Chegou sem ser
esperado, veio sem ter sido concebido. Só a mãe sabia que era filho de Deus. Só
a mãe sabia que era filho do anúncio de Deus, na voz de um anjo.
Só as mulheres, as
mães, sabem o que é o verbo esperar. O género masculino não tem constância nem
corpo para hospedar esperas. Sinto de novo a agravante de ignorar fisicamente a
voz do verbo esperar. Não por impaciência, mas por falta de capacidade: nem mesmo
durante as febres de malária me acontecia recorrer ao repertório das fantasias
de me curar, de estar à espera de.
Nos despertares
matutinos ao folhear Isaías leio: «Felizes aqueles que o esperam» (Is
30,18). Mas mais forte do que esta notícia, no mesmo versículo está
escrito «Por isso esperará Deus para vos fazer misericórdia». Existe uma
primeira espera, que espera por Deus e tem o mesmo verbo hebraico. Na sua
redução à forma da espécie humana, o Seu tempo infinito contrai-se no finito de
uma espera. Deus espera: «para vos fazer misericórdia».
O tempo de Advento
vive desta imitação, defronte à eternidade de um Deus que aceita fazer-se
tempo, irrompendo no mundo em meses estabelecidos com nascimento, morte e
ressurreição.
Quem tem no seu corpo
os recursos para conceber esperas, conhece do versículo de Isaías a imensidade
da correspondente espera de Deus.
Erri de Luca in Caroço de Azeitona (adpt)
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