Presente Principal. E qual é o Presente Principal? “um Menino nasceu para nós, um filho nos
foi dado” (Isaías); “nasceu-vos hoje
na cidade de David um Salvador que ó Cristo Senhor” (Lucas). Ele é a vinda
entre nós da “imagem de Deus -
Invisível, primogénito de toda a criação”; Ele é a “ graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens” (Carta
a Tito); Ele realiza as núpcias definitivas de Deus com a humanidade: “o Teu autor te desposará”, diz a
Escritura. Com Cristo e em Cristo, somos, com Deus, uma só carne. Em Cristo,
somos um só corpo. Com efeito, o corpo da criança do presépio carrega já a humanidade
inteira (Santo Agostinho). Por isso, Lucas descreve o nascimento desta criança
no contexto dum recenseamento de toda a humanidade; Cristo cidadão do mundo.
Mateus faz vir ao presépio os habitantes de longe representados pelos Magos Todos os confins da terra viram a salvação
do nosso Deus!
LOUVAMOS
O DEUS MENINO
Quando,
não considerarmos qualquer pessoa como excluída ou marginalizada: “não havia, para Eles, lugar na
hospedaria”;
Quando,
formos capazes de O adorar com um coração de pobre como os pastores;
Quando,
formos capazes de escapar ao ruído e bulício em que se converteu Natal para
voltar a encontrar, no Presépio, o cumprimento das Promessas de Deus.
Oxalá
que Maria, a Mãe do silêncio que
guardava todas as coisas no coração, nos comova e nos desperte neste Natal. E
que José, o homem justo, nos ensine
também a virtude da fé de que ele foi exímio.
Oxalá
que as nossas famílias saibam acolher, no seu seio, a Jesus que nunca falta com
a sua Paz e alegria.
Apesar
de estarmos num mundo meio adormecido, sintamos em nossos corações, uma ternura
diáfana e profunda que nos leve a exultar de alegria. Que esta alegria não se
confunda com as estridências deste dia de festa, mas que saibamos cantar com
todo o coração, o cântico dos anjos: “glória a Deus nas alturas e paz na terra
aos homens e mulheres de boa vontade…”, esse hino que, cada vez mais, se torna
menos perceptível no coração do nosso mundo, um mundo anestesiado, mas sedento
de amor.
BOAS FESTAS!
P. José Augusto Alves de Sousa, SJ
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